31 de março de 2023

Aquisições estão se tornando mais comuns na indústria do café?

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Aquisições são comuns em todos os tipos de indústrias ao redor do mundo, e o setor de café não é exceção. Nos últimos anos, temos visto uma tendência crescente de marcas multinacionais de café adquirindo redes de cafeterias e torrefações focadas em cafés especiais.

Muitos estão se perguntando se esta consolidação do mercado é o início de uma mudança mais ampla para a indústria, e se o café especial pode ser dominado por holdings, em vez de distribuído entre uma grande variedade de marcas de menor porte.

No entanto, é claro que a Covid-19 mudou o modo como as empresas de café operam, o que acaba influenciando os motivos por trás dessas aquisições. Com cada vez mais empresas do setor de café buscando oportunidades garantidas de crescimento, a aquisição de marcas desse segmento de marcado pode ser um caminho a seguir.

Para entender por que as aquisições de empresas de café estão se tornando cada vez mais comuns e o que essa mudança pode significar para o mercado global de café, conversei com vários especialistas do setor. Continue a ler para saber o que eles disseram.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre como abrir e gerenciar várias cafeteroas de forma eficaz.

pacotes de café da Starbucks em prateleira de mercado

O que são fusões e aquisições?

Fusões e aquisições são comumente agrupadas quando se fala sobre a transferência de propriedade de negócios ou sua consolidação dentro do mercado. Mas quais são as principais diferenças?

Resumidamente, uma fusão é um acordo entre duas empresas para se unirem e formarem uma única empresa. Isso é feito por uma série de razões, incluindo a ampliação do alcance o aumento na participação de mercado.

Aquisições, entretanto, acontecem quando uma empresa compra algumas ou todas as ações de outra. Nesse caso, as empresas tanto podem manter seus próprios nomes e marcas, quanto abrir caminho para que haja a absorção de uma das marcas pela outra.

Há muitas razões pelas quais as empresas optam por comprar ações de outros negócios ou permitir que suas ações sejam adquiridas. Assim como nas fusões, as maiores razões são expandir ou diversificar seu alcance e ter acesso a novos mercados usando a experiência pré-existente de outra marca.

Alternativamente, as empresas podem adquirir outras marcas para obter acesso a novas tecnologias ou propriedades intelectuais. Isso não só pode ajudar uma empresa a acompanhar os concorrentes, mas também permitir a contratação mais rápida de funcionários e o acesso a recursos necessários para lançar novos produtos e serviços.

Embalagens de café da marca Stumptown, que passou por processo de aquisição, em prateleira

Principais aquisições recentes no setor cafeeiro

Ao longo da última década, houve uma série de aquisições significativas na indústria do café – incluindo grandes redes e marcas menores de cafés especiais. Isso demonstra que o interesse corporativo em marcas de café especial tem aumentado na última década.

Um dos exemplos mais significativos aconteceu em 2019, quando a Coca-Cola adquiriu a rede de café britânica Costa Coffee por cerca de US$ 5 bilhões. A aquisição foi impulsionada por uma série de fatores, mas possivelmente porque o consumo de refrigerantes gaseificados nos EUA atingiu o menor volume em 30 anos em 2017.

Em 2021, a Coca-Cola HBC (terceira maior engarrafadora de produtos Coca-Cola do mundo) comprou uma participação de 30% na Caffè Vergnano – uma das torrefações de café mais antigas da Itália.

Outro exemplo é a Nestlé, que comprou uma participação majoritária na Blue Bottle Coffee, uma torrefação de café especial que atua nos EUA e no Japão, em 2017.

Em 2012, o conglomerado alemão JAB Holding Company adquiriu a Peet ‘s Coffee de São Francisco – pioneira na indústria do café especial. Três anos depois, a Peet’s comprou o Stumptown Coffee Roasters, torrefação especial de destaque em Portland, Oregon. A JAB Holding também adquiriu a cadeia de café e alimentos para viagem Pret A Manger, em 2018.

Em termos gerais, essas aquisições de marcas de café são um meio de expandir para novos mercados (como o café especial), aproveitando a experiência existente e as marcas estabelecidas. Por exemplo, a Starbucks e a Blue Bottle oferecem produtos diferentes para duas bases de consumidores muito diferentes, proporcionando-lhes alcance em dois segmentos de mercado importantes (e lucrativos).

As aquisições também podem ajudar as marcas existentes a se mudarem para novos mercados internacionais. Por exemplo, a empresa internacional de alimentos e ingredientes OFI concluiu a aquisição da empresa canadense de torradas e embalagens de café de 116 anos Club Coffee no início de 2022. Por fim, isso dá à empresa a chance de expansão na América do Norte (um dos maiores mercados globais de café), mantendo a experiência do Club Coffee e a imagem de marca estabelecida.

Executivo de marca de café comemora aquisição de sua companhia em frente a painel da bolsa de NY

A Covid-19 mudou as coisas?

Embora o movimento de fusões e aquisições entre marcas de café venha se intensificando há mais de uma década, a Covid-19 certamente influenciou as estratégias de muitas empresas.

No início da pandemia, 95% dos negócios de café fora de casa foram forçados a fechar as operações por vários meses. Naturalmente, isso resultou em um enorme aumento no consumo de café em casa, à medida que os consumidores começaram a preparar mais bebidas de café com qualidade em casa.

Sem dúvida, as empresas maiores passaram a querer capitalizar esta mudança no comportamento do consumidor de café, mas essa missão não seria fácil.

Umberto Doglioni Majer é presidente e diretor-executivo da Vea Ventures, uma holding que possui várias marcas de máquinas de café, incluindo Carimali, Elektra e Bellezza.

Ele explica que pode ser difícil escalar rapidamente o alcance de uma marca de café especial devido aos desafios inerentes que vêm com ela, como a obtenção de café de alta qualidade e rastreável.

Segundo ele, as empresas de café especial podem ser consideradas empresas em crescimento. “Este termo descreve marcas menores que empresas maiores podem adquirir como plataformas para construir. No entanto, os retornos de um investimento como esse geralmente não acontecem rapidamente. Pode levar anos para gerar lucro”, afirma.

Umberto diz que muitas empresas maiores estão agora buscando oportunidades de crescimento com uma melhor chance de sucesso. Em sua experiência, ele diz que isso significa adquirir ações de marcas mais estabelecidas, com um histórico comprovado de lucratividade e uma base de clientes leal.

Ele afirma que fatores como a pandemia, o aumento da inflação e as quedas no mercado de ações levaram a um aumento do interesse em adquirir empresas mais estabelecidas. “Isso porque essas marcas já terão melhores margens de lucro e maiores bases de consumidores”, acrescenta.

Balcão da cafeteria Blue Bottle, que passou por processo de aquisição recentemente.

As marcas de café especial se manterão competitivas se o mercado se consolidar?

O atual clima econômico para as pequenas empresas de café é, no mínimo, desafiador. O mercado atingiu recentemente a maior alta em 10 anos, o transporte é incrivelmente caro e as margens de lucro para os torrefadores aumentaram nos últimos meses.

Isso tornou mais difícil para os torrefadores e cafés menores se manterem lucrativos, e menos poder de compra significa que eles podem ter dificuldade em competir com marcas mais estabelecidas que foram adquiridas por uma multinacional.

Então, o que eles podem fazer para competir? Em alguns casos, as empresas de café menores podem se fundir.

Por exemplo, a Fairwave é um coletivo de marcas de café especial que decidiram se fundir após a pandemia. Ele foi formado pelas empresas The Roasterie, Messenger Coffee Company e Spyhouse Coffee Roasters.

No entanto, a consolidação de marcas não acontece apenas por meio de aquisições e fusões – também pode ocorrer por meio de parcerias estratégicas e iniciativas de serviços compartilhados. 

Um exemplo é o The Curate Coffee Collective, uma instalação de torrefação compartilhada em Portland (EUA). Desde 2020 ela está aberta a torrefadores de todos os tamanhos e oferece acesso a equipamentos e espaço de escritório, bem como recursos educacionais. 

No entanto, esse modelo não é tão comum na indústria do café – particularmente no setor de café especial.

De acordo com Spencer Turer, vice-presidente da consultoria de café Coffee Enterprises, apesar de ser difícil para as marcas de café menores permanecerem lucrativas, fusões e aquisições podem nem sempre ser a melhor solução.

“A espinha dorsal da indústria do café especial ainda é formada, na maioria das vezes, por pequenas empresas regionais”, explica. “Se esses torrefadores e cafés têm as habilidades, o conhecimento e a experiência – e são bem-sucedidos no que fazem – então por que eles deveriam se fundirem ou serem adquiridos por uma empresa maior?”

Embora fusões e aquisições com marcas maiores certamente possam ajudar marcas de café menores a crescer e alcançar novas bases de consumidores, também existem preocupações compreensíveis sobre como o controle de qualidade pode ser dimensionado e mantido.

Latas de cold brew da Blue Bottle

Nos meses e anos seguintes à pandemia da Covid-19, veremos como as fusões e aquisições prevalecerão no café especial – especialmente se o mundo caminhar para um período definido por uma recessão econômica global. 

É claro que a consolidação por meio de aquisições e fusões continuará, no entanto, a fazer parte da conversa sobre como o setor evolui e se encaminha para o futuro. Isso levanta questões sobre como as empresas regionais menores podem permanecer lucrativas.

Contudo, para cafés e torrefadores menores, o mais importante é entender como você pode continuar a atrair sua base de clientes. Em alguns casos, isso pode significar inovar conforme as tendências do café da terceira onda, mas em outros, pode significar apenas ouvir o que os consumidores querem de você – e atender a isso de acordo.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre como mudar a estratégia de café do seu negócio após a Covid-19.

PDG Brasil

traduzido por Daniela Melfi

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