24 de agosto de 2021

Café e especiarias, mistura boa na cafeteria e na lavoura

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Do café turco feito com cardamomo ao pumpkin spice latte, café e especiarias são combinados há quase tanto tempo quanto as pessoas conhecem o café. Hoje, os apreciadores de café consomem bebidas feitas com dezenas de especiarias diferentes, incluindo canela, cúrcuma e gengibre.

Porém, a relação entre café e temperos não se limita à cafeteria. Em países produtores de todo o mundo, alguns produtores cultivam especiarias ao lado de seus pés de café por diversos motivos.

Portanto, para saber mais sobre a relação única do café com as especiarias, falamos com dois especialistas em diferentes pontas da cadeia produtiva. Continue lendo para descobrir o que disseram.

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Uma breve história do café e especiarias

Hoje, as especiarias são acessíveis e estão amplamente disponíveis em lojas e supermercados em todo o mundo. No entanto, alguns séculos atrás, muitas delas (como gengibre, açafrão, pimenta e cardamomo) eram raras e incrivelmente caras, muitas vezes ao alcance apenas dos ricos e da elite. 

Embora as especiarias tenham sido cultivadas e usadas por milênios, elas não foram comercializadas internacionalmente até os séculos 14 e 15, quando exploradores partiram da Europa para explorar partes do mundo até então desconhecidas. Quando o fizeram, muitos deles encontraram especiarias novas e incomuns, diferentes de tudo que eles tinham visto no país de origem.

Essas grandes potências europeias começaram a comercializar especiarias em escala internacional por volta do final do século 15. Os historiadores referem-se ao comércio de especiarias como o “início da globalização”, uma vez que estabeleceu rotas de comércio marítimo entre a Europa, China, Índia, Arábia e Norte e Leste da África.

O comércio de especiarias foi um grande contribuinte para o desenvolvimento econômico e cultural global ao longo dos séculos 15 e 16. Muitos comerciantes de especiarias tornaram-se poderosos e ricos em seus países e no exterior; o comércio de especiarias só desacelerou no século 17, quando o café e o chá se tornaram mais procurados na Europa. 

As semelhanças históricas entre café e especiarias (e como eles eram comercializados) são intrigantes. Ambos eram luxos desejáveis ​​e símbolos de status na Europa, e ambos têm uma relação profunda e complicada com o colonialismo e o comércio internacional inicial. Essa semelhança também foi observada quando eles foram negociados pela primeira vez; acredita-se que quando os comerciantes levaram o café para Veneza, ele foi inicialmente considerado uma especiaria. 

Como tal, não é surpreendente que diferentes culturas em todo o mundo preparem café com especiarias, visto que ambos eram itens de luxo associados à riqueza, poder e decadência.

Consequentemente, algumas receitas persistiram por séculos e ainda são amplamente utilizadas hoje. O autêntico café turco e árabe, por exemplo, costuma ser feito com cardamomo, enquanto no Iêmen, os grãos de café às vezes são misturados com hawaj – uma mistura de gengibre, cardamomo, cravo e canela. 

Café com especiarias hoje

Para muitos bebedores de café atuais, no entanto, o conceito de combinar café com especiarias é um tanto novo. Embora historicamente os dois tenham sido combinados por séculos, as bebidas de cafeteria feitas com noz-moscada, açafrão, pimenta da Jamaica e gengibre, apenas como alguns exemplos, tornaram-se incrivelmente populares nos últimos 15 anos. 

Os pumpkin spice lattes (lattes de abóbora com especiarias) chegaram a dominar uma temporada inteira no calendário dos cafés, com dados da Nielsen mostrando que cerca de US $ 600 milhões em produtos com sabor de abóbora foram vendidos em 2018 (quase 5% a mais que no ano anterior).

Tendências recentes indicam que, embora os consumidores escolham essas bebidas por seu sabor novo, muitos também acreditam que as especiarias oferecem valor nutricional e certos benefícios à saúde. A cúrcuma, por exemplo, é um forte antioxidante com propriedades anti-inflamatórias, enquanto o gengibre pode ser usado como auxiliar digestivo. 

É importante notar, no entanto, que alguns cafés com especiarias das grandes marcas podem conter altos níveis de açúcar, o que pode superar quaisquer benefícios nutricionais.

Andrés Riveiro é cofundador do Marjaba Café , um café com temática do Oriente Médio em Tegucigalpa, Honduras. Ele conta que, quando seu café foi inaugurado, há seis anos, muitos de seus clientes relutavam em experimentar bebidas com especiarias – ele diz que adoravam ou odiavam e que não havia “meio-termo”.

Hoje, porém, Andrés diz que seus clientes têm um paladar mais desenvolvido, e muitos são capazes de identificar sabores distintos e mais sutis em seu café.

Ele acrescenta que os drinks com especiarias permitem que ele crie uma experiência enriquecedora, em que pode educar os clientes sobre a cultura do Oriente Médio, que é uma grande parte da marca e da identidade de Marjaba.

Ele também usa xícaras de bronze tradicionais e café arábica importado do Kuwait para oferecer uma “experiência mais autêntica”.

“O café com cardamomo que servimos é uma bebida tradicional de estilo palestino”, diz Andrés. “É como [é preparado] na Jordânia, Palestina, Líbano e Egito.”

Andrés me conta que, ao fazer bebidas com especiarias para os clientes, ele tenta adicionar apenas especiarias e sabores que acha que vão agradá-los, e observa que gengibre e canela são dois dos mais populares. No entanto, acrescenta que também fez experiências com outras especiarias, incluindo açafrão e mahleb , um tempero feito com sementes de cereja selvagem.

Como café e especiarias se conectam na origem?

Para os produtores de café, porém, especiarias e café têm uma relação fundamentalmente diferente. Em todo o mundo, alguns agricultores praticam o consórcio com plantas de café e especiarias para uma série de benefícios de longo e curto prazo. 

O consórcio é quando duas ou mais safras são cultivadas lado a lado para aumentar a produção do agricultor por hectare. Geralmente é escolhido quando os produtores têm propriedades menores e acesso limitado a insumos agrícolas (como fertilizantes). Embora cuidar de uma população mais densa de plantas diferentes exija muito trabalho, o consórcio com plantas de especiarias pode aumentar o rendimento da colheita e a fertilidade do solo. 

José Ángel Zavala Buechsel é engenheiro e coordenador da 6ª Região da ANACAFE (Asociación Nacional de Café) no norte da Guatemala. Ele conta que a maioria dos produtores só recebe uma renda por sua safra após a colheita, deixando-os sem uma fonte confiável de dinheiro durante a entressafra.

Esses produtores podem usar o consórcio para gerar renda fora dos períodos de colheita, levando a uma maior estabilidade para sua propriedade. Com uma gama mais diversificada de fluxos de renda, os produtores se tornam financeiramente mais estáveis, o que significa que podem melhorar suas condições de vida, reinvestir em sua fazenda e usar seus recursos naturais de forma mais eficiente. 

Por exemplo, enquanto a temporada de colheita de café na Guatemala vai de novembro a abril, a de pimenta-da-Jamaica pode ser colhida em julho e agosto. 

“O consórcio ajuda a melhorar a sustentabilidade econômica, ambiental e social”, afirma José Ángel. “[No consórcio], desenhamos cada talhão distribuindo as safras de acordo com seu desenvolvimento. Cada cultura tem um manejo agronômico adequado, porque cada uma tem uma produção adequada. ”

Ele diz que isso também ajuda a garantir que as terras da fazenda continuem produtivas por muitos anos. “O consórcio ajuda a conservar a qualidade do solo”, explica. “Cada cultura requer diferentes quantidades de nutrientes.O consórcio equilibra o solo reciclando os nutrientes que cada colheita extrai e, em seguida, os retorna ao solo como matéria orgânica.”

Quais especiarias os produtores usam para cultivo consorciado?

José Ángel disse que pimenta-da-Jamaica, cardamomo e cravo são especiarias populares para cultivo consorciado.

O cravo e a pimenta-da-Jamaica são cultivados no que José Ángel chama de “sistemas consorciados mistos”, que não têm arranjos de fileiras distintos. Eles são frequentemente encontrados em propriedades com menos de 0,35 hectares. 

O cardamomo, no entanto, é frequentemente cultivado em um sistema consorciado em linha, permitindo que os agricultores cultivem e colham individualmente cada “linha”. Isso significa que o cardamomo e o café podem atingir seu potencial total individualmente, o que significa que não competem por espaço, nutrientes ou luz. 

As especiarias e o café têm uma relação rica tanto no preparo quanto no cultivo, e estão fundamentalmente ligados em escala internacional há centenas de anos.

Hoje, é fácil reconhecer que as especiarias têm um papel único em diferentes estágios da cadeia produtiva do café. No entanto, seja apoiando os produtores por meio da diversificação de safras ou dando sabor ao seu latte, o café e as especiarias têm uma relação única que foi cultivada por séculos de comércio internacional. 

Créditos: Foam, Marco Verch, Gabriele Stravinskaite, Jean-Pierre Dalbéra, Forest & Kim Starr, Tomasz Laskowski.

Tradução: Ana Paula Rosas.

PDG Brasil

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