Variedades https://perfectdailygrind.com/pt/category/variedades/ Revista digital sobre café, da fazenda à xícara Wed, 03 Jan 2024 20:30:49 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.2 https://perfectdailygrind.com/pt/wp-content/uploads/sites/5/2020/02/cropped-pdgbr-icon-32x32.png Variedades https://perfectdailygrind.com/pt/category/variedades/ 32 32 O que é Typica Mejorado e qual é o potencial de mercado dessa variedade? https://perfectdailygrind.com/pt/2023/11/17/variedade-cafe-typica-mejorado/ Fri, 17 Nov 2023 11:02:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=13498 Cada vez mais concorrentes têm usado variedades e espécies de café mais exclusivas e raras no Campeonato Mundial de Baristas repetidamente. Vimos isso em 2015, com Sasa Sestic usando Sudan Rume em sua rotina vencedora, o Campeão Mundial de Baristas de 2021, Diego Campos, usando eugenioides e o competidor australiano, Anthony Douglas, ganhando com a […]

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Cada vez mais concorrentes têm usado variedades e espécies de café mais exclusivas e raras no Campeonato Mundial de Baristas repetidamente. Vimos isso em 2015, com Sasa Sestic usando Sudan Rume em sua rotina vencedora, o Campeão Mundial de Baristas de 2021, Diego Campos, usando eugenioides e o competidor australiano, Anthony Douglas, ganhando com a variedade Sidra, por exemplo.

Enquanto isso, no WBC de 2023, vários dos seis principais concorrentes optaram por usar variedades menos conhecidas – incluindo o vencedor Boram Um, com Pink Bourbon, e o vice-campeão Jack Simpson com Ombligon

Representando Hong Kong, o competidor que conquistou o quarto lugar, Dawn Chan, também usou uma variedade mais exclusiva chamada Typica Mejorado. Ele comprou o café da Finca Soledad, no Equador. Não se sabe muito sobre a origem da Typica Mejorado, nem sobre seu potencial de mercado. Para saber mais sobre essa variedade, conversei com José Pepe Jijón, proprietário da Finca Soledad.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre o café Ombligon e se ele se tornará mais popular.

Cerejas de café Typica Mejorado

De onde vem a Typica Mejorado?

Semelhante à variedade Sidra, acredita-se que a variedade Typica Mejorado se originou de uma instalação de reprodução da Nestlé na província de Pichincha, no Equador.

Pepe Jijón é um cafeicultor de primeira geração. Na Finca Soledad, ele cultiva Sidra e Gesha, além da Typica Mejorado. Ele diz que pesquisadores do laboratório de melhoramento de Pichincha importaram diferentes sementes de café (principalmente provenientes da Etiópia) para desenvolver novas variedades híbridas F1. Essas sementes produziram altos rendimentos e boa qualidade de xícara.

Depois disso, diz-se que Don Olger Rogel – que era um técnico de campo e trabalhava no laboratório na época – identificou duas sementes que resultaram nos perfis sensoriais mais desejáveis. Ele os nomeou Sidra e Typica Mejorado e ajudou a espalhar as sementes para fazendas no Equador. “Don Olger forneceu à nossa cooperativa as primeiras sementes Typica Mejorado”, diz Pepe. “Tive a sorte de plantá-las na minha fazenda em 2010.”

Embora seus nomes sejam semelhantes, a Typica e a Typica Mejorado não são relacionadas. É provável que tenha recebido esse nome, pois ambas têm perfil sensorial semelhante, mas muitas vezes a nova variedade apresenta notas de sabor mais complexas e expressivas.

Mudas de café

Onde a Typica Mejorado é cultivada?

A variedade Typica Mejorado é produzida principalmente no Equador, mas também na Costa Rica e na Colômbia. As plantas geralmente são altas, mas seu rendimento é baixo. Pepe explica que as plantas são muito parecidas com a Gesha. “Você seria incapaz de dizer a diferença se tivesse uma planta Typica Mejorado ao lado de uma planta Gesha”, diz.

As sementes (ou grãos) das plantas Typica Mejorado, no entanto, não são todas do mesmo tamanho. Alguns são mais longos (semelhantes a Gesha), enquanto outros são muito menores. Pepe explica que isso ocorre porque a altitude e o terroir têm um grande impacto na forma como as plantas Typica Mejorado se desenvolvem e crescem.

Algumas das plantas mais antigas de Typica Mejorado no Equador estão ma Finca La Soledad. “Ainda tenho algumas das árvores-mãe das quais continuo a tirar sementes, pois elas se adaptaram tão bem ao terroir”, diz Pepe. “No entanto, assim como a Gesha e as variedades de herança, a Typica Mejorado é muito suscetível a mudanças ambientais, como chuva excessiva e exposição à luz solar. 

“As plantas também tendem a ter um sistema radicular ruim, também semelhante à Gesha”, ele acrescenta. “Mas após cultivar a Typica Mejorado por 13 anos, a variedade evoluiu para se tornar mais resistente a certas pragas e doenças.”

Apresentação do barista Dawn Chan no WBC 2023

Perfis sensoriais comuns

De modo geral, a Typica Mejorado tem um perfil de sabor muito interessante e único. Na verdade, alguns profissionais do café dizem que até preferem a Gesha. “A variedade apresenta notas cítricas e de frutas vermelhas muito limpas e é muito semelhante à Gesha em termos de sabor”, diz Pepe. “Você pode realmente brincar com este café e usar diferentes técnicas de processamento, e permitir que ele realmente brilhe.”

No WBC de 2023, Dawn Chan, da Wanwan Coffee Roasters, usou o Typica Mejorado, da Finca Soledad. Durante sua apresentação que o levou ao 5º lugar, Dawn disse que escolheu a variedade porque era uma nova experiência sensorial para ele. E também permitiu que ele melhorasse suas habilidades de preparo.

 O café usado por ele foi Typica Mejorado Tyoxidator. Ele é nomeado assim devido a uma técnica de processamento usada na Finca Soledad, que é semelhante ao método lavado. “Esse café tem um sabor incrivelmente doce, e é por isso que as pessoas adoram”, explica Pepe. “Essencialmente, fermentamos aerobicamente as cerejas em recipientes abertos e depois as despolpamos. Depois disso, fermentamos anaerobicamente o café na mucilagem para criar um café muito doce.”

Por fim, o café é lavado e depois seco, e Pepe ressalta que é importante não submergir as cerejas em água no início do método de processamento do tyoxidator. “Não lavamos as cerejas porque acho que é invasivo para os sabores do café”, diz. “Em vez disso, queremos que todas as leveduras e bactérias naturais no tanque de fermentação influenciem os sabores do café.”

Quando se trata de torrao, Pepe diz que o Typica Mejorado não precisa de um perfil específico. Ele sugere ajustar o desenvolvimento da torra conforme os diferentes tamanhos e densidades dos grãos.

Mãos segurando uma grande porção de grãos de café torrados

Qual é o potencial de mercado da Typica Mejorado?

O potencial de qualidade do Typica Mejorado é inegável. Mas ele pode começar a aparecer com mais frequência nas cafeterias? Dado que produz rendimentos tão baixos, é improvável que o Typica Mejorado apareça em mais cardápios no curto prazo. No entanto, além de ser usada no WBC de 2023, a variedade também ficou em primeiro, terceiro e quarto lugar na competição Cup of Excellence de 2021.

“Pessoas do mundo todo estão pedindo sementes de Typica Mejorado”, diz Pepe. “Acho que é resultado do belo perfil de sabor do café e do trabalho árduo dos agricultores no Equador, que conseguiram mostrar o que esses cafés podem fazer.” Pepe diz ainda que  Dawn, no WBC 2023, não estava apenas destacando o Typica Mejorado, mas também o potencial de qualidade do café equatoriano. Ele explica que isso está incentivando uma nova geração de jovens a trabalhar na produção de café.

“Meu filho tem 18 anos e, há cinco ou seis anos, ele não queria trabalhar com café porque via como eu lutava”, diz Pepe. “Mas agora que estou recebendo apoio da comunidade internacional de cafés especiais e melhorando a comercialização do meu café, meu filho se interessou e está me ajudando na fazenda. Não tenho certeza se ele trabalhará no setor cafeeiro a longo prazo, mas certamente está se apaixonando pelo café graças ao Typica Mejorado e ao Sidra”, acrescenta.

Um caminho semelhante ao da Gesha?

Quanto ao seu potencial de mercado no futuro, Pepe acredita que o Typica Mejorado poderia se tornar tão popular quanto o Sidra. Essa variedade se tornou mais conhecida após o barista campeão mundial de 2022, Anthony Douglas, usá-la em sua apresentação vencedora, com aparentemente mais e mais cafeterias servindo-a.

Além disso, Pepe acha que a Typica Mejorado pode seguir um caminho semelhante à Gesha. “A Gesha não era tão popular quando era cultivada na Etiópia ou na Costa Rica, mas tornou-se muito famosa quando produzida no Panamá”, diz ele. “Demorou de 20 a 25 anos para os produtores começarem a mostrar mais das suas características altamente florais”.

“Acho que a Typica Mejorado e a Sidra estão no mesmo caminho”, acrescenta. “Ainda não descobrimos todo o potencial dessa variedade e da Sidra porque só os cultivamos há dez anos, mas elas já são uma grande promessa.”

Barista Dawn Chan durante sua apresentação no WBC 2023, em que usou a variedade Typica Mejorado

Como acontece com muitas outras variedades mais exclusivas, a empolgação com a Typica Mejorado está crescendo em cafés especiais. Com um potencial de xícara de alta qualidade, certamente é um café no qual devemos prestar atenção.

No entanto, com rendimentos menores e plantas que cultivam grãos de tamanhos diferentes, é improvável que os produtores no Equador e além possam escalar a produção de forma sustentável em breve.

Gostou? Então leia nosso artigo sobre o café Sidra.

Créditos das fotos: Jose Pepe Jijon, Specialty Coffee Association

Tradução: Daniela Melfi.

PDG Brasil

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Baixo teor de cafeína: conheça a variedade AC1 https://perfectdailygrind.com/pt/2023/11/10/cafe-baixo-teor-de-cafeina/ Fri, 10 Nov 2023 11:05:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=13472 Nos últimos anos, o interesse por variedades com baixo teor de cafeína cresceu. Temos visto cada vez mais cafés com baixa cafeína como a Laurina e a Aramosa, disponíveis em cafeterias e em leilões de alta qualidade. Na verdade, o primeiro até ganhou a World Brewers Cup em 2018. Essas variedades de qualidade têm muito […]

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Nos últimos anos, o interesse por variedades com baixo teor de cafeína cresceu. Temos visto cada vez mais cafés com baixa cafeína como a Laurina e a Aramosa, disponíveis em cafeterias e em leilões de alta qualidade. Na verdade, o primeiro até ganhou a World Brewers Cup em 2018. Essas variedades de qualidade têm muito potencial no mercado de cafés especiais. Principalmente considerando que o mercado para cafés com baixo teor de cafeína de alta qualidade está crescendo de forma lenta, mas constante. 

Outra variedade de café que naturalmente apresenta baixos níveis de cafeína é a AC1, que contém cerca de 0,76 mg de cafeína por grama. Para efeitos de comparação, o arábica normalmente apresenta média de 8 a 12 mg/g. Descoberta na Etiópia, ela despertou o interesse do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), que realizou uma extensa pesquisa para entender melhor seu potencial de mercado. E também houve alguns resultados promissores. 

Para saber mais sobre essa variedade, conversei com o Dr. Julio Mistro, pesquisador do IAC, e Kenean Dukamo, chefe de café do exportador etíope Daye Bensa. Continue lendo para saber mais.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre o café Laurina.

Ramos com frutos da variedade AC1

De onde vem a variedade AC1?

Há cerca de 60 anos, um grupo de agrônomos e pesquisadores da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura viajou para a Etiópia. Eles coletaram 621 variações de sementes de arábica, compartilhadas com institutos de pesquisa em todo o mundo. Estes incluíram o Centro Tropical de Pesquisa Agrícola e Ensino Superior (Catie) na Costa Rica.

O Dr. Alcides Carvalho – pesquisador do IAC na época – solicitou algumas das sementes enviadas ao Catie, que foram plantadas na Fazenda Santa Elisa, em Campinas, Brasil, em 1973. Cerca de 26 anos depois, a pesquisadora do IAC, Maria Bernadete Silvarolla, identificou três plantas de arábica que produziam café com o teor de cafeína muito baixo. Elas são as variedades AC1, AC2 e AC3.

O Dr. Julio Mistro lidera o projeto de pesquisa sobre a Fazenda Santa Elisa. Segundo ele, a AC1 é uma planta alta, com ramos menos angulares do que outras variedades e tem rendimento relativamente baixo. “A variedade é moderadamente tolerante à ferrugem das folhas de café, mas é muito sensível a temperaturas mais altas e condições secas”, diz.

Pesquisas sobre a AC1

Em um estudo de 2011 intitulado Caracterização do AC1: um café naturalmente descafeinado, pesquisadores do IAC compararam o AC1 ao Mundo Novo. Esta variedade é um cruzamento natural entre Bourbon e Typica, popular no Brasil. Os pesquisadores escolheram o Mundo Novo devido ao seu teor relativamente baixo de cafeína (entre 1% e 1,2%).

Os pesquisadores compararam uma série de fatores entre as duas variedades, incluindo o desenvolvimento:

  • do crescimento de cereja;
  • dos açúcares;
  • dos ácidos orgânicos;
  • dos aminoácidos;
  • dos compostos fenólicos.

Embora as cerejas de AC1 sejam menores que as do Mundo Novo, existem muitas semelhanças na composição química entre as duas variedades. Por fim, isso levou os pesquisadores a concluir que há potencial para a variedade AC1 no mercado global de café.

Família em frente a um terreiro suspenso de secagem de café

Existe mercado para variedades com baixo teor de cafeína?

Embora as variedades naturalmente com baixo teor de cafeína sejam uma descoberta relativamente nova na indústria global do café, o café descafeinado é imensamente popular. Segundo a empresa de pesquisa SkyQuest, o valor do mercado global de café descafeinado chegará a US$ 28,86 bilhões até 2030.

Embora o consumo moderado de cafeína seja seguro para a maioria dos consumidores, há muitas razões pelas quais as pessoas optam por café descafeinado. Isso inclui alergias e problemas de saúde – especialmente sobre os processos usados para remover a cafeína do café verde.

Essas preocupações decorrem na maioria das vezes de antigos processos que usavam cloreto de metila de solvente químico para remover a cafeína. Quando consumido em grandes quantidades, o cloreto de metila pode ser tóxico – o que levou muitas empresas a parar de usar esse solvente químico.

Diferentes processos de descafeinação

Hoje, existem várias maneiras seguras de descafeinar o café, e cada uma tem seu impacto no sabor e na qualidade do café. O método mais comum é o processo Swiss Water, que está em uso comercial desde a década de 1970 e usa água doce acrescida de compostos solúveis de café verde (além da cafeína removida usando um filtro de carbono). Esta mistura é referida como extrato de café verde (GCE).

O café verde é então embebido nesta mistura por até dez horas, o que permite que os compostos de cafeína sejam transferidos dos grãos verdes para o GCE. Isso deixa cerca de 0,01% do teor de cafeína residual nos grãos.

Para muitos profissionais de cafés especiais, o método de descafeinação Swiss Water preserva a maioria das características inerentes ao café. Além disso, é uma das maneiras mais seguras e naturais de remover a cafeína do café verde.

Outros métodos incluem:

  • o processo da água da montanha, desenvolvido pela Descamex;
  • o método de dióxido de carbono;
  • o método da cana-de-açúcar Descafecol.

Dado que os vários processos de descafeinação podem afetar a qualidade do café e o perfil de sabor de diferentes maneiras, certamente há mais potencial de mercado para variedades que tenham naturalmente baixo teor de cafeína. Isso faz com que esses grãos dispensem processos complexos e tratamentos químicos. Isso significa que a qualidade e o sabor podem ser preservados ao máximo.

Pessoa fazendo colheita seletiva de cerejas de café

Baseado no interesse em variedades com baixo teor de cafeína, como a Laurina e a Aramosa, que crescem no setor de cafés especiais, existe o mesmo potencial para a AC1? Embora mais pesquisas sejam necessárias para responder de forma mais definitiva, está claro que o baixo nível de cafeína pode ser prejudicial ao crescimento da AC1 e outros cafés com baixo teor de cafeína.

Isso ocorre porque a cafeína atua como um repelente natural contra insetos e pragas, de modo que o cafeeiro que contém menos cafeína pode morrer mais rapidamente. Por sua vez, apesar do crescente interesse de torrefadores de cafés especiais e consumidores, há pouco incentivo para os produtores plantarem variedades com baixo teor de cafeína.

“O IAC não recomenda a produção comercial de AC1 e nunca distribuímos sementes para plantio comercial”, diz Júlio. Segundo ele, a AC1 precisa de tratamento diferente em comparação com outras variedades no Brasil, incluindo mais aplicação de fertilizantes e irrigação, além de métodos mais intensivos de controle de ervas daninhas, pragas e doenças. “Mesmo com essas medidas rígidas, que também têm seu custo, os rendimentos ainda seriam baixos. Precisaríamos realizar estudos mais complexos para entender melhor como escalar a produção de AC1 de forma sustentável”, ele acrescenta.

O uso de variedades naturalmente com baixo teor de cafeína como forma de diversificar a produção

À luz dos desafios associados ao cultivo de AC1 e variedades com baixo teor de cafeína, os agrônomos estão usando esses cafés para determinar o potencial de mercado futuro. “O IAC tem polinizado AC1 com outras variedades de arábica brasileiras de destaque, incluindo Catuaí, Mundo Novo, Obatã e Ouro Verde”, explica Julio. “Em seguida, desenvolvemos novas cultivares com não apenas alto potencial de rendimento, mas com níveis de cafeína entre 0,03% e 0,10%.”

Julio acrescenta que o IAC está realizando ensaios regionais para selecionar quais usinas poderiam ser melhores para a produção comercial. “Levará cerca de seis ou sete anos para realizar esses testes com sucesso”, diz ele. “Estamos abertos a colaborar com empresas que estejam dispostas a investir na fase final do programa.”

Em junho de 2023, o IAC informou que havia plantado várias dessas variedades com baixo teor de café em fazendas em todo o Brasil, com resultados já promissores. “O objetivo do programa é desenvolver variedades mais produtivas do que a Laurina, mas com níveis ainda mais baixos de cafeína”, diz ele. “Em média, a Laurina contém cerca de 0,6% de cafeína, mas produz rendimentos muito baixos e é altamente suscetível a várias doenças.”

Há interesse na produção de AC1?

Kenean Dukamo, que ficou em segundo lugar na Cup of Excellence da Etiópia de 2022, diz que, embora ele não cultive AC1 ou outras variedades com baixo teor de cafeína, certamente há interesse em fazê-lo. “Estaríamos abertos a cultivar uma variedade de café com o nível de cafeína naturalmente baixo, para que pudéssemos vendê-la como uma alternativa ao descafeinado”, diz.

Ramo com frutos verdes da variedade AC1, que tem naturalmente baixo teor de cafeína

A inovação é algo inerente ao setor de cafés especiais, e isso inclui expandir e diversificar o mercado para variedades com baixo teor de cafeína, como a AC1. Embora esteja claro que mais pesquisas são necessárias para entender melhor como escalar a produção desses cafés, torrefadores e consumidores estão mostrando cada vez mais interesse.

Mas, em última análise, para que os produtores cultivem variedades com teor de cafeína naturalmente mais baixo da forma mais sustentável possível, é importante que recebam o nível certo de apoio e orientação.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre se as variedades com baixo teor de cafeína poderiam substituir o descafeinado.

Créditos das fotos: Julio Mistro, Kenean Dukamo

Tradução: Daniela Melfi. 

PDG Brasil

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O que é a variedade ombligon? Ela pode se popularizar? https://perfectdailygrind.com/pt/2023/10/27/cafe-variedade-ombligon/ Fri, 27 Oct 2023 10:03:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=13422 Nos últimos anos, a fixação do café especial com cafés incomuns e raros só vem crescendo. Esse fascínio é perceptível principalmente no World Barista Championship, com mais e mais competidores usando espécies e variedades raras e “esquecidas” todos os anos. O World Barista Championship de 2023 não foi exceção, com vários dos seis finalistas usando […]

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Nos últimos anos, a fixação do café especial com cafés incomuns e raros só vem crescendo. Esse fascínio é perceptível principalmente no World Barista Championship, com mais e mais competidores usando espécies e variedades raras e “esquecidas” todos os anos.

O World Barista Championship de 2023 não foi exceção, com vários dos seis finalistas usando cafés exclusivos. Por exemplo, o australiano Jack Simpson (que ficou em terceiro lugar) usou o ombligon em sua apresentação.

A ombligon é uma variedade de arábica relativamente desconhecida, cultivada na Colômbia. O interesse neste café certamente está crescendo após o último WBC. Alinhado a isso, existe potencial para o mercado de ombligon crescer nos próximos anos? Para descobrir, falei com Jack Simpson e Juan Pablo Campos. Continue a ler para saber o que eles disseram.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre o café Sidra.

Lavoura da variedade ombligon

De onde vem essa variedade?

Como muitas outras variedades raras de arábica, a origem exata da ombligon é desconhecida. Atualmente, ela só cresce em Huila, Colômbia – uma região produtora de destaque no sudoeste do país. O nome “ombligon” – “umbigo” em português – vem de sua forma peculiar. 

Juan Pablo Campos é sócio fundador da Lohas Beans, exportadora de cafés especiais na Colômbia. A Lohas Beans trabalha em estreita colaboração com Nestor Lasso na Finca El Diviso – uma conhecida produtora de café colombiana que cultiva várias variedades únicas de arábica, incluindo ombligon.

Juan explica que ele e outros profissionais do café acreditam que o ombligon está relacionado a uma variedade de origem etíope. Ele acrescenta que, como a variedade é uma mutação natural, ela também compartilha características semelhantes a outras variedades de café colombianas nativas.

“O ombligon tem características semelhantes ao Caturra, como folhas largas, cerejas que crescem juntas, galhos que crescem verticalmente e alto rendimento. No entanto, muitos profissionais de café colombianos concordam que o ombligon pode ser uma mutação natural de outras variedades como Pacamara, Bourbon ou mesmo Castillo. Isso devido ao alto potencial de rendimento e resistência à ferrugem das folhas de café”, diz ele. Produtores em Huila, Colômbia, cultivam ombligon em diferentes altitudes, mas entre 1.600 e 1.800m acima do nível do mar costuma ser melhor.

Jack Simpson é o chefe de Controle de Qualidade e Vendas da Axil Coffee Roasters, em Melbourne, Austrália. Ele também é o barista australiano campeão de 2019. Ele diz que encontrou o ombligon pela primeira vez alguns meses antes do WBC de 2023, enquanto provava cafés da Finca El Divisio. “Fiquei intrigado. Eu nunca tinha ouvido falar dessa variedade antes e ela tinha um perfil de sabor muito único”, ele acrescenta.

Trabalhador de uma fazenda verificando lote de cafés em processamento experimental de fermentação anaeróbica

Cultivo e processamento da ombligon

Juan explica que o cultivo do ombligon não é muito difícil. Isso ocorre porque ela tem alto rendimento e é bastante resistente a certas doenças – particularmente a ferrugem das folhas de café (ou la roya). No entanto, ainda há considerações importantes a serem feitas ao cultivar o ombligon.

“Ela produz grãos grandes, então os produtores que não estão acostumados a isso podem acabar quebrando ou lascando alguns ao usar despolpadores tradicionais para métodos de processamento lavados. Para evitar isso, você precisa ajustar adequadamente os despolpadores para acomodarem os grãos maiores. A ombligon também é mais densa do que outras variedades, com menos ‘flutuadores’ ou grãos não desenvolvidos presentes nos tanques de flutuação”, diz Juan.

Quando se trata de métodos de processamento para a ombligon, há muita inovação com técnicas de fermentação natural. O produtor colombiano Nestor Lasso tem sido fundamental no desenvolvimento desses métodos, o que levou a alguns resultados interessantes.

O processo inclui as seguintes etapas:

  • após uma colheita cuidadosa, principalmente as cerejas maduras de ombligon (que têm níveis de brix variando de 24°bx a 26°bx) são selecionadas para processamento;
  • as cerejas são colocadas em sacos e sofrem oxidação durante 48 horas. isto é seguido por um período de repouso de 12 horas e, em seguida, outro estágio de oxidação de 60 horas;
  • após 60 horas, os sacos de cerejas são deixados abertos para aumentar a temperatura dentro deles;
  • as cerejas são então lavadas em água a 32°c para reduzir a diferença de temperatura entre a água e o interior das cerejas;
  • as cerejas de ombligon são então colocadas em tanques de plástico selados para sofrerem fermentação anaeróbica;
  • as cerejas são lavadas em água a 60°c para interromper o processo de fermentação e são secas usando um equipamento de desumidificação especializado.

Processamento especial para uso em competições

Juan me diz que as técnicas de processamento do ombligon são muito mais rigorosas e precisas quando usadas em competições. “Processamos as cerejas de ombligon em tanques de aço inoxidável em lotes de 200 kg”, diz ele. 

“Isso significa que as variáveis são mais controladas e estão em menor escala, o que ajuda a aprimorar as características que Nestor quer destacar para os concorrentes que usam esse café”, ele acrescenta.

Barista Jack Simpson durante sua apresentação no WBC 2023, onde usou a variedade ombligon.

Como é o sabor?

Jack explica que houve várias razões pelas quais ele escolheu a ombligon para sua apresentação no World Barista Championship de 2023. “Este café é muito único. É complexo, mas também tem sabores e características definidas, o que acho que é um dos elementos mais importantes a considerar ao escolher um café para competições”.

“Usar uma variedade que é nova e interessante sempre me emociona, mas este ano, a ombligon também se encaixa muito bem na minha rotina. Passei muito tempo aprendendo sobre a abordagem inovadora de Nestor com relação à fermentação, então sua técnica de processamento combinada com a complexidade deste café foi uma escolha perfeita”, acrescenta.

Muitos profissionais do café relatam notas de degustação de framboesa, geleia de goiaba, manga e chocolate branco. Jack, enquanto isso, conta que provou cereja vermelha, ameixa de sangue (um tipo de ameixa), laranja sanguínea, melancia, pêssego amarelo, marmelada de laranja, chocolate amargo e caramelo. 

Durante seu curso de bebidas lácteas do WBC de 2023, Jack também mencionou notas de sorvete de amora e chocolate maltado. “A sensação na boca é incrível – é muito sedosa e espessa, e reveste a boca”, diz ele. “Ela também tem um acabamento doce de longa duração, que é uma das razões pelas quais escolhi este café.”

A torra da ombligon

Para destacar todas as melhores qualidades da ombligon, é essencial encontrar o perfil de torra certo. Jack explica que passou muito tempo ajustando o perfil de torra. Ele descobriu que o café funciona bem para espresso e filtro.

Para o espresso, descobri que precisávamos adotar uma abordagem mais suave, além de usar um tempo de desenvolvimento mais longo do que o habitual, para equilibrar a acidez”, diz ele. “As leituras da Agtron eram bastante baixas, o que indica um perfil de torra mais escuro, mas isso tornava o espresso mais equilibrado e doce”.

“Quando preparado como espresso, provei mais sabores de frutas de caroço, frutas cítricas e chocolate”, acrescenta. “Enquanto isso, quando torrado para filtro, havia mais sabores de cereja e uma acidez mais vibrante.”

Lavoura de café

A ombligon pode se popularizar?

Dado o seu potencial de alto rendimento e resiliência a pragas, parece que existe um potencial para a produção de ombligon crescer nos próximos anos. Além disso, há um destaque para essa variedade após o WBC 2023 – e é provável que isso continue. Além disso, ao usar os métodos de processamento corretos, a ombligon produziu alguns perfis de sabor excelentes – que muitos profissionais e entusiastas do café teriam interesse em experimentar.

No entanto, para muitos produtores, há um nível óbvio de risco ao experimentar o cultivo e o processamento de novas variedades. Para que mais agricultores cultivem ombligon, eles precisam do nível certo de apoio e acesso a recursos. “Se for possível que mais produtores cultivem ombligon, eu adoraria ver mais dela em cafés especiais”, diz Jack. “Nestor fez um trabalho incrível com o café que usei, então será emocionante ver o que o futuro reserva para a ombligon.”

Vista da fazenda de Juan Pablo Campos, em Huila (Colômbia)

Com seu potencial de produzir resultados incríveis na xícara, a demanda por ombligon provavelmente aumentará nos próximos anos, mesmo que num ritmo lento e constante. Como essa variedade é atualmente cultivada apenas em Huila, Colômbia, a capacidade de aumentar a produção é um pouco limitada.

Se quisermos ver ombligon em mais cafeterias, mais produtores teriam que começar a cultivar essa variedade. Para isso acontecer, eles precisam de muito apoio e acesso aos recursos certos.

Gostou? Então leia nosso artigo sobre o que aconteceu no World Barista Championship de 2023.

Créditos das fotos: Specialty Coffee Association, Juan Pablo Campos, Lohas Beans

Tradução: Daniela Melfi. 

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O que é Maragogipe e qual é o mercado para essa variedade? https://perfectdailygrind.com/pt/2023/08/07/o-que-e-maragogipe/ Mon, 07 Aug 2023 10:01:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=13105 Dentro do mercado de cafés especiais, há um número crescente de espécies e variedades de café mais exclusivas e altamente valorizadas, como a Gesha e a Maragogipe. Esta última é uma variação natural da Typica, e produz cerejas e grãos muito grandes. o que acaba impactando no processamento e na torra. Espécies e variedades raras de café […]

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Dentro do mercado de cafés especiais, há um número crescente de espécies e variedades de café mais exclusivas e altamente valorizadas, como a Gesha e a Maragogipe. Esta última é uma variação natural da Typica, e produz cerejas e grãos muito grandes. o que acaba impactando no processamento e na torra.

Espécies e variedades raras de café podem se tornar mais reverenciadas por várias razões, incluindo sua alta qualidade de xícara e perfis sensoriais desejáveis. No entanto, algumas variedades também são procuradas devido a suas características físicas incomuns, como o tamanho grande do grão.

Para saber mais sobre Maragogipe, bem como se existe um mercado mais amplo para essa variedade, conversei com três profissionais do café. Leia para descobrir mais.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre como El Salvador pode alavancar o café Pacamara.

Ramo de cafeeiro com frutos verdes de maragogipe

De onde vem o Maragogipe?

Segundo a World Coffee Research, a variedade foi descoberta em 1870 no município de Maragogipe, na Bahia, nordeste do Brasil – daí seu nome.

Como resultado de seu único gene dominante, Maragogipe produz folhas, cerejas e grãos extraordinariamente grandes – o que levou muitos profissionais do café a chamá-lo de “grão elefante”.

Os pesquisadores também concluíram que Maragogipe é uma espécie-mãe, dando origem às variedades Pacamara e Maracaturra, que também produzem grãos enormes. Enquanto o último se originou da Nicarágua, o primeiro cresce principalmente em El Salvador, onde frequentemente recebe altas pontuações nas competições anuais da Cup of Excellence.

Gerson Silva Giomo é pesquisador científico do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) no Brasil. Ele explica que até a década de 1950 era comum encontrar um pequeno número de plantas de maragogipe crescendo em algumas das principais regiões cafeeiras do Brasil. “Devido ao seu baixo rendimento, essa variedade não foi cultivada em escala comercial”, diz.

Embora a qualidade potencial da Maragogipe seja muito alta quando cultivada em altitudes elevadas, seu potencial de rendimento não é. Além disso, Maragogipe também é altamente suscetível a várias pragas e doenças.

Mauricio Salvaverra é produtor da Divisadero Coffee em El Salvador. Segundo ele, antes dos anos 1950 e 1960 mais fazendas em El Salvador costumavam cultivar Maragogipe. “No entanto, devido a seus baixos rendimentos e suscetibilidade à la roya (ferrugem da folha do café), mais agricultores começaram a cultivar Bourbon e Pacamara”, diz.

Declínios na produção

Gerson conta que por sua produção render menos, muitos agricultores no Brasil começaram a substituir Maragogipe por variedades mais produtivas, como Mundo Novo. “Hoje, a produção de Maragogipe no Brasil é limitada a um pequeno número de fazendas que atendem a clientes que procuram grãos de tamanho maior”, diz. 

Apesar dos desafios associados à sua produção, as características únicas da variedade a tornaram mais popular em vários países de origem. Estes incluem México, Guatemala, Nicarágua, El Salvador, Colômbia e Havaí.

Ramo de cafeeiro com frutos em processo de maturação

Como processar e torrar grãos de Maragogipe?

Quando se trata de processamento e torra, o tamanho do grão é certamente um fator importante. No entanto, é especialmente relevante para variedades que produzem grãos grandes, como Maragogipe.

“De modo geral, os métodos naturais de processamento ajudam a melhorar a complexidade, a doçura e o corpo da variedade, além de destacar sabores mais frutados. Por outro lado, com técnicas de processamento lavado, a Maragogipe é menos doce e com um corpo leve. Mas é possível melhorar os aromas ácidos e florais”, Gerson explica.

Brandon von Damitz é sócio da Big Island Coffee Roasters no Havaí, que cultiva um Ka’ū Maragogipe de 94 pontos com notas de pêssego, bergamota e mel. Ele diz que o potencial da variedade está em quão bem ela responde ao seu terroir, às práticas agrícolas, ao método de processamento, perfil de torra e método de extração.

“O que eu amo no Maragogipe cultivado no Havaí é que ele é de alta qualidade e versátil. A variedade funciona bem com uma série de perfis de torra e métodos de preparo. O tamanho dos grãos, bem como seus outros atributos, determinam como devemos aplicar o calor ao torrar”, afirma.

Mauricio menciona que, como a Maragogipe possui propriedades sensoriais tão desejáveis, os produtores costumam vendê-lo como um micro ou nano lote de origem única. Ele acrescenta que alguns produtores também usam técnicas de processamento de mel, ou mesmo métodos de fermentação controlada.

“Alguns torrefadores dizem que não é a variedade mais fácil de torrar”, diz ele. “No entanto, tenho clientes na Austrália, França e EUA que certamente comprariam mais Maragogipe se tivéssemos mais disponível.” Brandon concorda, dizendo: “Dada a sua raridade e baixos rendimentos, preferimos vender e comercializar a Maragogipe como origem única, em vez de em blends.”

Frutos da variedade maragogipe

Como é o sabor do café maragogipe?

Tal como acontece com qualquer variedade, o perfil de sabor e os atributos sensoriais são naturalmente resultados do terroir da planta. Isso inclui o solo, o clima, a altitude e a região em que o café cresce. Além disso, os métodos de processamento pós-colheita também têm um impacto significativo no perfil da xícara de café.

É justo dizer que, ao longo dos anos, as opiniões sobre a qualidade de Maragogipe variaram muito. Por exemplo, no livro de William Ukers, All About Coffee, que foi publicado pela primeira vez em 1922, ele afirma: “O grão verde é enorme e sua coloração varia de verde a marrom escuro. É o maior de todos os grãos de café, mas amadeirado e geralmente desagradável na xícara.”

No entanto, muitos profissionais do café concordam que, com as melhores práticas agrícolas, Maragogipe pode produzir café de alta qualidade com características desejáveis. “Normalmente, Maragogipe é naturalmente muito doce e com baixa acidez”, explica Gerson. “Também tem algumas nuances florais, bem como notas de degustação de mel e às vezes especiarias.”

Brandon concorda, dizendo: “Adoro as qualidades dinâmicas de sabor e aroma doce da Maragogipe. Notas de pêssego com alguns tons de chocolate, bem como algumas mais herbáceas de lúpulo e sândalo. A experiência sensorial pode mudar no dia-a-dia, bem como ao usar diferentes métodos de preparo, havendo muito para desfrutar de um único café.”

Grãos de café ainda crus

Como é o mercado para esta variedade?

Sem dúvida, Maragogipe é uma escolha popular entre os torrefadores de cafés especiais que vendem variedades mais exclusivas. Mauricio diz que cultiva Maragogipe há quase uma década e vende o café como parte da gama de nano lotes da Divisadero. 

“O tamanho do grão da variedade e a grande qualidade da xícara geralmente rivalizam com o de Pacamara em El Salvador”, explica ele. “No entanto, porque Maragogipe é caro para produzir, muito poucos agricultores estão interessados em plantar mais, e os preços de mercado permanecem muito altos.”

Enquanto Maragogipe não é considerada uma variedade ultra exclusiva, Brandon diz que pode ser difícil para os consumidores encontrarem. “Temos a sorte de ela crescer no Havaí, onde podemos experimentar diferentes regiões de cultivo e métodos de processamento para criar experiências sensoriais ainda mais diversas e únicas”, afirma. 

Brandon acrescenta que quando a Big Island Coffee Roasters vendeu pela primeira vez Maragogipe, era notavelmente muito popular entre seus clientes – indicando haver uma demanda crescente. “A combinação de sua raridade, tamanho e perfil de sabor significa que é um café único que as pessoas querem conhecer. Quando esgota, desaparece até a próxima safra”, explica

Gerson me conta que o IAC estuda Maragogipe desde 1931, com foco específico na modificação genética para melhorar o rendimento. “Sabendo que no mercado de cafés especiais há uma demanda crescente por variedades que produzem grãos maiores, o IAC preservou diversas plantas femininas do Maragogipe Vermelho e Amarelo em seu banco para uso futuro”, explica.

“Para aumentar a produtividade, o IAC desenvolveu protocolos específicos para a produção comercial de Maragogipe”, acrescenta. “Isso inclui um foco particular na definição do melhor espaçamento entre plantas, nutrição e manejo fitossanitário (garantindo que as plantas estejam livres de pragas e doenças perigosas).”

Existe potencial para melhorar a produtividade da safra?

Embora existam desafios claros quando se trata da produção de Maragogipe, Gerson espera que ela possa se tornar mais difundida. “Com base na seleção da linhagem Maragogipe do IAC, bem como na aplicação das melhores práticas agrícolas e de processamento pós-colheita, a produção dessa variedade poderia aumentar no Brasil”, explica.

Brandon também está otimista sobre o futuro da variedade no mercado de cafés especiais. “As qualidades da xícara de Maragogipe são mais adequadas para consumidores mais aventureiros e geralmente com paladares mais desenvolvidos É um ponto de entrada fantástico para pessoas que querem experimentar o que diferentes variedades de café têm a oferecer”, afirma.

Grãos de café de diferentes tamanhos torrados

É claro que o café especial dá muito valor a variedades mais exclusivas e altamente valorizadas e os produtores e torrefadores que vendem Maragogipe certamente podem capitalizar isso.

No entanto, ao mesmo tempo, a baixa produtividade da variedade e a vulnerabilidade a pragas e doenças representam um número significativo de desafios para a produção em escala. 

Portanto, se quisermos ver mais Maragogipe disponível no futuro, é certamente necessário mais pesquisas e amplo apoio aos produtores de café.

Gostou? Então leia nosso artigo sobre variedades de café: um curso intensivo  em Gesha e Bourbon.

Créditos das fotos: Gerson Silva Giomo, IAC, Juleigh Burden, Kelleigh Stewart

PDG Brasil

Traduzido por Daniela Melfi

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O consumo de café em excesso pode causar problemas de estômago? https://perfectdailygrind.com/pt/2023/07/05/cafe-em-excesso-problemas-de-estomago/ Wed, 05 Jul 2023 10:01:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=12947 Ao longo dos anos, muito se fala sobre os benefícios do café para a saúde. Entre eles estão o aumento expectativa de vida e a redução no risco de certas doenças. No entanto, também está provado que consumir altos níveis de cafeína pode resultar em efeitos como aumento da frequência cardíaca, inquietação, dores de cabeça […]

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Ao longo dos anos, muito se fala sobre os benefícios do café para a saúde. Entre eles estão o aumento expectativa de vida e a redução no risco de certas doenças. No entanto, também está provado que consumir altos níveis de cafeína pode resultar em efeitos como aumento da frequência cardíaca, inquietação, dores de cabeça e problemas de estômago.

Considerando este último efeito colateral, quais compostos no café podem resultar em problemas digestivos? Há alguma maneira de evitar que esses problemas ocorram? Para saber mais, conversei com três pesquisadores do. Continue a ler para saber o que eles disseram.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre café, saúde e bem-estar.

Preparo de café no filtro Kalita -- café e problemas de estômago

Qual é o composto do café responsável por causar problemas de estômago?

São vários os compostos no café que podem causar problemas estomacais quando consumidos em excesso. Um desses é a cafeína.

Apesar de ela ajudar a estimular o cérebro e o sistema nervoso central, além de reduzir a fadiga e o cansaço, seu consumo elevado também pode trazer efeitos adversos à nossa saúde.

Verônica Belchior é consultora de café e Q-grader. Ela também tem um PhD em Ciência dos Alimentos. Ela explica que, como o maior efeito da cafeína é no cérebro, ela é tecnicamente uma substância psicoativa.

“Ao consumir doses baixas, como 50 mg, a cafeína pode reduzir a ansiedade”, diz ela. No entanto, doses acima de 150mg têm o efeito contrário, aumentando a ansiedade e causando tremedeira e nervosismo.

Verônica acrescenta que, como a cafeína é uma substância psicoativa, o corpo pode se tornar fisiologicamente dependente dela se consumida regularmente.

“Se você beber café todos os dias e, em seguida, reduzir abruptamente o seu consumo, você pode experimentar vários sintomas de abstinência”, explica ela. “Estes podem incluir níveis mais elevados de fadiga ou sonolência, níveis mais baixos de alerta, concentração reduzida, alterações de humor e dores de cabeça – bem como náuseas ou problemas de estômago.”

Quando se trata de ingestão de cafeína e problemas digestivos, um estudo de 1998 descobriu que o café com cafeína estimulou o cólon 23% mais do que o café descafeinado. Além disso, pesquisas adicionais concluem que consumir mais cafeína pode aumentar a produção do ácido estomacal.

E quanto aos outros compostos presentes no café?

Assim como a cafeína, há uma série de outros compostos no café que podem resultar em problemas digestivos. “Baixos níveis de pH do café podem ser um problema para aqueles que são suscetíveis à gastrite”, diz Verônica.

Sebastian Opitz é o Chefe de Café Verde no Coffee Excellence Centre da Universidade de Ciências Aplicadas de Zurique. “A relação entre café e problemas estomacais é muitas vezes mais complexa do que pensamos”, diz ele.

“O foco de nossa pesquisa foi em uma parte particular dos lipídios encontrados no café verde chamado triptamidas, ou alcanoil triptamidas”, acrescenta. “Estes são encontrados na camada externa cerosa dos grãos de café verde, e eles podem aumentar a secreção de ácido gástrico no estômago.”

Além disso, Sebastian diz que outros compostos encontrados no café verde, como catecol e pirogalol (que resultam em sabores amargos), também podem aumentar a secreção de ácido gástrico. No entanto, Sebastian ressalta que, como esses dois compostos estão presentes apenas no café verde em pequenas quantidades, seu impacto na saúde do estômago é provavelmente mínimo.

Há também pesquisas conflitantes sobre a relação entre compostos como ácidos clorogênicos e trigonelina e a secreção de ácido gástrico. Enquanto alguns estudos afirmam que esses compostos aumentam a secreção de ácido gástrico, outras pesquisas afirmam que a secreção diminui.

Quais outros dados influenciam nos resultados?

Chahan Yeretzian é o chefe do Coffee Excellence Centre. Ele explica que a maioria das pessoas com problemas de estômago ao beber café relatam ter refluxo gástrico. No entanto, Chahan diz que há pouca evidência explorando como o consumo esteja relacionado ao surgimento dessa condição.

“Os problemas de estômago causados pelo consumo de café não estão relacionados a nenhum grupo cultural ou étnico em particular, bem como à idade ou ao gênero. Geralmente, está relacionado a questões individuais, mas também pode ser genética. No entanto, não há evidências suficientes para apoiar essa afirmação”, ele afirma.

Grãos de café recém torrados no compartimento de resfriagem de um torrador

Alguns cafés podem causar mais problemas de estômago do que outros?

Embora a maioria dos cafés verdes contenha os mesmos compostos, há várias maneiras pelas quais sua composição química pode mudar. Isso inclui diferentes perfis sensoriais, métodos de processamento, níveis de torra, métodos de fermentação e muito mais.

Perfil sensorial

Cada café tem seu próprio perfil sensorial e de sabor único. Por exemplo, alguns cafés têm compostos de sabor mais amargo ou acidez mais pronunciada. Chahan explica que, além dos receptores de sabor amargo na boca, eles também são encontrados no estômago e em outros órgãos, como a vesícula biliar.

“Um estudo de 2017 mostrou que quando os receptores de sabor amargo no estômago detectaram cafeína (um composto de sabor amargo), a secreção de ácido gástrico aumentou rapidamente”, diz Sebastian. “Isso ajuda a explicar a ligação entre compostos de sabor amargo e toxicidade. 

“Os compostos tóxicos têm gosto amargo, por isso, quando o estômago sente a amargura da cafeína, ele quer removê-la”, acrescenta. “A rápida liberação de ácido gástrico ajuda a decompor a ‘substância tóxica’ antes que ela possa causar qualquer dano ao corpo.”

Quando se trata de acidez, parece haver menos ligação causal. “Algumas pessoas dizem que a acidez no café aumenta a acidez no corpo e, portanto, o café com sabor ácido não faz bem”, diz Sebastian. “No entanto, essa explicação não está correta.

“Há uma correlação, mas não uma causalidade, entre os dois”, acrescenta. “Mesmo que o café seja ácido, geralmente tem um nível de pH de cinco, enquanto o nível de pH do ácido gástrico no estômago está abaixo de dois.”

Em essência, isso significa que o ácido no estômago é minimamente afetado pela acidez no café. “As pessoas às vezes afirmam que, quando experimentam azia após beber café, é devido à acidez do café”, me diz Sebastian. No entanto, vários compostos no café levam a um aumento na secreção de ácido gástrico no estômago.

“Em um estudo de 2010, os pesquisadores puderam identificar esses compostos”, acrescenta. “Além disso, se houver uma maior secreção de ácidos, então o nível de pH no estômago é menor, podendo potencialmente levar à azia”.

Perfil de torra

O processo de torrefação não só tem um impacto irreversível na estrutura celular dos grãos de café, mas também na sua composição química.

“De modo geral, o café verde tem a maior quantidade de ácidos clorogênicos”, diz Sebastian. O café torrado, por sua vez, contém cerca da metade da quantidade desses ácidos.

Sebastian explica que o perfil de torra também afeta outros compostos no café que podem contribuir para problemas estomacais.

“De forma simples, é melhor beber café com torras mais escuras do que torras mais claras”, diz ele. “O processo de torrefação afeta os níveis de triptamidas do café, então quanto mais escuro o nível de torra, menos triptamidas haverá nos grãos.”

Em última análise, isso significa que a secreção de ácido gástrico não aumentará ao beber torras mais escuras, podendo potencialmente mitigar quaisquer problemas estomacais.

“No entanto, a torra para perfis mais escuros tende a resultar em compostos mais amargos, como lindanos e lactonas clorogênicas”, acrescenta. “Mas mais pesquisas são necessárias para descobrir se esses compostos podem desencadear secreções de ácido gástrico.”

Método de preparo

Sebastian explica que o processo de fermentação pode ter um impacto significativo no número de triptamidas no café.

“O café espresso e a imprensa francesa tendem a extrair concentrações mais altas de triptamidas”, diz Sebastian. “Enquanto isso, as concentrações de triptamida no café filtrado são geralmente bastante baixas porque são absorvidas pelo filtro de papel.

“No entanto, as triptamidas são apenas alguns dos compostos que contribuem para o aumento da secreção de ácido gástrico”, acrescenta. “Em nossa pesquisa, também estamos analisando o efeito dos ácidos clorogênicos no estômago, mas mais evidências precisam ser coletadas”.

Método de processamento

É bem-sabido que os café. No entanto, eles também afetam a composição química do café verde. “Os cafés processados naturais tendem a ter a maior concentração de triptamidas”, diz Sebastian.  

“Precisamos realizar mais pesquisas, mas é possível que tempos de fermentação mais longos possam diminuir a concentração de triptamidas encontradas no café. Isso ocorre porque a camada de cera externa está em contato com seu ambiente por mais tempo”, ele conclui.

Xícara transparente de café com uma cinta de material resistente a temperatura para manusear

E o café descafeinado?

É claro que a cafeína, juntamente com uma série de outros compostos no café, pode causar problemas de estômago para algumas pessoas. Então, é menos provável que o café descafeinado os desencadeie?

“O café descafeinado pode ser uma boa solução para pessoas sensíveis à cafeína”, diz Verônica. No entanto, o impacto do consumo de cafeína também depende da idade, peso e condições de saúde.

De acordo com Sebastian, o tipo de processo de descafeinação também pode alterar a composição química do café verde.

“Comparamos os efeitos dos processos com dióxido de carbono (CO2), clorometano e o Swiss Water”, ele diz. “Descobrimos que os processos ‘mais suaves’, como o processo de CO2, conseguiram remover quase toda cafeína sem dissolver muitos dos outros compostos do café verde.

“Com o processo de CO2, os grãos ficaram um pouco mais escuros, mas ainda tinham uma tonalidade verde que você espera com o café verde”, acrescenta. “No entanto, com os processos de clorometano e Swiss Water, os grãos ficaram mais manchados e marrons, sendo claro que esses processos alteram mais a camada externa do café verde.

“Por sua vez, isso poderia reduzir a concentração de triptamidas no café verde”, continua ele. Em última análise, isso pode significar que o café descafeinado é menos provável de causar problemas de estômago em comparação com o café com cafeína.

Os torrefadores devem comercializar cafés suaves para o estômago?

Apesar das pesquisas indicarem que certos compostos no café podem causar problemas estomacais, Chahan diz não haver demanda suficiente do consumidor por café “suave para o estômago”.

“Por exemplo, as maiores empresas de café do mundo ainda não comercializam um café ‘suave para o estômago’”, diz ele. “Isso indica claramente que eles não acreditam que haja evidências suficientes para fazê-lo, embora isso possa mudar em breve”.

Sebastian menciona que variedades de baixa cafeína,  como Laurina e Aramosa, também podem ser uma opção para os bebedores de café que são mais sensíveis à cafeína. “Analisar outras variedades de café e espécies com concentrações mais baixas de cafeína pode ser útil”, conclui.

Xícara de espresso

Para resumir, existem certamente compostos no café que podem causar problemas de estômago. No entanto, isso depende muito de uma série de fatores – incluindo a quantidade de café que você bebe e quão sensível você é, individualmente.

Embora possa variar de pessoa para pessoa, o consumo moderado de café provavelmente não causará problemas estomacais. 

Em última análise, ao adotar uma abordagem mais consciente de quando e com que frequência você bebe café, você pode reduzir a probabilidade de possíveis problemas estomacais.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre a relação entre os óleos no café e os níveis de colesterol.

PDG Brasil

Traduzido por Daniela Melfi

Isenção de responsabilidade: esta não é uma publicação médica. Nenhum material neste artigo se destina a ser um substituto para aconselhamento médico profissional, diagnóstico ou tratamento. Procure sempre aconselhamento médico junto de um profissional de saúde qualificado.

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Nossa percepção de sabores no café muda conforme envelhecemos? https://perfectdailygrind.com/pt/2023/06/28/nossa-percepcao-de-sabores-no-cafe-muda-conforme-envelhecemos/ Wed, 28 Jun 2023 10:03:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=12920 Existem muitas variáveis que influenciam como percebemos sabores no café, incluindo a temperatura da bebida, a qualidade da água e até a altitude. Há ainda evidências claras que nosso olfato e paladar começam a mudar à medida que envelhecemos e isso certamente impacta nossas percepções sensoriais. No entanto, também sabemos que você precisa de um paladar bem […]

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Existem muitas variáveis que influenciam como percebemos sabores no café, incluindo a temperatura da bebida, a qualidade da água e até a altitude. Há ainda evidências claras que nosso olfato e paladar começam a mudar à medida que envelhecemos e isso certamente impacta nossas percepções sensoriais.

No entanto, também sabemos que você precisa de um paladar bem desenvolvido para identificar notas de degustação mais matizadas. Mas para desenvolver seu paladar, você precisa provar uma variedade de cafés de diferentes origens, variedades e métodos de processamento.

No entanto, quando se trata de degustar e pontuar cafés, muitas vezes ignoramos a influência da idade. E isso nos leva a uma questão importante: devemos considera-la durante o cupping e a avaliação de cafés?

Para descobrir, conversei com Gary Au, sócio da Urban Coffee Roasters em Hong Kong, e Nick Castellano, especialista em marketing de produtos da Cropster. Continue lendo para saber mais.

Você também pode gostar do nosso guia para iniciantes para participar de cuppings de café e melhorar seu paladar.

Degustador de cafés durante rodada de cupping

O nosso paladar muda com a idade?

É um fato inevitável que, à medida que envelhecemos, nossos sentidos começam a se deteriorar. Claro que cada pessoa tem seu ritmo e isso depende de vários fatores, como condições de saúde e acesso a cuidados médicos, por exemplo.

A maioria das pessoas tende a pensar em perder a audição e a visão ao discutir o envelhecimento, mas uma pesquisa de 2016 aponta que olfato e paladar começam a declinar por volta dos 60 anos, e que isso se agrava após os 70. Isso significa que nossa capacidade de distinguir sabores diminui, inclusive para o café.

O declínio no número de receptores olfativos na cavidade nasal é o que justifica essa perda sensorial, que fica cada vez menos nítida. E esses receptores desempenham um papel fundamental na percepção do sabor.

Evidências mostram ainda que em algum lugar entre a adolescência e a idade adulta nossos paladares começam a se desenvolver mais. Isso é resultado de experimentar diferentes alimentos e cozinhas, o que nos expõe a uma variedade maior de sabores e texturas. Por sua vez, nos acostumamos com os cinco elementos do sabor: doce, salgado, azedo, amargo e umami.

Café filtrado sendo preparado ao lado de um pacote de grãos de café

E quanto às notas de sabor e aroma mais exóticas?

Em termos simples, existem cinco aspectos principais do perfil sensorial de um café: acidez, doçura, amargor, corpo e sabor residual. Mas, ao lado desses aspectos, também discutimos notas mais específicas.

Muitos profissionais da indústria usam a Roda de Aromas da Specialty Coffee Association para identificar características e sabores específicos no café. Há certamente críticas à Roda de Aromas – principalmente porque é mais voltada para os paladares europeus e norte-americanos do que para os dos países produtores.

A roda foi publicada pela primeira vez em 1995 e, desde então, foi reformulada para incluir um vocabulário mais amplo de 110 características de sabor, textura e aroma. Por exemplo, a categoria “frutado” por si só inclui quatro subcategorias, que contêm pelo menos outras duas subcategorias – incluindo passas, cereja, coco e limão, para citar alguns.

Na maioria das vezes, notas de chocolate, caramelo, nozes e frutas são usadas para descrever os cafés. No entanto, nos últimos anos, tem sido impossível ignorar o crescente número de torrefações especializadas que se referem a notas mais incomuns para descrever seus grãos.

Porque são usadas notas cada vez mais diferentes na avaliação sensorial de alguns cafés?

Em muitas cafeterias ao redor do mundo, não é raro ver mais nichos e notas de sabor interessantes. Por exemplo, alguns dos finalistas do Campeonato Mundial de Baristas de 2021 usaram “massa de bolo”, “sorvete de chocolate derretido” e “creme de banana” para descrever os sabores em seu café.

Enquanto Gary acha que isso é em grande parte resultado do uso de espécies e variedades mais raras ou exóticas de café, além de técnicas de processamento experimentais, Nick acredita que também há uma influência do fator geracional.

“De modo geral, acho que as pessoas mais jovens estão mais inclinadas a experimentar esses cafés fermentados, com sabores únicos e interessantes”, diz ele. “Na minha opinião, também ajuda as pessoas novas no mundo do café especial a se envolverem mais.” Gary concorda, dizendo: “Na minha experiência, as pessoas que começam a experimentar o café especial tendem a preferir os sabores novos, e muitas vezes conseguem perceber as notas de sabor descritas na embalagem”.

Amostras de café que passarão por avaliação sensorial

Devemos considerar as diferenças geracionais na avaliação sensorial de cafés?

Pesquisas indicam que, à medida que envelhecemos, é menos provável que percebamos todo o espectro de sabores no café. Sem dúvida, isso é especialmente importante quando se trata de provar e avaliar cafés.

Gary e Nick participaram do Leilão Melhor do Panamá de 2022 no ano passado, onde ficou claro que a idade fez uma diferença significativa na pontuação dos cafés. É importante notar que todos os juízes no leilão eram experientes cuppers e Q-graders. 

No entanto, após a sessão de calibração dos juízes, ficou evidente que havia alguma discrepância entre as pontuações atribuídas aos cafés. Normalmente, é de se esperar uma diferença de um ou dois pontos entre os juízes para o mesmo café. Mas nesse evento essa diferença chegou a ficar entre 5 e 6 pontos para algumas amostras. 

Além disso, Gary e Nick contam que um café recebeu 100 pontos de dois juízes, algo praticamente inédito. “Na minha opinião, foi porque os provadores mais velhos favoreceram os perfis de sabor Gesha mais ‘tradicionais’, que são mais florais e delicados. No entanto, os mais jovens pareciam avaliavam melhor os cafés mais complexos”, diz Nick. Gary, por sua vez, acredita que o nível de experiência e fatores culturais também afetaram essas discrepâncias.

Troféu de um torneio de avaliação sensorial de cafés

O que isso significa para os protocolos de cupping?

Embora a idade possa ter desempenhado algum papel na influência das pontuações de cupping no leilão do BoP de 2022, Nick e Gary concordam que o nível de experiência foi de longe o fator-chave.

Além disso, na experiência de Gary como juiz, ele descobre que as pessoas do Sudeste Asiático ou do Oriente Médio geralmente preferem notas de sabor mais fermentadas e vitivinícolas no café. Ele acrescenta que norte-americanos e europeus tendem a favorecer perfis de sabor mais tradicionais devido às diferenças culturais na culinária.

Nick acredita que também é importante entender como as diferenças nos mercados internacionais ou regionais influenciam as preferências de sabor. “Por exemplo, o mercado de cafés especiais de Santiago (Chile) é mais desenvolvido do que o de Buenos Aires, na Argentina. Então o mercado para cafés mais exclusivos é maior lá”, diz.

Abordando essas questões

A SCA descreve esse viés do cupping como “intersubjetividade”. É quando os cuppers profissionais avaliam a qualidade do café com base em quais características são desejáveis para um mercado específico, em vez de pontuar objetivamente um café.

Como resultado disso, a SCA começou a desenvolver seu Sistema de Avaliação do Valor do Café, que busca essencialmente eliminar qualquer tipo de viés intencional ou não intencional ao fazer um cupping, além de buscar ser mais inclusivo em diferentes culturas e cozinhas.

Degustadores preparando uma sessão de cupping

Embora a idade certamente desempenhe um papel na forma como percebemos o sabor do café, é claro que também devemos considerar outros fatores que influenciam isso também – incluindo experiências e diferenças culturais.

Seja intencional ou não, o viés é uma parte inevitável da avaliação da qualidade e sabor do café. No entanto, à medida que continuamos a ver mais e mais técnicas de processamento experimental e novas variedades e espécies, fica claro que o espectro do sabor do café também continuará a se ampliar. 

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre como garantir a consistência ao tomar café.

Créditos das fotos: Gary Au, Urban Coffee Roasters

PDG Brasil

Traduzido por Daniela Melfi

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Moer café congelado danifica seu moedor? https://perfectdailygrind.com/pt/2023/06/21/moer-cafe-congelado-danifica-o-moinho/ Wed, 21 Jun 2023 10:03:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=12891 Nos últimos anos, temos visto um número crescente de cafeterias e torrefações congelando grãos de café torrados. Existem várias razões para isso, mas o principal argumento é que isso preserva o frescor por mais tempo. Tradicionalmente, armazenar o os grãos num local fresco e seco tem sido a regra. No entanto, à luz dos inúmeros benefícios […]

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Nos últimos anos, temos visto um número crescente de cafeterias e torrefações congelando grãos de café torrados. Existem várias razões para isso, mas o principal argumento é que isso preserva o frescor por mais tempo.

Tradicionalmente, armazenar o os grãos num local fresco e seco tem sido a regra. No entanto, à luz dos inúmeros benefícios do congelamento do café, mais e mais profissionais e entusiastas do café também estão adotando essa técnica. Isso nos leva a uma questão importante: moer café congelado danifica seu moinho?

Para descobrir, conversei com o diretor administrativo da Colonna Coffee, Maxwell Colonna-Dashwood, e com o professor assistente de Química de Materiais Computacionais da Universidade de Oregon, Dr. Christopher Hendon. Continue a ler para saber o que eles disseram.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre moagem de café em dose única.

Cúpula de um moinho profissional de café

Por que congelar o café?

Durante muito tempo, tanto os profissionais do café quanto os consumidores acreditavam que armazenar café torrado em condições frescas e secas era a melhor maneira para preservar seus atributos. 

Isso ocorre porque o processo de torrefação altera irreversivelmente a estrutura celular dos grãos de café. Uma vez torrado, o café é mais suscetível a uma série de fatores ambientais, como calor, luz, umidade e oxigênio.

No entanto, tem sido impossível ignorar o crescente número de cafeterias, torrefações e até mesmo consumidores que começaram a congelar seu café torrado. Alguns dos torrefadores mais notáveis para fazer isso são ONA CoffeeProud Mary, que normalmente congelam seus lotes exclusivos e de edição limitada.

Além disso, em sua apresentação do Campeonato Nacional de Café dos EUA de 2017, o vencedor Kyle Ramage usou gelo seco para congelar seus grãos de café antes de moer. Ele se baseou no estudo de 2016 intitulado the effect of bean origin and temperature on grinding roasted coffee para tomar essa decisão.

Os benefícios do congelamento

Maxwell, coautor do artigo acima citado, explica que existem dois benefícios principais para o congelamento do café. “Grãos de café congelados moem melhor e você pode armazená-los por um longo tempo. Ou se você quer apenas aproveitar os benefícios imediatos à moagem, basta congele-los algum tempo antes do uso”.

O estudo descobriu que moer café congelado levou a uma distribuição de tamanho de partícula mais uniforme, o que pode ajudar a extrair uma gama mais ampla de sabores e aromas.

“No entanto, você ainda precisa armazenar o café em um recipiente hermético com pouco espaço livre de oxigênio no congelador. Caso contrário, ele pode perder parte de sua qualidade original”, diz Maxwell.

Christopher também trabalhou no estudo. Ele explica por que minimizar a presença de oxigênio é tão importante. “Congelar o café em um ambiente sem ar e umidade ajuda a prolongar seu frescor. E isso vale tanto para grãos torrados quanto verdes”, diz.

“Em nosso laboratório, usamos seladores a vácuo seguros para alimentos e descobrimos que a qualidade das bolsas faz uma diferença significativa em termos de preservação do frescor”, ele acrescenta.

Com base nisso, muitas cafeterias e torrefações congelam o café em doses únicas, às vezes em tubos de vidro ou plástico para garantir que haja o mínimo de oxigênio. Isso significa que uma dose única de café pode ser removida do freezer e depois moída usando um moedor de dose única.

Grãos de café ainda crus

O café verde também pode ser congelado?

Assim como acontece com o café torrado, o congelamento do café verde ajuda a prolongar o frescor e o sabor.. De modo geral, o café verde é considerado fresco entre seis e 12 meses após a colheita.

“O frescor do café verde depende de vários fatores, como origem, método de processamento e nível de atividade da água. Diferentes cafés envelhecem cada um a seu tempo”, explica Maxwell.

“Congelar grãos verdes significa poder comprar lotes caros ou exclusivos e não precisar se preocupar em torrá-los ide imediato. Algumas cafeterias e torrefações têm menus de ‘congelados’ que servem como uma lista de vinhos caros” acrescenta.  “É emocionante e uma oportunidade para estender o frescor de alguns cafés realmente interessantes”, conclui Maxwell.

Barista moendo café congelado

É melhor moer grãos de café congelados?

Além de prolongar o frescor, moer café congelado pode realmente garantir que os grãos sejam moídos mais uniformemente.

“Nossa pesquisa mostrou que a distribuição de partículas muda porque o café congelado é mais frágil do que à temperatura ambiente. Além disso, quando você moe mais fino, o moedor produz mais calor. E iso pode destruir os sabores do café”, afirma Maxwell.

Maxwell explica ainda que, durante a realização da pesquisa, percebeu isso com maior nitidez nos cafés mais aromáticos, que tinham sabores frutados e complexos.

“Ao realizar degustações às cegas, verificou-se que o café congelado pontuou mais alto, com mais aromas e acidez”, diz ele. “Isso ocorre por esses aromas serem compostos voláteis, portanto, mais propensos a serem destruídos e perdidos enquanto o café está sendo moído”.

No entanto, Christopher me diz que mais pesquisas são necessárias para entender se isso é verdade para diferentes tipos de café, incluindo diferentes origens, métodos de processamento e perfis de sabor. “Ainda não sabemos disso”, diz ele. “Esses tipos de estudos longitudinais seriam interessantes e valiosos para a indústria do café.”

moedor de cafés de cúpula dupla

O café congelado pode danificar seu moedor?

Antes de discutir como o café congelado afeta os moedores, precisamos entender se ele causa algum dano aos próprios grãos. “Resultados limitados mostram que o congelamento do café tem pouco efeito sobre os grãos de qualquer forma – tanto para o café verde quanto para o torrado”, diz Maxwell. 

O café torrado tem aproximadamente 2% de teor de umidade. Isso significa que o congelamento de grãos de café torrados tem pouco ou nenhum impacto na estrutura celular – o que já foi irreversivelmente alterado ao ser torrado.

Quando se trata de danos potenciais causados aos moedores, Maxwell diz que as respostas não são totalmente claras. “Há preocupação com a moagem do café congelado, pois ele pode atrair condensação. E isso pode causar danos às mós por conta da água, mas as evidências são inconclusivas. Apesar disso, alguns fabricantes não recomendam moer o café congelado”.

Christopher diz que moer café congelado não causa nenhum dano aos moedores. 

“Os fabricantes sugerem não moer o café do café congelado devido ao café ser ‘mecanicamente’ diferente do café torrado à temperatura ambiente”, ele me diz. “Em nosso estudo de 2016, descobrimos que é provável que o café passe por algum tipo de transição em torno de 0 ° C, o que sugere que algo ‘mecanicamente’ muda na estrutura celular dos grãos.

“No entanto, não achamos que essa mudança afete o moedor”, acrescenta. “O café torrado só estará no seu ‘mais difícil’ se for torrado em carbono puro ou queimado e mesmo assim é significativamente menos duro do que o titânio ou o aço, que são materiais comumente usados nas lâminas.” Christopher concorda, dizendo: “O desafio de moer grandes quantidades de café é que leva tempo, então, quando o café é moído, ele pode ter se aquecido. Em última análise, você precisa moê-lo rapidamente”.

O desperdício e a sustentabilidade

No entanto, Christopher acrescenta que, ao falar sobre o desperdício do congelamento do café, é importante entender o contexto mais amplo da sustentabilidade na indústria do café.

“Eu encorajo as pessoas a não se concentrarem muito nisso porque é uma questão menor em comparação com outros impactos ambientais na cadeia de suprimentos”, ele me diz.

“É claro que queremos minimizar o desperdício, mas o congelamento do café está ajudando a preservar e prolongar a vida útil do café, que provavelmente tem uma pegada significativa de dióxido de carbono. Deixar o café ficar velho e perder seu frescor também seria um tremendo desperdício”, conclui.

Moedor de dose única

Embora seja um tópico de discussão clara, moer café congelado tem benefícios claros. No entanto, não há muita evidência clara sobre o efeito do café congelado nas rebarbas do moedor. No entanto, baristas e consumidores devem ter cuidado – especialmente quando se trata de acúmulo de condensação nas lâminas do moinho.

É provável que a tendência de congelar café torrado e verde continue, então mais pesquisas sobre como o café congelado afeta o desempenho do moedor são primordiais.

Gostou? Então leia nosso artigo sobre o que é o futuro do café espresso.

PDG Brasil

Traduzido por Daniela Melfi

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O que é erva-mate? https://perfectdailygrind.com/pt/2023/05/01/o-que-e-erva-mate/ Mon, 01 May 2023 10:06:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=12638 Em todo o mundo, muitas pessoas bebem café por seu teor de cafeína – um estimulante natural que pode melhorar uma série de funções cognitivas. Além do café, essa substância também é encontrada em outros produtos, como chá, cacau, guaraná e erva-mate. Consumida há séculos em alguns países da América do Sul, a erva-mate (Ilex […]

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Em todo o mundo, muitas pessoas bebem café por seu teor de cafeína – um estimulante natural que pode melhorar uma série de funções cognitivas. Além do café, essa substância também é encontrada em outros produtos, como chá, cacau, guaraná e erva-mate.

Consumida há séculos em alguns países da América do Sul, a erva-mate (Ilex paraguariensis) é um vegetal que pertence ao gênero llex. Uma vez secos, seus caules e folhas podem ser mergulhados em água quente para produzir uma bebida terrosa e ligeiramente amarga, semelhante a um chá.

Atualmente, as bebidas à base de erva-mate podem ser encontradas em todo o mundo, incluindo as opções de bebidas prontas para consumo (RTD), cada vez mais populares nos EUA e na Europa. Segundo a BevNet, o mercado de erva-mate RTD foi avaliado em US$ 93,2 milhões em 2016 e é provável que esse número tenha crescido desde então.

Para saber mais sobre a erva-mate, como ela é tradicionalmente preparada e consumida e seu crescente mercado de RTD, conversei com três especialistas da indústria. Continue lendo para saber mais sobre eles.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre se o chá verde contém mais cafeína do que o café.

Erva-mate preparada da forma tradicional

Uma breve história

Acredita-se que a planta Ilex paraguariensis tenha sido descoberta por indígenas guaranis que viviam no que hoje é conhecido como Paraguai. Durante séculos, ela foi consumida por tribos indígenas por razões culturais e espirituais, bem como por seus supostos efeitos medicinais.

O povo Guarani inicialmente mastigava as folhas e caules da planta, mas depois começou a mergulhá-la em água para criar uma bebida semelhante ao chá. Isso era feito em panelas de barro ou em cabaças ocas e secas. E a bebida era consumida usando varas ocas como uma espécie de canudo.

No entanto, quando os colonos europeus chegaram ao Paraguai em  meados do século XVI , o consumo de  erva-mate foi inicialmente proibido. As potências coloniais europeias consideraram a planta viciante à época.

Nos anos que se seguiram, no entanto, os colonos europeus reverteram a proibição e forçaram os povos nativos escravizados a aumentar a produção da erva. A primeira rota  comercial para a erva-mate foi estabelecida em 1645, permitindo que folhas e caules secos fossem exportados para países europeus.

Com o aumento do consumo de erva-mate – tanto no país quanto no exterior – tornou-se uma das maiores culturas de renda da colônia. No entanto, esse crescimento veio às custas da exploração dos povos indígenas. A produção então começou a aumentar constantemente em países vizinhos, como Argentina e Brasil.

No final dos anos 1700, colonos europeus foram expulsos do Paraguai, o que significou que muitas plantações de erva-mate foram abandonadas e, por sua vez, a produção começou a diminuir.  Após uma guerra devastadora ocorrida de 1864 a 1870, a Argentina e o Brasil anexaram algumas das terras paraguaias, que incluíam grandes regiões de cultivo. Isso significou que a produção no país chegou ao fim, enquanto na Argentina e no Brasil ela cresceu e ambos países passaram a exportar mais.

Pessoa com uma caneca de erva-mate nas mãos

A importância cultural da erva-mate

A Erva-mate tem profundas histórias enraizadas em várias culturas diferentes na América do Sul. De acordo com a Statista, a Argentina produziu mais de 837.200 toneladas em 2019. Além disso, o Instituto Nacional de Erva-mate afirma que 100 litros da bebida são consumidos a cada ano per capita. O Brasil, hoje, é o maior produtor mundial de mate com base em estatísticas da FAO-ONU.

De acordo com Callum Berry, proprietário da importadora britânica Anam Mate, beber erva-mate é culturalmente significativo em alguns países da América do Sul. “Lá as pessoas cresceram bebendo e ainda bebem hoje – é parte de sua tradição e herança”, diz.

Durante séculos, a bebida foi preparada e consumida em comunidade. Seguindo a colonização do povo nativo paraguaio, os gaúchos (que são considerados caubóis sul-americanos) preservaram a tradição de compartilhar erva-mate entre amigos e familiares.

Andrés Puras Fernández é chileno e dirige um canal do YouTube sobre erva-mate. Ele conta que a bebida ainda é consumida por meios tradicionais em toda a América do Sul. “Em supermercados e casas na Argentina, Brasil e Uruguai, você verá muitos produtos de erva-mate. E encontrará pessoas bebendo em muitos lugares”, diz.

Cada vez mais conhecida fora de seu berço

No entanto, tanto Andrés quanto Callum mencionam que a bebida não é tão popular em outras partes do mundo, mas dizem que a demanda parece ter aumentado nos últimos anos.

Na verdade, a erva-mate também é comumente consumida no Líbano, na Síria e em outras partes do Oriente Médio (principalmente pelo povo druso e alauita). Mas isso está em grande parte ligado à migração histórica da América do Sul.

Andrés menciona especificamente que seu canal no YouTube viu um aumento significativo no tráfego durante a pandemia. E que, além disso, a popularidade da erva-mate entre os jogadores profissionais de futebol do Reino Unido pode ser atribuída ao aumento da demanda geral.

“Não vai agradar a todos porque algumas pessoas podem querer uma bebida mais rápida e conveniente”, diz ele. “Mas a maneira tradicional de consumir erva-mate se alinha com meus próprios valores pessoais. É algo para desacelerar e tirar um tempo do meu dia para aproveitar.”  Essa ideia é um pouco semelhante à filosofia  Slow Food, que abraça a ideia de reservar um tempo para desfrutar de alimentos e bebidas – incluindo o café e a erva-mate.

Uma bomba, espécie de canudo usado tradicionalmente para consumir o mate

Como se prepara o mate?

Tradicionalmente, as folhas de erva-mate secas são colocadas em uma cabaça. Em seguida, você adiciona água quente (mas não fervente). Aí então deixa que as folhas fiquem imersas por alguns minutos.

Uma vez preparado, o erva-mate é geralmente consumido através de uma bomba, que é um canudo de metal contendo um filtro embutido. A cabaça pode então ser recarregada com água quantas vezes forem necessárias ou até que as folhas tenham perdido a maior parte de seu sabor.

Callum me diz que enquanto alguns consumidores hoje optam por vasos de vidro ou aço, muitos ainda preferem cabaças artesanais e bombas feitas de materiais naturais. Estes podem incluir certos tipos de madeiras, como Palo Santo, ou podem até ser feitos de cabaças ocas, curadas e secas.

Muitas pessoas acreditam que beber erva-mate de uma cabaça tradicional confere mais sabor à bebida e melhora a experiência geral.

“Em comparação com beber de uma caneca, usar uma cabaça tradicional tem muito mais significado cultural”, explica Callum. “Você tem que cuidar da sua cabaça, então a conexão que você tem com ela é única.”

Os rituais associados e alternativas de consumo

Andrés diz que há uma cultura de entusiastas da erva-mate. “Há as pessoas que realmente gostam da bebida. E às vezes elas fazem suas próprias cabaças, bombas e outros acessórios, devido a cultura ser interessante para elas”, diz.

Victoria de la Torre é a fundadora da SouthmaTea, um fornecedor de erva-mate com sede em Buenos Aires, Argentina. Ela me diz que as crianças bebem mate nas escolas da Argentina, muitas vezes adicionando leite e açúcar para “torná-lo mais agradável” para paladares menos desenvolvidos.

Andrés diz que o clima pode influenciar como as pessoas preparam o erva-mate. Por exemplo, em países que experimentam períodos mais longos de clima quente, muitas pessoas optam por preparar a bebida usando água fria – o que, sem dúvida, afeta o tempo total de preparação e a extração de sabores.

Descrevendo os sabores da erva-mate

“Amargo” é muitas vezes uma palavra usada para descrever a erva-mate, mas Victoria diz que seus sabores podem variar de acordo com fatores como origem e métodos de secagem.

“Semelhante ao café e ao vinho, os sabores podem variar dependendo do terroir onde foi cultivado. Algumas origens podem ter um sabor mais terroso, enquanto outras podem ter um sabor mais complexo, picante e agridoce”, ela explica.

Victoria acrescenta ainda que o mate argentino é geralmente cultivado em solo rico em minerais na floresta tropical do país, e que as folhas são secas sobre o fogo, o que pode trazer notas defumadas à bebida. Andrés concorda, dizendo que uma vez que você se familiariza com os sabores do mate, é provável que você saiba onde ele foi cultivado. Isso se assemelha com os cafés de origem única. Ele diz ainda que a erva-mate argentina é mais doce, indicada para quem bebe pela primeira vez. 

Benefícios e riscos para a saúde

Em todo o mundo, muitas pessoas bebem erva-mate por seus supostos benefícios à saúde. Pesquisas descobriram que o consumo de mate está associado à perda de peso e à proteção do sistema  imunológico. Além disso, a erva contém antioxidantes como saponinas e polifenóis. Essas substâncias têm propriedades anti-inflamatórias e redutoras do colesterol.

No entanto, esses benefícios para a saúde variam conforme a quantidade de erva-mate que você consome e como você bebe, além de como as folhas são secas e processadas.

Segundo Callum, existem muitas variedades de mate e o sabor e a composição química de cada uma delas é diferente. “Como ela pode ser consumido por longos períodos, não resulta em uma injeção muito alta de cafeína”, diz.

“A erva-mate pode ser comparado ao café em termos de teor de cafeína”, explica Victoria. “Ele pode ser consumido ao longo do dia e pode ajudar a mantê-lo alerta e energizado.”

Normalmente, uma porção de 150 ml de erva-mate contém cerca de 80 mg de cafeína, mas diferentes variedades podem ter quantidades variáveis de cafeína. No entanto, adicionar continuamente mais água à bebida significa que a ingestão de cafeína pode aumentar significativamente.

Além disso, os caules e as folhas são frequentemente secos sobre o fogo, e algumas fontes sugerem que isso pode formar hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. Estes são conhecidos por serem cancerígenos, mas mais pesquisas clínicas são necessárias para verificar cientificamente quaisquer supostos riscos e benefícios para a saúde da erva-mate.

Lata de bebida gelada e pronta para o consumo à base de mate.

Bebidas prontas para o consumo à base de erva-mate

Andrés diz que, embora os métodos de consumo mais tradicionais possam não atrair a maioria das pessoas, a crescente diversificação dos produtos de erva-mate e dos métodos de preparação está ajudando a tornar a bebida mais popular. 

“Nos EUA, algumas pessoas a preparam em uma prensa francesa”, diz ele, que acrescenta: “As bebidas energéticas RTD (prontas para o consumo) à base de erva-mate também estão se tornando mais populares. Pode-se incluir frutas para criar diferentes sabores.” 

Atualmente, existem vários produtos de mate enlatados RTD, em especial nos EUA e na Europa. Uma marca proeminente é a Guayakí, criada na Califórnia em 1996. Além de vender folhas soltas de erva-mate, a empresa também vende bebidas em latas e gaseificadas.

Em 2021, a subsidiária da Coca-Cola, Honest Tea, lançou uma bebida de erva mate RTD, que incluía várias opções diferentes de sabor.

Mais inovações e potencial de mercado

Callum também observa a variedade de sacos de mate de dose única adoçados agora disponíveis no mercado para aqueles que procuram métodos de preparação mais convenientes.

Em relação ao seu potencial de mercado, Andrés diz que a erva-mate é tipicamente mais barata do que o café, o que poderia ajudar a torná-la mais popular. No entanto, ele ressalta que, devido ao pequeno número de países produtores de mate, é improvável que a produção possa escalar significativamente. Callum considera que é necessário estabelecer uma distinção entre as opções tradicionais de erva-mate e as opções de RTD, em grande parte porque oferecem experiências diferentes aos consumidores.

Uma cuia de mate

A rica história da erva-mate, sem dúvida, a torna uma bebida culturalmente significativa para muitas pessoas na América do Sul. Para os bebedores mais tradicionais, o ritual de preparar e compartilhar mate com amigos e familiares é de vital importância.

No entanto, com o crescente número de produtos mate disponíveis em todo o mundo, é claro que as formas mais modernas de consumir a bebida também estão se tornando cada vez mais populares.

“Mais pessoas deveriam experimentar”, conclui Andrés. “É uma bebida interessante com muita herança tradicional, mas não é valorizada o suficiente.”

Gostou? Então leia nosso artigo sobre o que é um matcha latte?

PDG Brasil

Traduzido por Daniela Melfi

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Há espaço para novas competições de baristas e café? https://perfectdailygrind.com/pt/2023/04/19/ha-espaco-para-novas-competicoes-de-baristas-e-cafe/ Wed, 19 Apr 2023 10:03:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=12647 No café especial, há uma gama de competições projetadas para testar as habilidades e o conhecimento de diferentes profissionais. Dentre estes, os Campeonatos Mundiais de Café (WCC) são amplamente reconhecidos como os respeitados e conceituados no setor. E entre eles, o destaque fica com os Campeonatos Mundiais de Baristas (WBC). Sem dúvida, há muitas razões […]

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No café especial, há uma gama de competições projetadas para testar as habilidades e o conhecimento de diferentes profissionais. Dentre estes, os Campeonatos Mundiais de Café (WCC) são amplamente reconhecidos como os respeitados e conceituados no setor. E entre eles, o destaque fica com os Campeonatos Mundiais de Baristas (WBC).

Sem dúvida, há muitas razões para celebrar eventos WCC, incluindo as tendências inovadoras e únicas que podem surgir a partir das performances dos concorrentes. No entanto, nos últimos anos, o WBC, em particular, tem recebido críticas por falta de inclusão e acessibilidade, levando alguns a propor mudanças no formato dessas competições.

Então, há espaço para novas competições de café na indústria? E como podemos tornar as competições existentes mais inclusivas? Para saber mais, conversei com dois organizadores de eventos de café. 

Você também pode gostar do nosso artigo sobre se o Campeonato Mundial de Baristas precisa mudar.

Juízes trabalhando em competição de baristas

Entendendo o WBC – Campeonato Mundial de Baristas

Ola Brattås é o fundador do Kokekaffe Championships, uma competição anual em que os competidores preparam seus cafés usando um método tradicional nórdico.

Segundo ele, o organizador do WCC, World Coffee Events (WCE), é uma grande organização que ajudou a estabelecer a autoridade e a credibilidade das competições. “Organizou eventos do WCC por muitos anos e reformulou as regras à medida que as competições evoluíram ao longo dos anos”, ele acrescenta.

Embora existam sete eventos WCC, incluindo a World Brewers Cup e o World Coffee in Good Spirits Championship, a WBC é sem dúvida a mais impactante. 

Os vencedores anteriores do WBC muitas vezes lançam tendências, adotadas pelo café especial mais amplamente. Por exemplo, o Campeão Mundial de Baristas de 2015 Saša Šestić usou um lote da variedade Sudan Rume processada através de maceração carbônica em sua rotina vencedora – levando a um crescente interesse no método e na variedade. Além disso, competir no WBC permite que os baristas mostrem suas habilidades e conhecimentos em uma plataforma global – potencialmente levando a novas oportunidades de carreira e negócios.

A questão do formato das competições WCC

Os eventos do WCC também são conhecidos por serem muito formais e focados em regras, aumentando seu prestígio e credibilidade. Para alguns, essa abordagem fornece aos concorrentes orientações claras sobre como desenvolver suas rotinas na esperança de receber pontuações mais altas.

No entanto, alguns afirmam que isso pode tornar os eventos WCC exclusivos e inacessíveis – especialmente para concorrentes que não são de países de língua inglesa.

Steve Moloney é o fundador da Ordna  Event Agency e da The Barista League, uma competição de estilo barista que acontece em vários países todos os anos. De acordo com ele, a A WCE ajudou a estabelecer padrões internacionais para competições de café há cerca de 20 anos.

“No entanto, o conceito original para o WBC foi criado em um momento em que havia mais necessidade de estabelecer padrões e práticas comuns às competições de café. Apesar das críticas, devemos reconhecer que as competições em geral se beneficiaram do formato padronizado da WBC”, acrescenta ele.

Competição The Barista League

E Quanto a outras competições de baristas ou de café?

Ao lado de eventos WCC, há uma série de competições de café que ocorrem todos os anos. Um desses eventos é o World AeroPress Championship (WAC), que foi criado em 2008. Há ainda a The Barista League que acontece anualmente desde 2015 e o Coffee Masters que acontece bianualmente durante os festivais de café de Londres e NY.

No caso do WAC, todos os anos cerca de 3.000 profissionais de café de 60 aproximadamente países participam de competições nacionais e regionais. Nelas, o preparo do café é feito sempre usando a AeroPress e o ambiente é bem menos formal e focado em regras.

Da mesma forma, a The Barista League é outro exemplo de uma competição de café inclusiva e informal. Nela, os participantes competem em várias rodadas de desafios com um foco significativo em práticas sustentáveis – incluindo o uso exclusivo de leite de aveia. Já no Coffee Masters, os concorrentes são testados em várias habilidades diferentes – incluindo cupping, preparo com filtro e latte art.

Outros exemplos de competições alternativas

Além disso, há as competições de café que se concentram em outros métodos de preparo que estão se tornando mais comuns.

Entre elas está o primeiro Toddy Cold Brew Championship, realizado na PRF Colômbia no início deste ano. Nele, os concorrentes prepararem três tipos diferentes de bebidas frias.

Há ainda o Campeonato Mundial de Kokekaffe, uma competição relativamente nova na indústria do café que, segundo Ola, é um pequeno evento com algumas regras simples que são fáceis de entender.

“A competição dura cerca de duas horas, e também há a opção de ter um substituto participando em seu nome para reduzir os custos dos concorrentes, se necessário. No campeonato, um mesmo café é fornecido a todos e não é necessário criar uma apresentação para participar”, ele acrescenta.

Steve destaca a importância de incentivar o surgimento de novas competições de café. “Quanto mais eventos e competições diferentes tivermos na indústria do café, melhor para todos”, diz.

“Somos uma indústria diversificada, mas às vezes pode haver muito foco em um padrão de competição de café, o que significa que estamos potencialmente perdendo o apoio a outros tipos de criatividade e inovação. Novos formatos de competição e eventos podem inspirar as pessoas e impulsionar o setor em direções novas”, conclui.

Competidores na The Barista League

Os desafios de lançar uma nova competição de baristas

Tendo em conta os valores da indústria do café especial, há, sem dúvida, espaço para mais inovação e diversificação no que diz respeito a eventos e competições.

“Em todo o mundo, há tanta inovação acontecendo com as competições de café que podem não ser exibidas em uma plataforma global”, diz Steve. “É uma oportunidade de criar algo novo – testar diferentes ideias e ultrapassar os limites de outras competições.”

No entanto, Ola explica que pode levar vários anos para estabelecer uma competição de café. “Pode depender de vários fatores, como o nível de cobertura da mídia e a aceitação dos profissionais de café”, diz ele.

“Pode levar cerca de quatro a cinco anos para que um organizador estabeleça plenamente uma competição na indústria do café especial. O Campeonato Mundial de Kokekaffe foi realizado por seis anos consecutivos. Estamos começando a receber mais credibilidade no circuito à medida em que o evento cresceu nos últimos anos”, ele acrescenta.

O fator diversão

Steve acredita que, embora as competições testem, na maior parte das vezes, as habilidades dos concorrentes, elas também precisam ser divertidas e positivas para aqueles que estão envolvidos.

“Mesmo a equipe que ficou em último lugar na competição precisa obter tanto valor do evento quanto a equipe vencedora, ou como um juiz ou voluntário”, explica. “Ao fazer isso, mudamos o foco predominante da vitória e mais para a criação de mais oportunidades para as pessoas na indústria do café.”

Ola concorda, dizendo: “Para muitos baristas, as competições apresentam a possibilidade de criar uma plataforma a partir da qual possam iniciar seu próprio negócio.”

Participante da competição de baristas The Barista League

Sobre acessibilidade e inclusão nas competições

Uma das maiores críticas aos eventos da WCC, particularmente a WBC, é que os concorrentes muitas vezes têm que gastar uma quantia significativa de dinheiro em equipamentos e recursos para suas rotinas. Isso também inclui seus cafés, que normalmente são lotes, variedades ou até espécies mais sofisticadas e únicas.

Em última análise, isso pode significar que os concorrentes com menos apoio financeiro tendem a estar em desvantagem.

“O WBC é o maior evento da indústria do café”, diz Steve. “A competição tem, indiscutivelmente, as maiores apostas, mas também é caro participar, o que significa que tem uma grande barreira à entrada em comparação com outras competições.

“Acredito que esse problema possa ser facilmente abordado pela WCE”, acrescenta.

Igualdade de condições entre os participantes

Eventos mais acessíveis, entretanto, poderiam criar condições de concorrência mais equitativas para os concorrentes. Ao melhorar o acesso às competições para aqueles com menos apoio financeiro, eles podem conseguir mostrar suas habilidades e conhecimentos em uma escala muito maior.

“Quando se trata de desenvolver regras para competições de café, às vezes precisamos olhar fora da caixa. E à medida que a competição acontece todos os anos, os organizadores podem estabelecer mais facilmente quais elementos do evento precisam mudar para garantir que desenvolvam uma competição alinhada com seus objetivos”, conclui Steve.

The Barista League

É provável que os eventos WCC continuem a ser considerados as competições mais prestigiadas na indústria do café, mas há claramente uma necessidade crescente de eventos mais acessíveis e inclusivos que também ocorram ao lado deles.

Ao organizar e organizar competições de café mais acessíveis, podemos incentivar e apoiar uma gama mais ampla de profissionais de café a participar – ajudando a criar uma comunidade de café mais diversificada.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre se  devemos permitir leites vegetais nos Campeonatos Mundiais de Baristas.

Créditos das fotos: The Barista League

PDG Brasil

Traduzido por Daniela Melfi

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Aquisições estão se tornando mais comuns na indústria do café? https://perfectdailygrind.com/pt/2023/03/31/fusoes-e-aquisicoes-na-industria-do-cafe/ Fri, 31 Mar 2023 10:04:00 +0000 https://perfectdailygrind.com/pt/?p=12547 Aquisições são comuns em todos os tipos de indústrias ao redor do mundo, e o setor de café não é exceção. Nos últimos anos, temos visto uma tendência crescente de marcas multinacionais de café adquirindo redes de cafeterias e torrefações focadas em cafés especiais. Muitos estão se perguntando se esta consolidação do mercado é o […]

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Aquisições são comuns em todos os tipos de indústrias ao redor do mundo, e o setor de café não é exceção. Nos últimos anos, temos visto uma tendência crescente de marcas multinacionais de café adquirindo redes de cafeterias e torrefações focadas em cafés especiais.

Muitos estão se perguntando se esta consolidação do mercado é o início de uma mudança mais ampla para a indústria, e se o café especial pode ser dominado por holdings, em vez de distribuído entre uma grande variedade de marcas de menor porte.

No entanto, é claro que a Covid-19 mudou o modo como as empresas de café operam, o que acaba influenciando os motivos por trás dessas aquisições. Com cada vez mais empresas do setor de café buscando oportunidades garantidas de crescimento, a aquisição de marcas desse segmento de marcado pode ser um caminho a seguir.

Para entender por que as aquisições de empresas de café estão se tornando cada vez mais comuns e o que essa mudança pode significar para o mercado global de café, conversei com vários especialistas do setor. Continue a ler para saber o que eles disseram.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre como abrir e gerenciar várias cafeteroas de forma eficaz.

pacotes de café da Starbucks em prateleira de mercado

O que são fusões e aquisições?

Fusões e aquisições são comumente agrupadas quando se fala sobre a transferência de propriedade de negócios ou sua consolidação dentro do mercado. Mas quais são as principais diferenças?

Resumidamente, uma fusão é um acordo entre duas empresas para se unirem e formarem uma única empresa. Isso é feito por uma série de razões, incluindo a ampliação do alcance o aumento na participação de mercado.

Aquisições, entretanto, acontecem quando uma empresa compra algumas ou todas as ações de outra. Nesse caso, as empresas tanto podem manter seus próprios nomes e marcas, quanto abrir caminho para que haja a absorção de uma das marcas pela outra.

Há muitas razões pelas quais as empresas optam por comprar ações de outros negócios ou permitir que suas ações sejam adquiridas. Assim como nas fusões, as maiores razões são expandir ou diversificar seu alcance e ter acesso a novos mercados usando a experiência pré-existente de outra marca.

Alternativamente, as empresas podem adquirir outras marcas para obter acesso a novas tecnologias ou propriedades intelectuais. Isso não só pode ajudar uma empresa a acompanhar os concorrentes, mas também permitir a contratação mais rápida de funcionários e o acesso a recursos necessários para lançar novos produtos e serviços.

Embalagens de café da marca Stumptown, que passou por processo de aquisição, em prateleira

Principais aquisições recentes no setor cafeeiro

Ao longo da última década, houve uma série de aquisições significativas na indústria do café – incluindo grandes redes e marcas menores de cafés especiais. Isso demonstra que o interesse corporativo em marcas de café especial tem aumentado na última década.

Um dos exemplos mais significativos aconteceu em 2019, quando a Coca-Cola adquiriu a rede de café britânica Costa Coffee por cerca de US$ 5 bilhões. A aquisição foi impulsionada por uma série de fatores, mas possivelmente porque o consumo de refrigerantes gaseificados nos EUA atingiu o menor volume em 30 anos em 2017.

Em 2021, a Coca-Cola HBC (terceira maior engarrafadora de produtos Coca-Cola do mundo) comprou uma participação de 30% na Caffè Vergnano – uma das torrefações de café mais antigas da Itália.

Outro exemplo é a Nestlé, que comprou uma participação majoritária na Blue Bottle Coffee, uma torrefação de café especial que atua nos EUA e no Japão, em 2017.

Em 2012, o conglomerado alemão JAB Holding Company adquiriu a Peet ‘s Coffee de São Francisco – pioneira na indústria do café especial. Três anos depois, a Peet’s comprou o Stumptown Coffee Roasters, torrefação especial de destaque em Portland, Oregon. A JAB Holding também adquiriu a cadeia de café e alimentos para viagem Pret A Manger, em 2018.

Em termos gerais, essas aquisições de marcas de café são um meio de expandir para novos mercados (como o café especial), aproveitando a experiência existente e as marcas estabelecidas. Por exemplo, a Starbucks e a Blue Bottle oferecem produtos diferentes para duas bases de consumidores muito diferentes, proporcionando-lhes alcance em dois segmentos de mercado importantes (e lucrativos).

As aquisições também podem ajudar as marcas existentes a se mudarem para novos mercados internacionais. Por exemplo, a empresa internacional de alimentos e ingredientes OFI concluiu a aquisição da empresa canadense de torradas e embalagens de café de 116 anos Club Coffee no início de 2022. Por fim, isso dá à empresa a chance de expansão na América do Norte (um dos maiores mercados globais de café), mantendo a experiência do Club Coffee e a imagem de marca estabelecida.

Executivo de marca de café comemora aquisição de sua companhia em frente a painel da bolsa de NY

A Covid-19 mudou as coisas?

Embora o movimento de fusões e aquisições entre marcas de café venha se intensificando há mais de uma década, a Covid-19 certamente influenciou as estratégias de muitas empresas.

No início da pandemia, 95% dos negócios de café fora de casa foram forçados a fechar as operações por vários meses. Naturalmente, isso resultou em um enorme aumento no consumo de café em casa, à medida que os consumidores começaram a preparar mais bebidas de café com qualidade em casa.

Sem dúvida, as empresas maiores passaram a querer capitalizar esta mudança no comportamento do consumidor de café, mas essa missão não seria fácil.

Umberto Doglioni Majer é presidente e diretor-executivo da Vea Ventures, uma holding que possui várias marcas de máquinas de café, incluindo Carimali, Elektra e Bellezza.

Ele explica que pode ser difícil escalar rapidamente o alcance de uma marca de café especial devido aos desafios inerentes que vêm com ela, como a obtenção de café de alta qualidade e rastreável.

Segundo ele, as empresas de café especial podem ser consideradas empresas em crescimento. “Este termo descreve marcas menores que empresas maiores podem adquirir como plataformas para construir. No entanto, os retornos de um investimento como esse geralmente não acontecem rapidamente. Pode levar anos para gerar lucro”, afirma.

Umberto diz que muitas empresas maiores estão agora buscando oportunidades de crescimento com uma melhor chance de sucesso. Em sua experiência, ele diz que isso significa adquirir ações de marcas mais estabelecidas, com um histórico comprovado de lucratividade e uma base de clientes leal.

Ele afirma que fatores como a pandemia, o aumento da inflação e as quedas no mercado de ações levaram a um aumento do interesse em adquirir empresas mais estabelecidas. “Isso porque essas marcas já terão melhores margens de lucro e maiores bases de consumidores”, acrescenta.

Balcão da cafeteria Blue Bottle, que passou por processo de aquisição recentemente.

As marcas de café especial se manterão competitivas se o mercado se consolidar?

O atual clima econômico para as pequenas empresas de café é, no mínimo, desafiador. O mercado atingiu recentemente a maior alta em 10 anos, o transporte é incrivelmente caro e as margens de lucro para os torrefadores aumentaram nos últimos meses.

Isso tornou mais difícil para os torrefadores e cafés menores se manterem lucrativos, e menos poder de compra significa que eles podem ter dificuldade em competir com marcas mais estabelecidas que foram adquiridas por uma multinacional.

Então, o que eles podem fazer para competir? Em alguns casos, as empresas de café menores podem se fundir.

Por exemplo, a Fairwave é um coletivo de marcas de café especial que decidiram se fundir após a pandemia. Ele foi formado pelas empresas The Roasterie, Messenger Coffee Company e Spyhouse Coffee Roasters.

No entanto, a consolidação de marcas não acontece apenas por meio de aquisições e fusões – também pode ocorrer por meio de parcerias estratégicas e iniciativas de serviços compartilhados. 

Um exemplo é o The Curate Coffee Collective, uma instalação de torrefação compartilhada em Portland (EUA). Desde 2020 ela está aberta a torrefadores de todos os tamanhos e oferece acesso a equipamentos e espaço de escritório, bem como recursos educacionais. 

No entanto, esse modelo não é tão comum na indústria do café – particularmente no setor de café especial.

De acordo com Spencer Turer, vice-presidente da consultoria de café Coffee Enterprises, apesar de ser difícil para as marcas de café menores permanecerem lucrativas, fusões e aquisições podem nem sempre ser a melhor solução.

“A espinha dorsal da indústria do café especial ainda é formada, na maioria das vezes, por pequenas empresas regionais”, explica. “Se esses torrefadores e cafés têm as habilidades, o conhecimento e a experiência – e são bem-sucedidos no que fazem – então por que eles deveriam se fundirem ou serem adquiridos por uma empresa maior?”

Embora fusões e aquisições com marcas maiores certamente possam ajudar marcas de café menores a crescer e alcançar novas bases de consumidores, também existem preocupações compreensíveis sobre como o controle de qualidade pode ser dimensionado e mantido.

Latas de cold brew da Blue Bottle

Nos meses e anos seguintes à pandemia da Covid-19, veremos como as fusões e aquisições prevalecerão no café especial – especialmente se o mundo caminhar para um período definido por uma recessão econômica global. 

É claro que a consolidação por meio de aquisições e fusões continuará, no entanto, a fazer parte da conversa sobre como o setor evolui e se encaminha para o futuro. Isso levanta questões sobre como as empresas regionais menores podem permanecer lucrativas.

Contudo, para cafés e torrefadores menores, o mais importante é entender como você pode continuar a atrair sua base de clientes. Em alguns casos, isso pode significar inovar conforme as tendências do café da terceira onda, mas em outros, pode significar apenas ouvir o que os consumidores querem de você – e atender a isso de acordo.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre como mudar a estratégia de café do seu negócio após a Covid-19.

PDG Brasil

traduzido por Daniela Melfi

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