Todos os anos, profissionais de café de todo o mundo, têm a chance de competir e mostrar suas habilidades em um dos eventos mais celebrados da indústria de cafés especiais – o World Barista Championship (Campeonato Mundial de Baristas).

Como muitas outras competições no setor, a WBC conta com vários patrocinadores para fornecer equipamentos, produtos e financiamento para a realização do evento. Para os competidores, isso significa que eles precisam usar máquinas de café espresso, moedores e diversos outros equipamentos específicos.

Mas a questão é que nem todos os competidores do Campeonato Mundial de Baristas têm acesso aos equipamentos oficiais antes da competição. Sendo assim, isso os coloca em desvantagem em relação a outros baristas? Para descobrir, conversei com um competidor e um treinador da WBC.

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Que equipamentos o Campeonato Mundial de Baristas oferece aos competidores?

A cada três a cinco anos, a SCA anuncia seus patrocinadores qualificados escolhidos para o WBC e demais Campeonatos Mundiais de Café. O processo de escolha envolve um conjunto de testes rigorosos e padronizados para os produtos ou equipamentos específicos que serão utilizados. E também se baseia em vários critérios diferentes, como:

• desempenho e consistência da máquina de teste;
• a capacidade da empresa de fornecer financiamento e apoiar a comunidade WBC;
• se os valores da empresa estão alinhados com a missão da SCA;

No caso de aprovação, essas marcas recebem promoção no evento, aumentando assim o interesse entre profissionais e empresários do setor. Além das máquinas de espresso e moedores, empresas de outras áreas também podem se interessar por patrocinar esses torneios, como:

• produtos de limpeza;
• filtragem de água;
• Bebida à base de plantas – uma nova categoria anunciada no final de 2022 após a mudança de regra, permitindo que os leites vegetais sejam usados na competição.

Patrocinadores e equipamentos qualificados para a temporada 2022-2025

Em 12 de janeiro de 2022, a SCA anunciou os patrocinadores qualificados para o World Barista Championship de 2022 a 2025. A Máquina de café espresso escolhida para esse período é a Tempesta da, Barista Attitude. Esse é um modelo relativamente novo, que veio para substituir a VA388 Black Eagle, da Victoria Arduino.

O Mythos MY75, da Victoria Arduino, por sua vez, é o moedor de café espresso patrocinador selecionado para o período. Este modelo substitui os moedores Peak e EK43 (S) da Mahlkönig.

No entanto, as preocupações sobre a perda da possibilidade de usar 2 moinhos diferentes e de preparar cafés de dose única foram resolvidas quando Victoria Arduino projetou um funil de dose única especificamente para os moedores Mythos. Isso significa que os competidores não perderão a liberdade de preparar vários cafés diferentes em sua rotina.

Exigir o uso exclusivo de equipamentos oficiais é ruim?

Sem patrocinadores qualificados, seria, sem dúvida, um desafio para a SCA sediar o WBC em um país diferente a cada ano. Além disso, fornecer os mesmos equipamentos a cada competidor ajuda a equilibrar as condições de cada um.

No entanto, também precisamos reconhecer que nem todos os baristas têm igual acesso ao mesmo equipamento para treinamento e prática. Vejamos os benefícios e desvantagens de usar equipamentos oficiais no World Barista Championship.

O uso de equipamentos patrocinados

Existem muitas máquinas de café espresso diferentes e moedores disponíveis no mercado. Por sua vez, é inevitável que os competidores se sintam mais confortáveis com um ou outro modelo. Principalmente com base em sua localização e quais marcas estão disponíveis ali. O orçamento disponível também é um fator-chave, se eles precisarem investir em equipamentos.

De acordo com Junior Vargas Otero, gerente da cafeteria Bean and Water e quatro vezes barista campeão da Áustria, O uso de equipamentos oficiais do World Barista Championship ajuda a aumentar a consistência nas rotinas de todos os competidores. “Usar as mesmas máquinas de café espresso e moedores no palco, como durante o treinamento, só servirá para melhorar a consistência, o que é fundamental no WBC”, diz.

Mesmo que duas máquinas de café espresso ou moedores diferentes funcionem com um padrão semelhante, ainda haverá algumas diferenças sutis entre eles, como:

• produzir tamanhos de moagem ligeiramente diferentes e distribuição de tamanho de partícula, mesmo em uma configuração de moedor semelhante;
• discrepâncias de peso mais perceptíveis entre as doses;
• mais variações na temperatura de infusão, duração da pré-infusão e controle da taxa de fluxo.

E a questão do acesso dos competidores a esses equipamentos?

Nem todos os competidores têm o mesmo acesso aos equipamentos oficiais da WBC, muito por conta da desigualdade nas condições econômicas e abertura de mercado dos diversos países de origem desses baristas.

Em última análise, isso pode significar que alguns competidores da WBC usarão o equipamento oficial pela primeira vez durante sua rotina na primeira rodada. Isso poderia colocá-los em desvantagem significativa em comparação com os baristas que praticaram em equipamentos oficiais – e que, portanto, estão muito mais familiarizados com essas máquinas e moedores.

Federico Bolaños é o fundador da Alquimia Coffee Company e treinador do Campeonato Mundial de Café. No total, ele treinou três baristas campeões mundiais, três finalistas da WBC, cinco semifinalistas e 15 baristas campeões nacionais. De acordo com ele, os competidores podem tecnicamente praticar em qualquer tipo de equipamento e ainda ter chance de vencer. “No entanto, aqueles que podem praticar com equipamentos oficiais da WBC poderão regular e calibrar seu café em um padrão mais alto”, afirma.

Junior, por sua vez, enfatiza que os competidores também precisam se concentrar em outros aspectos de suas rotinas, o que poderia potencialmente ter mais impacto no desempenho. “Você precisa escolher o café certo e se concentrar no conceito geral de sua rotina. A consistência também é fundamental, assim como sua rotina de treinamento, seu discurso e seus movimentos no palco.”

“Os competidores devem se concentrar em dominar o que já têm e já sabem”, acrescenta. “Isso pode incluir pontuar o mais alto possível na categoria técnica, além de ser criativo na rodada de bebidas exclusivas.”

A acessibilidade aos equipamentos e o equilíbrio da competição

Críticas sobre a exclusividade e inacessibilidade do World Barista Championship estão se tornando comuns há algum tempo. Em consonância com isso, é importante levar em conta como o acesso ao equipamento oficial desempenha um papel fundamental nesta conversa.

“Usar o mesmo equipamento em competições nacionais e no WBC seria uma vantagem”, explica Junior. “No entanto, os organizadores das competições nacionais têm patrocinadores diferentes, então eles só podem realizar o evento com o equipamento que recebem.”

Oportunidades de treinamento

Tanto Federico quanto Junior sugerem que os competidores poderiam ter mais tempo para praticar usando o equipamento oficial da WBC.

“Antes das finais mundiais acontecerem, deve haver mais tempo alocados para treinamento em uma instalação exclusiva. Dessa forma, os competidores têm mais tempo para se familiarizar com a máquina de café espresso e moedores”, diz Junior

Federico concorda, dizendo: “Talvez os patrocinadores de equipamentos qualificados possam abrir instalações de treinamento em parceria com distribuidores globais. Isso permitiria que os competidores que não têm acesso ou não podem comprar o equipamento pudessem treinar usando equipamentos oficiais.”

Outra opção poderia ser fornecer aos competidores do WBC mais de uma máquina de café espresso e moedor a uma variedade de preços, tornando-os mais acessíveis. “Seria interessante verificar se ter mais de um patrocinador de equipamentos para as categorias de máquina de café espresso e moedores poderia melhorar a acessibilidade”, diz Federico. 

No entanto, como mencionado anteriormente, diferentes máquinas de café espresso e moedores apresentam diferentes desempenhos. Em última análise, isso significa que alguns competidores podem ter vantagem sobre os outros.

Outras formas de promover a equidade de condições

Além de ter acesso ao mesmo equipamento, Federico e Junior sugerem que os competidores também poderiam usar o mesmo café. No entanto, Federico ressalta que isso seria difícil de colocar em prática. “Não é uma tarefa fácil, se todos os competidores usassem o mesmo café, também torrado pelo mesmo torrador”, ele me diz. 

“Os competidores também podem ter um treinador WBC patrocinado ou certificado, ou poder se apresentar em sua língua nativa”, diz Junior. Outra maneira de nivelar a concorrência seria criar uma rodada de serviço aberto – semelhante ao World Brewers Cup.

“Os baristas poderiam usar o mesmo café, máquina de café espresso e moedor”, acrescenta. “Eles seriam julgados com base em pura habilidade técnica e fluxo de trabalho.”

O papel dos patrocinadores qualificados no WBC é claramente grande parte da estrutura da competição. Sem eles, não teríamos um dos eventos mais inovadores e emocionantes em cafés especiais.

No entanto, também precisamos examinar o quão acessível é esse equipamento. Um excelente barista deve ser capaz de se adaptar a diferentes máquinas de café espresso e moedores, mas em um ambiente de alto risco como o WBC isso nem sempre é fácil.

E com muita conversa sobre melhorar a acessibilidade e a inclusão no WBC, será interessante ver o futuro da competição – incluindo os requisitos oficiais de equipamentos.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre se o World Barista Championship é muito exclusivo e caro para os competidores.

Créditos das fotos: Junior Vargas Otero, Specialty Coffee Association, World Coffee Events

PDG Brasil

Traduzido por Daniela Melfi

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