Frete no Brasil: por que tão caro?
Muito tem se falado do alto custo de produção para o produtor de café e o sobe-e-desce dos combustíveis, que, aliado a mais uma série de fatores, acabaram elevando os preços também para outras pontas da cadeia.
Um exemplo foi o frete rodoviário, com mais de 50% de valorização em seus itens de composição, trazendo novos desafios não só para os produtores, mas também para o setor de torrefação, principalmente os que estão localizados em pontos mais distantes das origens produtoras.
O PDG Brasil foi buscar entender por que o frete no Brasil é tão caro. Siga lendo para saber o que nossos entrevistados disseram.
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Muitos fatores
Quando se observa o macroeconômico, que vem puxando a alta dos custos, da inflação, muitos fatores têm influenciado para a valorização expressiva nos custos do frete rodoviário no Brasil.
De acordo com os dados da Fretebras, só nos últimos 12 meses o frete rodoviário no Brasil foi puxado principalmente pela alta dos insumos, como pneu, lubrificante, entre outros, mas principalmente pelo aumento do diesel registrado nesse período.
“Porém, vemos que de maio 2021 a maio 2022, o frete no geral nacional, aumentou cerca de 3,8%, enquanto o diesel, principal insumo do transporte rodoviário, aumentou 53%. Vemos, também, que os caminhoneiros têm negociado, mas estão mais atentos aos fretes que de fato valem a pena”, destacou Bruno Hacad, diretor de Operações da Fretebras ao PDG Brasil.
“As transportadoras têm negociado também os contratos com embarcadores, colocando gatilhos de ajuste de acordo com o aumento do combustível.”
Desde o dia 24 de fevereiro o mundo sente os impactos do conflito político entre Rússia e Ucrânia, que desde então vem impactando a alta no combustível. Porém, o especialista explica que, apesar do impulso ocasionado pela guerra, a alta já era uma realidade para o setor, devido ao rompimento de cadeias logísticas por causa da pandemia.
Com a leve redução no valor do diesel, ocorrida no último mês, esse cenário deve ter uma melhora. Mas ainda incipiente. Segundo dados do Ministério da Infraestrutura, a malha ferroviária federal do Brasil tem uma extensão de 75,8 mil quilômetros. Se tratando de um país continental, com margem territorial tão extensa como o Brasil, é comum observar diferentes variações no custo de frete.
Sudeste sofreu mais
Os dados da Fretebras mostram que a região Sudeste, justamente a maior produtora de café do Brasil, foi a que mais sentiu a alta dos fretes, com valorização de mais de 7% no período, puxada principalmente pelos produtos industrializados.
“Nós monitoramos três grandes setores que juntos somam mais de 50% do PIB. São eles: produtos industrializados, agronegócios e construção. O primeiro (industrializado) foi, de fato, o que registrou maior aumento no preço do frete por km rodado / eixo, quando comparamos maio 2021 x maio 2022. Foi de quase 5%. Naturalmente, como o Sudeste é uma das regiões mais industrializadas, vimos esse aumento no preço do frete”, explica.
Para ele, outro impacto importante tem a ver com a exportação de commodities. “A Ucrânia e a Rússia são grandes exportadores do agronegócio e, naturalmente, com o bloqueio do comércio internacional com esses países, o mundo olha para outros grandes produtores, como o Brasil. O preço dos grãos lá fora aumenta, a variação cambial é positiva para a exportação, com o dólar em alta, então vemos mais produtores brasileiros destinando uma parte maior da produção para a exportação”, acrescenta.
Digitalização
Bruno comenta ainda que a pandemia forçou para que o setor se tornasse mais digital, o que inclusive ajudou na redução de custos. Segundo a Fretebras, tanto caminhoneiros, como transportadores passaram a adotar soluções digitais, que resultaram em economia de 20 a 30% nos custos do transporte.
“Ao buscar caminhoneiros autônomos por meio da nossa plataforma, quando comparado com o aumento da frota própria, por exemplo. Os caminhoneiros também estão mais atentos ao uso dos aplicativos de fretes. Na nossa plataforma, superamos a marca dos 720 mil caminhoneiros ativos, o que representa 47% da frota de autônomos do Brasil”, complementa.
Crescimento no índice de fretes
É importante destacar que, inclusive, um estudo realizado pela Fretrebras mostrou que o transporte rodoviário no Sudeste do Brasil cresceu 42% na comparação com o mesmo período em 2021, o que, segundo porta-voz, mostra que a maior região produtora de café do Brasil, está também cada vez mais digitalizada quando o assunto é transporte de carga.
O levantamento mostra que a alta no período foi de 70,1% na plataforma da Fretebras, que é atualmente a maior plataforma online de transporte de cargas da América Latina. Outro importante estado produtor, o Espírito Santo, aparece na sequência com avanço de 43,8%. São Paulo também apareceu na lista com alta de 26,2% no período.
“O que temos notado é que o Sudeste está cada vez mais digitalizado, com as transportadoras e os caminhoneiros autônomos utilizando plataformas online para realizar os fretes. Por conta disso, a gente consegue monitorar melhor as movimentações e ajudar eles com um transporte mais seguro e eficiente”, destaca o diretor de operações.
Quando consideramos todo o país, o volume de frete na plataforma no primeiro trimestre deste ano teve alta de 36,8%. Os dados mostraram que as regiões Centro-Oeste e Sul (com altas de 65,1% e 10,2%, respectivamente) ajudaram a puxar esse crescimento, junto da região Sudeste, pela representatividade dos fretes movimentados nessas localidades. Ao todo foram distribuídos R$ 18 bilhões em fretes de janeiro a março de 2022.
“O grande fator que está por trás da digitalização das rotas é a pressão da inflação sobre os custos do transporte, puxada principalmente pela alta do diesel [verificada até agosto deste ano]. O mercado tem notado que a contratação de autônomos usando aplicativos de frete, como o nosso, tem gerado economias de 20 a 30% quando comparado com frota própria. Por isso, grandes setores como agro, construção e indústria apostam por este tipo de solução”, reforça.
Sobre a metodologia do estudo
Pela primeira vez, o estudo buscou entender quais são as rotas que estão mais digitalizadas, ou seja, onde os transportadores têm olhado com mais frequência para a busca de caminhoneiros autônomos para o transporte de suas cargas.
Os dados que compõem a 7ª edição do “Relatório Fretebras – O Transporte Rodoviário de Cargas” têm base no fluxo de dados da Fretebras. Com mais de 695 mil caminhoneiros cadastrados e 18 mil empresas assinantes, os fretes publicados na plataforma cobrem 95% do território nacional.
Piso mínimo do frete rodoviário tem reajuste
No último dia 19 de julho a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) divulgou novo reajuste na tabela de piso mínimo de frete do transporte rodoviário, que vai de 0,87% até 1,96%.
A atualização está dentro da regra de que a agência deve realizar os reajustes até os dias 20 de janeiro e 20 de julho de cada ano.
Veja o histórico da lei
Histórico – A Lei nº 13.703, de 8 de agosto de 2018, que instituiu a Política Nacional de Pisos Mínimos do Transporte Rodoviário de Cargas (PNPM-TRC), determinou que compete à Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT publicar norma com os pisos mínimos referentes ao quilômetro rodado na realização de fretes, por eixo carregado, consideradas as distâncias e as especificidades das cargas definidas no art. 3º da Lei.
O parágrafo 1º do artigo 5º da Lei nº 13.703/2018 estabelece que a ANTT deverá publicar nova tabela com os coeficientes de pisos mínimos atualizados, até os dias 20 de janeiro e 20 de julho de cada ano, estando tais valores válidos para o semestre em que a norma for editada. Por sua vez, o parágrafo 2º do artigo 5º estabelece que na hipótese de a norma não ser publicada nos prazos estabelecidos no § 1º, os valores anteriores permanecerão válidos, atualizados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ou por outro que o substitua, no período acumulado.
Bruno destaca que muitos fatores continuarão influenciando a formação dos preços do frete rodoviário, um cenário muito semelhante ao que vem acontecendo no mercado de café, seja externo ou interno.
Enquanto o mercado aguarda pelo número oficial da safra brasileira, resolução efetiva dos problemas logísticos e acompanha os impactos da guerra no Leste Europeu na economia global para saber a direção dos preços e dos negócios, o analista afirma que fatores como político-econômicos, climáticos e ambientais continuarão no radar do setor ditando o ritmo dos preços, pelo menos, no longo prazo.
“Precisamos acompanhar de perto as variações do combustível, a inflação e os juros, a guerra da Ucrânia e agora, também, a questão das exportações e importações da China. Internamente, todos os olhos se voltam para as eleições que se aproximam. Para tentar controlar um pouco as variáveis, é importante as empresas e caminhoneiros se digitalizarem cada vez mais, porque o uso de ferramentas digitais permite maior controle, maior acesso à informação”, acrescenta.
Créditos: Acervo CNA (caminhão/destaque; produtora removendo café no terreiro; produtor com trem ao fundo; caminhão com torre de eletricidade); Projeto Café Gato Mourisco (vista de fazenda de café em São Sebastião da Grama); Hannes Egler (portões de desembarque de mercadorias); Marcin Jozwiak (vista aérea de caminhões estacionados); Annie Spratt (cafeteira moka e xícara).
PDG Brasil
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