23 de maio de 2022

As 10 principais tendências que despontaram no Seminário Internacional do Café

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Nos dias 11 e 12 de maio ocorreu a 23ª Edição do Seminário Internacional do Café, o evento realizado pela Associação Comercial de Santos | ACS aconteceu no Guarujá (litoral paulista) e contou com mais de 500 convidados de 21 países. Essa oportunidade de novamente reunir pessoalmente líderes e profissionais do mercado de café possibilitou reencontros, atualizações e troca de conhecimento por meio de painéis bem elaborados. 

Segundo Adalto Correa, diretor executivo da ACS, ‘’o evento surpreendeu positivamente e teve uma adesão maior que a esperada, principalmente devido à necessidade do segmento de se encontrar pessoalmente após longo período de isolamento’’. 

Nós, do PDG Brasil, entendemos que encontros como esses são bons direcionadores de mercado e por isso queremos compartilhar 10 tendências atuais da cafeicultura brasileira que despontaram no evento. Siga lendo para ver os destaques do Seminário.

Você também pode gostar de ler a coluna sobre O que esperar da safra 2022/23?, de Willem Araújo. 

tendências do café

Destaques do Seminário Internacional do Café 

Veja os temas mais presentes e que mais geraram repercussão no 23º Seminário Internacional do Café, realizado no Guarujá. 

1 – Alta nos preços, endividamento e confiança abalada. Estaríamos presenciando um período que prenuncia um futuro difícil?

No Seminário foi possível perceber que os bancos estão descobrindo e se encantando com o agronegócio e com o café. Ficou nítido o maior envolvimento dos bancos, por meio de novas linhas de crédito e interesse em novos projetos, mas também foram apresentados fatos macroeconômicos que precisam ser considerados com atenção.

80% dos preços mundiais subindo, os governos e bancos injetam dinheiro em excesso na economia durante a pandemia, esse cenário somado às dificuldades logísticas resultaram em aumento dos preços. Essa inflação superou os 12% no período acumulado dos últimos 12 meses no Brasil e os 8% nos Estados Unidos. 

Com o governo endividado e preços acima do esperado, a confiança do investidor fica abalada. E, como riqueza depende do nível de confiança, o que devemos esperar dos próximos movimentos? 

É importante perceber que embora o cenário possa parecer preocupante e o real esteja depreciado, o Brasil não tem dívida em dólar, tem credores em dólar e apresenta um movimento de exportação interessante e crescente. 

2 – Novos hábitos de consumo ganharam força

Diferentemente do que muitos projetavam, o consumo de café não caiu com a pandemia. Pelo contrário, segue aumentando de 2 a 2,5% anualmente. Estar em casa fez com que as pessoas seguissem bebendo café, e ainda estimulou a compra de equipamentos que pudessem tornar a experiência mais prazerosa possível dentro dos lares. 

E, embora os consumidores estejam retornando às cafeterias, eles estão muito envolvidos com o digital e as tecnologias. Vale lembrar que no Brasil grande parte dos trabalhadores já retornou ao trabalho em ambiente físico, mas nos Estados Unidos, que é o maior mercado consumidor de café mundial, somente 35% retornaram.

Os consumidores mundiais estão cada dia mais preocupados com sua saúde e seu bem-estar, portanto, além de valorizarem as pessoas e o planeta, os consumidores estão querendo conhecer sobre os benefícios do café. 

Portanto, é possível verificar que as empresas de café estão buscando alternativas para agregar tecnologias digitais às suas estratégias de negócios. É a busca pela rastreabilidade, sustentabilidade, digitalização, cafés diferenciados, novos métodos de preparo se fortalecendo e mantendo café competitivo e forte no cenário mundial. 

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3 – O café pode ser nutricional, funcional e medicinal

Dores sentidas hoje pelos produtores devido às mudanças climáticas, como temperaturas excessivas, desuniformidade na maturação e chuvas excessivas, parecem ter esperança em novos estudos e práticas. Baseado no fato de que 30% dos consumidores já buscam por produtos funcionais, detectou-se que através do grão verde do café se poderia obter mais compostos fenólicos. Isso é bom principalmente por dois motivos:

  • O produtor poderia colher e ter melhor aproveitamento do grão verde. Já que, com incertezas e desuniformidade dos grãos, temos uma estimativa de perda de até 25% do café (13% antes da colheita, 2% retido na planta, 10% durante a colheita). 
  • Com maior quantidade de compostos fenólicos, é possível deixar o café ainda mais saudável, tornando-o um produto altamente recomendável para a saúde, já que seus compostos são fonte de antioxidantes, antiinflamatórios, previne hepatite B, reduz risco de obesidade e remove radicais livres. 

Vale ressaltar que os consumidores buscam por produtos funcionais, mas querem que seja saboroso, e, portanto, o segredo está no tratamento eficiente do ‘’gosto’’ residual deixado pelo grão verde de café.

4 – O consumo de café está ultrapassando a produção

O consumo mundial de café segue crescendo e, portanto, é essencial produzir mais e difundir como se produzir de maneira mais eficiente para abastecer a demanda. O grande desafio está em aumentar a produção na mesma quantidade de terra e com efeitos decorrentes das mudanças climáticas, sendo, portanto, essencial o papel do Brasil nessa liderança.

O Brasil é sem dúvida o produtor de café mais eficiente do mundo, liderando melhorias nas fazendas de café nos últimos 20 anos, refletindo anualmente na melhoria de rendimento: conilon/robusta cresce 1,2% e o arábica 0,5%. 

Além de fatores naturais como clima e o relevo do país, alguns outros fatores como alta inserção de tecnologia no campo e propriedades em média quatro vezes maiores que os outros países, somados às boas práticas produtivas, favorecem para que o Brasil seja visto como o responsável por ensinar e difundir suas tecnologias e práticas aos demais países. 

café do Brasil

5 – O Brasil está muito bem posicionado na cadeia mundial do café

O Brasil é superior no mundo do café:

  • O país nunca pára, está sempre buscando e aplicando novas tecnologias.
  • Tem poder de escala, seja pelo tamanho das fazendas ou mesmo quantidade de produtos comprados, o que resulta em maior poder de negociação
  • Nosso custo com mão de obra é 30% inferior aos demais países e nosso custo de produção é até 50% inferior aos demais. 
  • A qualidade do café brasileiro segue melhorando a cada dia. 

O contexto da cafeicultura brasileira é inspirador. Projeta-se que até 2030 o Brasil deverá responder por 69% do crescimento global da produção de arábica e 75% do crescimento do robusta. 

Mas será que o quanto nossa cafeicultura aumentou sua produtividade e eficiência nos últimos 20 anos garante que estamos totalmente resguardados? 

O cenário de que o Brasil será responsável por em breve suprir mais de ⅔ da demanda mundial de café concentra as expectativas aqui e intensifica os resultados sentidos em momentos de frio. Geadas como as ocorridas no ano de 2021 continuarão a impactar fortemente o mercado e manter ou ainda aumentar a oscilação do café. Deveríamos cogitar algum tipo de diversificação para mitigar os riscos?

6 – O café tem que ser competitivo para que as pessoas continuem escolhendo produzir café 

Muito se discutiu sobre a importância de se produzir mais e repartir ou pagar mais pelo café. Também foi falado sobre a importância de dar condições para que as pessoas continuem escolhendo produzir café em vez de outras culturas. Esses pontos destacaram novamente o Brasil como exemplo e liderança.

A pobreza limita as escolhas e, portanto, não pode existir na cafeicultura. Precisamos criar mecanismos que possam garantir sobrevivência e escolha aos produtores. É tempo de trabalhar-se unido, repartindo os ganhos e fortalecendo a cadeia.

7 – Importância de novas iniciativas de divulgação do café brasileiro 

O ano de 2022 vai marcar o centenário da Bolsa Oficial de Café, que foi a inauguração do prédio (palácio) hoje considerado um dos principais pontos turísticos de Santos e que divulga e preserva a história do café no Brasil. A intenção é realizar um evento em 1º de setembro para celebrar e ser também um marco de internacionalização das ações e visibilidade da cafeicultura contemporânea.

O Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) busca aumentar a interação com organizações globais, comunicar mais nossas ações, divulgar nosso código florestal para mostrar que preservamos e aumentar atividades de sustentabilidade. A intenção é valorizar a cafeicultura brasileira e mostrar ao mundo o Brasil que dá certo. 

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8 – Novas metas de carbono conquistam adeptos e direcionam metodologias

A cafeicultura é uma atividade que estoca carbono, tanto na planta como solo, e com a adoção de boas práticas esse estoque aumenta significativamente ajudando no combate às dificuldades decorrentes das mudanças climáticas e efeito estufa. 

Portanto, além do balanço negativo de emissão da cafeicultura, existe também excedente de estoque de carbono nas áreas preservadas. Isso reforça o fato de que a cafeicultura tem que aparecer como parte da solução para as problemáticas atuais,  é preciso mostrar isso ao mundo e procurar meios de massificar o carbono, por meio de tecnologias para escalar e obter benefícios tangíveis.

9 – Novas regulações

Para 2050 a União Europeia planeja a redução de 50% do uso de defensivos e reforçar a diligência prévia sobre a cadeia de suprimentos, com foco no desmatamento. O objetivo é minimizar o consumo de produtos oriundos de cadeias produtivas associadas ao desmatamento ou degradação florestal, bem como  garantir critérios de ESG.

Que as regulações são importantes e necessárias para impor limites é fato consolidado, no entanto o questionamento que fica é: essas exigências não deveriam estar alinhadas ao que o cafeicultor consegue alcançar de maneira sustentável de acordo com suas peculiaridades locais? 

10 – Tecnologias que aumentem produtividade são desejadas pelo mercado brasileiro 

A Palinialves lançou durante o Seminário uma nova tecnologia para separação do café em peneiras. O maquinário, que antes processava 80 sacas por hora, agora consegue processar 100 sacas, com o mesmo consumo de energia e ocupando o mesmo espaço. Para Carlos Henrique Palini, que é o diretor comercial, o grande diferencial da tecnologia é o aumento de produtividade. 

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As tendências identificadas no Seminário reforçam a liderança brasileira no mercado de café mundial, a importância da adoção crescente de práticas sustentáveis e introdução da governança ESG em toda a cadeia. Afinal, o café, além de ser um produto único e protagonista,  é também fonte de história, sabor e cultura.

Por fim, é importante mencionar que devido ao sucesso do evento em 2022, já se iniciaram os preparativos para a próxima edição que irá ocorrer em 2024 e tem a expectativa de ser ainda maior. E a pergunta que fica, portanto, é: Será que daqui a dois anos as tendências serão outras? 

Créditos: José Luiz Borges (fotos palestrantes e evento); Nathana Paiva (geral da plateia; praia do Guarujá, onde foi realizado o evento).

PDG Brasil

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