19 de setembro de 2022

Grafismo na latte art é diferencial para baristas e cafeterias

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Com a crescente difusão da cultura do café, o aumento no número de abertura de cafeterias e, consequentemente, o surgimento de novos baristas, expande também o interesse e o aperfeiçoamento de técnicas que acompanham essa profissão. Uma delas é a latte art, aqueles desenhos feitos com leite vaporizado sobre o café. Um trabalho que exige, de início, uma boa extração do espresso e sua crema, uma excelente vaporização do leite e, por fim, habilidades para desenhar com a pitcher, a pequena jarra de metal. 

Uma técnica que encanta não só quem a faz, mas principalmente os clientes das cafeterias, que sentem valor, afeto e trato especial quando recebem uma xícara com um desenho. Os baristas também se sentem prestigiados e desafiados a cada passo que dão. Isso faz parte da história da profissão. 

Um dos desdobramentos da técnica de latte art são os grafismos, também conhecidos como “etching”, em inglês, prática que vem se difundindo entre os baristas do Brasil. 

Para entender mais sobre a latte art de grafismos, o PDG Brasil conversou com exclusividade com o fundador e diretor administrativo da Coffee Consulate, na Alemanha, Steffen Schwarz, com o barista e autor do livro The Latte Art Techinique, o grego Fotis Lefas, e com o barista paraense Maninaldo Lopes Siqueira. Siga lendo para saber o que disseram. 

Você também pode gostar de ler nosso artigo sobre Como fazer um TNT de latte art sustentável?

latte art no café

A origem da latte art

Relatos apontam que a latte art surgiu na década de 70 com Pientrangelo Melo, um famoso barista de Verona, na Itália. De início, apenas três desenhos eram entregues: a maçã, o coração e a folha.

Com a evolução recorrente em todos os processos, vários desenhos foram consolidados e classificados dentro da categoria. Da Itália, a prática se tornou comum nos Estados Unidos, mais precisamente em Seattle, no Espresso Vivace, onde se padronizou e popularizou a latte art. Era década de 1980 e foi nesse período a primeira vez em que o termo para essa arte foi mencionado. 

No entanto, além dos já conhecidos desenhos feitos à mão livre – ou free pour – com a pitcher, outra técnica vem ganhando cada vez mais espaço no dia a dia do barista e das cafeterias, a técnica de grafismo – ou etching. Nesse processo, além da pitcher, a latte art é feita também com ajuda de uma agulha, um caneta de metal. Além dos utensílios, podem ser utilizados também alguns ingredientes como calda de chocolate, corantes e flores comestíveis. 

grafismo no café

O sucesso do grafismo atualmente 

Essa arte, ganhou muita notoriedade em tempos de Tik Tok e Instagram, principalmente com a propagação no Sudeste Asiático, onde há muitos campeões, antes desconhecidos, dessa técnica. No entanto, ainda que de forma simplista, utilizar ferramentas além da pitcher já era algo que podia acontecer entre os italianos. É o que afirma o fundador e diretor administrativo da Coffee Consulate, na Alemanha, Steffen Schwarz. “A primeira gravura que tenho conhecimento foi criada por barmen italianos que usaram a espinha de um porco-espinho para desenhar no topo da espuma marrom e branca de um cappuccino”, afirma. 

O grafismo/etching que vemos hoje atinge níveis elevados de dificuldade e ganha formas e texturas novas a cada dia. Mesmo que sejam poucas as pessoas se dedicando a essa técnica, já não é tão invisível e rejeitada pelos puristas do free pour, da utilização única da pitcher. Prova disso é o próprio Coffee Consulate, uma escola e centro de pesquisa que, dentre diversas vertentes do café, tem uma disciplina dedicada apenas ao grafismo. 

Schwarz comenta que o curso não é tão concorrido como o de latte art tradicional, mas se mostra otimista em relação aos baristas que se interessam e têm apitdão para esse diferencial. 

latte art

“Sinto que o grafismo é muito subestimado e ainda pouco desenvolvido. A maioria das pessoas mostra interesse mais no despejo com a pitcher do que grafismo. Temos no Coffee Consulate muito mais pessoas se inscrevendo no primeiro do que no segundo. Mas, os baristas que dominam essa técnica realmente impressionam seus clientes, portanto, é uma técnica essencial para qualquer profissional”, ressalta. 

Para ele, não precisa de muito para começar a dar os primeiros passos no grafismo. Palito de metal, colher ou um palito, técnica e criatividade. “Como em todo latte art, você precisa de consistência na crema do leite. Depois disso, você precisa de contraste e fantasia. Alguns baristas consideram free pour mais difícil do que o etching. Para mim são iguais. Ambas as técnicas visam dar à bebida uma aparência especial e valiosa.” 

Marinaldo Lopes barista

A latte art como forma de expressão

Quem também vem há anos se dedicando à evolução do barismo e até onde podemos chegar com o leite e sua arte é o barista e autor do livro The Latte Art Techinique, o grego Fotis Lefas. Dentre as rosas que desenha para as senhoras e os brasões de time de futebol que faz para os senhores, Fotis também acredita que é extremamente importante aprender latte art e ter essa entrega dentro das cafeterias, tanto para o desenvolvimento pessoal, quanto comercial. 

latte art

“Tudo o que não pode ser expresso através da arte está fadado ao fracasso. A arte enche a mente do criador com um clima agradável e dá um significado para tudo o que ele faz. A latte art é a técnica aplicada para decorar elaboradamente as bebidas que um barista serve. E isso o torna criativo, aumenta o interesse em aprender mais, os clientes se sentem mais cuidados e, dessa forma, as empresas ganham vantagem competitiva. Técnica de latte art comunica que algum esforço sério está sendo feito dentro de um negócio”. 

Seu livro, publicado em grego e inglês em 2007, traz um caráter bem didático, com passo a passo em interpretações simples, de como realizar o design de 65 bebidas usando as mais diversas técnicas de latte art. “Os 65 desenhos foram divididos em 8 etapas e acompanham material fotográfico, com explicação. Mas seguramente hoje em dia a internet é muito rápida, e você pode encontrar vídeos legais com muitas informações sobre a técnica”, completa Fotis. 

arte no leite com café

Talento brasileiro

No Brasil, alguns baristas também se destacam por transformar uma simples bebida como um cappuccino ou um mocha, em arte. É o caso do barista Maninaldo Lopes Siqueira, de Belém, capital do Pará. Para quem teve muita dificuldade em aprender latte art, hoje faz da crema a sua tela, e a caneta e chocolate seu pincel e sua tinta.

Mas engana-se quem pensa que seus desenhos são desses comuns feitos com a calda de chocolate. O grafismo que Marinaldo desenvolve chama a atenção pelos traços finos e a habilidade para desenhar personagens conhecidos do mundo da animação. Naruto, Dragon Ball, Star Wars, Cavaleiros do Zodíaco e Snoopy. Esses são alguns dos exemplos de referências que decoram as bebidas que surpreendem os clientes da cafeteria. 

arte no café

“Todas as vezes que faço um desenho sobre a superfície do café e chega na mesa dos clientes, eu percebo o sorriso que eles esboçam, me sinto muito feliz em vê-los satisfeitos”, diz o barista, que já gostava de desenhar e foi incentivado a levar esse dom, também para o mundo do café. 

barista Marinaldo latte art

“Essa parte do grafismo eu descobri quando fiz um curso de barista em Recife, com a Lidiane Santos, da Kaffe Torrefação, e o Bruno, do Arte Café, que me deram um empurrãozinho. Ele havia falado para ela que eu gostava de desenhar e que já havia arriscando alguns desenhos, e ela com todo carinho me deu a primeira caneta de desenho no café e mostrou o trabalho de um barista que fazia grafismo”, comenta Marinaldo. 

campeão latte art

Técnica campeã

Elefante, cavalo, urso e leão, feitos apenas com a pitcher e a agulha de metal. Obras de outro barista no Brasil que faz um trabalho admirável com a técnica do grafismo, Emerson Nascimento, da cafeteria, torrefação e escola de café, Coffee Five, no Rio de Janeiro. Um nome conhecido no meio do café justamente por ganhar diversos campeonatos de latte art (2017-2018-2019) e também alguns Coffee in Good Spirits (2017-2020). Hoje, viaja o mundo dando cursos de barismo e, claro, de latte art. 

O barista é mais um que salienta o diferencial de se ter essa técnica nas mãos. “O grafismo é uma possibilidade maior dentro da cafeteria. Chega uma hora que o cliente está cansado de coração, tulipa e rosetta. E fazendo um coração você faz um cachorro, um gato. Com isso, você consegue surpreender o cliente.” 

latte art café

Portanto, para os que desejam ir além, Emerson dá bons conselhos. “Como sempre a internet foi uma grande referência, para poder ver vídeos e tentar reproduzir. E latte art é um nicho de duas coisas, memória visual e memória muscular. Depois, a tentativa de reproduzir uma técnica que já existe, copiar movimento. Então, preste atenção em como tá segurando a pitcher, a distância da xícara e o fluxo do leite.” 

Emerson Nascimento barista

Como vemos, a latte art é um mundo de possibilidades e de criatividade infinita, seja qual for a técnica e as ferramentas, seja qual for a referência pessoal que cada barista carrega consigo. 

No entanto, diferente dos desenhos já estabelecidos e padronizados à mão livre com a pitcher, o grafismo permite ao barista ter em suas bebidas uma identidade própria, um estilo único e particular, pois não existem regras e isso é o que torna essa técnica tão extraordinária. E, para além da estética, o grafismo traz também mais valor ao profissional que o executa e, consequentemente, às cafeterias.

Créditos: Marinaldo Lopes (barista fazendo grafismo/destaque; Goku; gato; astronauta; personagem do Cavaleiros do Zodíaco; Marinaldo na cafeteria); Divulgação Fotis Lefas (capa do livro do barista); Divulgação Coffee Consulate (xícara com grafismo); Divulgação Emerson Nascimento (alce; Emerson fazendo free pour; pavão; índio).

PDG Brasil

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