Como é ser barista no oriente médio?
O Oriente Médio tem uma das culturas de café mais antigas do mundo. Na verdade, o café árabe tradicional (também conhecido como café qahwa) recebeu o status de Patrimônio Cultural Imaterial da UNESCO em 2015.
Juntamente com seu significado histórico e cultural, o setor cafeeiro do Oriente próximo tem florescido nos últimos anos. De acordo com dados do Project Café Middle East 2023, o mercado de cafeterias dessa região cresceu 10,5% nos últimos 12 meses. A Arábia Saudita representa sozinha 40% deste volume.
Além de um número crescente de redes maiores, cafeterias pequenas e independentes também estão sendo abertas no Oriente Médio. E com um foco crescente em cafés especiais vem um conjunto diferente de expectativas para os baristas do setor.
Para saber mais sobre como o papel do barista evoluiu no mercado de café do Oriente Médio, conversei com três profissionais da indústria local. Leia para descobrir mais.
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A história do café no oriente médio
Antes de explorar o crescente mercado de café no Oriente Médio, é importante dar uma olhada na rica história do café na região.
Muitos historiadores concordam que o Iêmen, no extremo sul da península Arábica, foi o primeiro centro comercial de comércio de café do mundo. Embora alguns acreditem que o café tenha sido descoberto ali, no século IX, a maioria dos especialistas afirma que os grãos foram levados da Etiópia para o Iêmen entre os séculos XIV e XV.
Até o século 18, o porto de Mokha, no Iêmen, era o maior mercado de café do mundo. À medida que o comércio e a produção de café cresciam globalmente, através de estruturas coloniais e imperiais, muitas casas de café começaram a abrir nos países do Oriente Médio.
As casas de café rapidamente se tornaram espaços de reunião importantes para a população local. Ali se discutiam questões sociais, políticas e econômicas. Além disso, também era costume as pessoas prepararem café em casa para os hóspedes e ainda hoje é assim em muitas partes do Oriente Médio.
Como o café especial chegou ao oriente médio?
Embora a relação do Oriente Médio com o café remonte a séculos, foi apenas recentemente que o mercado de cafés especiais da região começou a surgir.
Wayel Al-Wohaibi é sócio da Sulalat Specialty Coffee Roastery em Riad, Arábia Saudita. Ele diz que Dubai, nos Emirados Árabes Unidos (EAU), foi um dos primeiros lugares no Oriente Médio onde o café especial cresceu.
“A RAW Coffee Company foi uma das primeiras empresas de cafés especiais a abrir as portas em Dubai em 2007. Me lembro de visitar seu pequeno estande no Dubai Garden Centre quando eles inauguraram”, diz ele.
“Mostrei a eles meu torrador e, por sua vez, eles me incentivaram a começar meu próprio negócio”, acrescenta. Entre o final de 2017 e o início de 2018, o café especial também começou a explodir no Golfo Pérsico, no Catar e no Kuwait.
Milorad Sekulovic é o chefe de operações da Coffee Planet em Dubai. Ele me diz que nos últimos cinco anos, ele viu em primeira mão o quanto a cena do café especial cresceu no Oriente Médio.
“Dubai está no centro dessa mudança. Mas o crescimento nos Emirados Árabes Unidos, bem como na Arábia Saudita, também foi notável. No entanto, há cada vez mais planos para investir no setor cafeeiro do Oriente Médio, então esse crescimento está longe de terminar”, explica ele.
Além disso, o consumo de café em países como Omã, Egito e Jordânia tem aumentado significativamente nos últimos anos – indicando potencial para crescimento adicional nos próximos 5 anos.
A mudança no papel dos baristas
Em cafeterias especializadas em todo o mundo, os baristas desempenham um papel fundamental na experiência do cliente.
Mariam Erin é uma Q-grader e tecnóloga de alimentos. Ela também é a Campeã Barista dos Emirados Árabes Unidos de 2023, bem como a campeã do método Cezve dos Emirados Árabes Unidos de 2022 e a campeã da Brewers Cup Champion dos Emirados Árabes Unidos de 2021. Ela explica que as responsabilidades dos baristas incluem:
- Saber preparar e servir café de alta qualidade;
- Ajudar os consumidores a tomar decisões de compra mais informadas;
- Proporcionar excelente atendimento ao cliente;
- Disseminar o conhecimento sobre o café.
“No entanto, há também uma série de outros deveres que os baristas precisam se concentrar”, acrescenta.
Além de aprimorar suas habilidades técnicas e de atendimento ao cliente, mais baristas estão se concentrando em papéis na educação, treinamento e gerenciamento.
“Dependendo do tamanho e da estrutura de uma empresa, essas funções podem mudar. Mas em cafeterias menores, os baristas estão geralmente envolvidos na maioria dos aspectos do negócio. Isso inclui gerenciamento de estoque, gerenciamento de mídia social e criação de conteúdo”, explica Milorad.
No entanto, uma diferença notável quando se trata de cafeterias no Oriente Médio é que muitos baristas são expatriados. “Por muitos anos, a maioria dos baristas no Oriente Médio eram filipinos, indonésios e indianos”, diz Wayel.
Mas como o café especial cresceu na região, ele observa que a profissão de barista está se tornando mais amplamente reconhecida e respeitada. “Quando o setor de cafés especiais cresce, mais sauditas começam a trabalhar na área. Eu diria que a maioria dos baristas na Arábia Saudita hoje é saudita”, acrescenta.
Mulheres no café no oriente médio
Uma das maneiras pelas quais a cultura do café especial do Oriente Médio está mudando é a inclusão. Especialmente quando se trata de mulheres que trabalham no setor.
Nos últimos anos, mais e mais concorrentes do sexo feminino têm participado do Campeonato Nacional de Café dos Emirados Árabes Unidos. Além disso, em países como a Arábia Saudita, o número de mulheres que assumem cargos de barista começou a aumentar. Por sua vez, isso significa que as mulheres podem ganhar mais experiência e, possivelmente, analisar a abertura de seus próprios negócios de café no futuro.
“Isso é o que eu amo sobre a indústria do café, há tantas maneiras que você pode crescer. Se você quer buscar uma posição de gerência, torrefadora, Q-grader ou educador, as oportunidades de crescimento e aquisição de conhecimento estão se tornando mais acessíveis aos baristas”, diz Mariam.
No entanto, ela ressalta que, embora mais mulheres estejam trabalhando no setor cafeeiro do Oriente Médio, ainda é uma indústria dominada por homens, embora acredite que mais progressos serão feitos nos próximos anos.
O futuro
Então, dado o potencial para um crescimento tão vasto, como podemos esperar que o papel dos baristas no Oriente Médio mude no futuro?
Wayel acha que as competições terão um papel fundamental. “Qualquer barista que vença uma competição, ou se torne bem conhecido na indústria, receberá muitas ofertas de trabalho de cafeterias ou torrefadores”, diz.
A ascensão de “influenciadores de café” e embaixadores da marca é particularmente aparente em certos países do Oriente Médio, bem como em outras partes do mundo. Esses profissionais podem atrair grandes seguidores, ajudando a moldar as tendências na indústria em geral.
“Quanto mais as pessoas aceitam a profissão de barista, mais o setor de cafés especiais vai crescer no Oriente Médio”, acrescenta Wayel. “Eu acho que isso é especialmente evidente com pessoas mais jovens com diferentes conjuntos de valores para as gerações mais velhas.”
No entanto, Mariam me diz que, embora construir um nome para si mesmo seja importante, também é preciso uma abordagem “de volta ao básico” ao discutir o papel do barista no Oriente Médio. “Ser barista não é apenas fazer café. É também sobre compartilhar um momento e criar uma excelente experiência para o cliente”, diz.
À medida que o café especial se tornou mais popular no Oriente Médio, é evidente que os baristas passarão a desempenhar um papel cada vez mais importante em seu crescimento.
E dado que o mercado do Oriente Médio está prestes a crescer, será interessante ver como a profissão evoluirá.
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Créditos das fotos: Samantha Hernandez, Sulalat Specialty Coffee, Brewista, Coffee Planet
PDG Brasil
Traduzido por Daniela Melfi
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