Como será o armazém de café do futuro?
Sacas furadas, cafés deteriorando, aromas indesejáveis, dificuldade na movimentação ao estocar… são inúmeros os desafios para se realizar um bom armazenamento do café. Questões que preocupam há séculos quem comercializa café verde.
Mesmo no caso das big bags, criadas mais recentemente e com capacidade de até 1.500 kg (em vez dos 60 kg das sacas tradicionais), há um desafio de transporte e empilhamento. Enfim, existem muitos motivos para se buscar novas soluções para armazéns de café, especialmente os que trabalham com grandes volumes.
Algumas opções já despontam no mercado, como a automação e a granelização, sinalizando alguns passos de como será o armazém de café do futuro.
O PDG Brasil conversou com três especialistas para aprofundar esse tema: Juarez Magalhães, da consultoria Múltipla Agro, Tales Silva Costa, da Cooxupé, e Carlos Henrique Palini, da Palinialves. Continue lendo para saber o que eles nos contaram.
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A importância do armazenamento de café bem-feito
O café é um produto que, mesmo após colhido e processado, continua vivo. Se mal armazenado, pode sofrer alterações causadas por trocas de umidade com o ambiente, infestação por insetos, além de outros fatores que podem favorecer a contaminação e a deterioração por fungos. Um dos principais objetivos do armazenamento é exatamente preservar as características originais do produto sem essas interferências até ele ser entregue ao cliente.
Tales Silva Costa é gerente de operações da Cooxupé, a maior cooperativa de café do mundo. A empresa conta com mais de 15 mil cooperados e, apenas em 2020, embarcou cerca de 6 milhões de sacas de café. Tales é o responsável pelo armazenamento e pela operação do café na empresa, com plantas no Sul de Minas, no Cerrado Mineiro e na Mogiana Paulista e postos de atendimento em mais de 30 cidades.
“Em todos os projetos que realizamos na Cooxupé, sempre somos muito rigorosos nas escolhas dos equipamentos que iremos comprar e dos parceiros para trabalhar. Pois o café é um tipo de grão que exige muitos cuidados em toda a cadeia produtiva, para que não perca qualidade durante os processos”, explica.
Consultor especializado no setor cafeeiro, Juarez Magalhães, da Múltipla Agro, foi o responsável pelo desenvolvimento de um projeto de modernização e expansão da Costa Café, empresa especializada em exportação e importação. Ele concorda com Tales. “O ponto mais importante do nosso trabalho é manter a qualidade do café comercializado desde a origem, na compra, até o consumidor final”, diz.
Entenda o sistema de granelização para armazenamento
Se o armazenamento é importante, quando falamos em um período de baixa produção, como 2021 e provavelmente 2022, a questão fica ainda mais crucial. É preciso preservar cada grãozinho de café colhido e processado.
Carlos Palini é diretor comercial da Palinialves, empresa especializada na produção e no fornecimento de maquinários e soluções tecnológicas para fazendas e armazéns de café, há 40 anos. Seus clientes são cafeicultores e cafeicultoras de todos os portes, exportadores, cooperativas, associações. Ao visitá-los ao longo dos anos, Carlos percebeu de perto a dificuldade do estoque das sacas.
Perdas de café em volume e qualidade, dezenas de funcionários envolvidos, às vezes com estruturas precárias, falta de controle, falta de espaço, desorganização. “Isso sempre me preocupou. E fiquei pensando como poderíamos ajudar, criar algo que fizesse a diferença na vida desses clientes”, conta. “O caminho foi inovar com soluções tecnológicas e focar na granelização”, diz.
A granelização é um sistema de armazenagem de café à granel, ou seja, em quantidade maior e sem embalagens (sacarias ou big bags). No modelo proposto pela Palinialves, é possível adaptar o modelo tanto para pequenos e médios produtores e para trabalhos com microlotes quanto para volumes abundantes, como os da Cooxupé, por exemplo. A empresa trabalha ainda com formatos customizados, com diversas possibilidades, incluindo até recebimento da carga e escoamento automatizados.
Dessa forma, é possível saber em qual tulha está qual variedade, há quanto tempo e em qual temperatura. É possível também programar a retirada do café, sem danificá-lo e sem ocorrer mistura acidental com outras cargas.
“É uma dinâmica totalmente nova, que traz muitos benefícios: mais segurança, mais agilidade e flexibilidade nas operações, melhor controle e maior capacidade de armazenagem”, explica Carlos. “Além disso, há um aproveitamento mais assertivo do espaço do armazém. E, com todos esses aspectos, há redução considerável no custo operacional e nos custos de mão-de-obra.”
Não adianta inteligência artificial sem inteligência natural
Quando se fala em automação e o uso da tal inteligência artificial, não podemos esquecer da importância da inteligência humana e do uso da estratégia no projeto.
A instalação da granelização em fazendas, armazéns e cooperativas precisa estar adequada às necessidades reais de cada uma dessas empresas e instituições. Por isso, projetos customizados costumam apresentar melhores resultados.
Carlos, da Palinialves, ressalta que “é importante se adaptar às demandas dos clientes. Antes de iniciar o projeto, é preciso avaliar e dimensionar a capacidade de processamento e armazenamento, planejar a instalação e analisar todos os detalhes, dos materiais escolhidos à ocupação do espaço.”
Em alguns casos, são necessários testes e verificações de cada um dos processos de automação, avaliando a performance e a precisão. Foi o que aconteceu no Complexo Industrial Japy, da Cooxupé, em Guaxupé (MG). Em 2019, o armazém passou por uma ampliação e recebeu uma nova estrutura de granelização. Em uma área de mais de 3.300 m2, foram instalados 180 silos, com capacidade total para armazenar 270.000 sacas.
Por conta do porte da instalação, foi realizada uma série de testes antes de partir para a finalização e instalação do projeto. “Precisávamos reduzir custos e aumentar a nossa capacidade de estoque de café preparado no Complexo Japy”, conta Tales.
“O processo de instalação realmente foi bastante desafiador, principalmente na parte de automação, devido à precisão necessária na operação do equipamento. O tripper [esteira transportadora] era um equipamento novo, que ainda não tínhamos trabalhado em nenhuma unidade da Cooxupé. Mas fizemos testes para garantir a eficiência. E, após o início da operação, tivemos certeza de que havíamos feito a melhor escolha.”
Como a tecnologia pode trazer eficiência e economia ao armazém?
Quando falamos de qualquer operação industrial, caso de todo o pós-colheita do café, tempo é dinheiro, e espaço é dinheiro também. Quanto mais ágil for a logística de armazenamento, mais volume de café será escoado e transportado. Quanto mais espaço for otimizado, maior a economia.
Avaliando essa realidade, fica fácil entender por que a granelização contribui para aumentar a eficiência e gerar economia para os armazéns. Juarez Magalhães, que coordenou o projeto da Costa Café, percebeu isso na prática. “Já tínhamos uma experiência de granelização com a Palini e verificamos a economia gerada, por conta da operação com baixo custo de mão-de-obra, e também a grande agilidade”, conta.
Juarez ressalta que o novo projeto foi bastante desafiador, por conta do volume movimentado. “Atualmente essa planta do Sul de Minas é a nossa maior unidade de recebimento de café à granel. No projeto, instalamos 336 silos, com capacidade total para armazenar 392.000 sacas, e todo o sistema de abastecimento e descarga foi mecanizado e automatizado.” Mesmo com esse porte, o modelo mostrou-se eficiente.
Na Cooxupé, a percepção é a mesma. “A granelização trouxe uma redução de custos imensa para a nossa operação, sempre preservando a qualidade do café. Outra grande conquista foi o aumento na produtividade, sem aumentar o custo, graças à possibilidade de movimentar grandes volumes de café com menos trabalhadores, utilizando a automação como ferramenta de apoio. Tudo isso reflete no aumento dos lucros”, conta Tales. “Para nós, a granelização foi fundamental, pois a cada dia a demanda por aumento de capacidade de armazenagem e operacional crescem e desafiam as cooperativas.”
O armazém de café do futuro
Após conversar com os especialistas, identificamos alguns aspectos que já se mostram alinhados com as principais tendências em armazéns de todo o mundo. Veja a seguir o que definirá um armazém de café do futuro.
O armazém de café do futuro oferecerá:
- segurança total para preservar a qualidade do produto;
- alto nível de rapidez e eficiência;
- transformação digital e automatização dos processos, reduzindo custos operacionais e aumentando a eficiência logística;
- inteligência artificial, conferindo aos sistemas capacidade para tomar decisões de forma inteligente e executar operações automatizadas, sem intervenção humana, combinando algoritmos, softwares e machine learning;
- operação sem geração de resíduos;
- ocupação otimizada do espaço.
A operação de armazéns de café é um ponto-chave para preservar a qualidade e a segurança do produto, já que o café é um alimento vivo.
Os armazéns, se bem pensados e com sistemas inteligentes e inovadores, como a granelização, oferecem eficiência e economia no estoque de vários portes e com diferentes necessidades.
No futuro, os armazéns terão de focar cada vez mais no uso de inteligência artificial, mas não poderão perder de vista a importância da estratégia e da experiência de profissionais especializados para a instalação, para a gestão dos maquinários e também para um atendimento de manutenção rápido e eficiente.
Créditos: Palinialves.
Observação: a Palinialves é patrocinadora do PDG Brasil.
PDG Brasil
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