Com que frequência os Q graders precisam renovar suas certificações?
Muitos profissionais do café optam por se tornar Q graders por vários motivos. Para saber mais sobre o fornecimento de café verde ou para obter perfis de torrefação mais definidos, o programa de certificação Q grader pode ser uma ferramenta útil – ou mesmo necessária – para progredir em sua carreira de café especial.
À luz disso, a certificação como Q grader tornou-se uma espécie de padrão da indústria. Mas, como muitas outras certificações em toda a cadeia de produtiva do café, a manutenção de uma licença de Q grader requer constante atualização e renovação.
Então, com que frequência os profissionais do café precisam se certificar novamente como Q graders e por quê? E, mais importante, a recertificação regular torna o programa mais inacessível do que já é considerado? Para saber mais, conversei com três especialistas do setor. Continue lendo para saber mais.
Você também pode gostar do nosso artigo sobre o programa Q grader e como você pode se certificar.
Afinal, o que é um Q grader?
Antes de analisarmos a frequência com que os Q graders precisam se recertificar, vamos detalhar o que é esse programa.
Lançado pela primeira vez em 2004 pelo Coffee Quality Institute (CQI), o sistema de classificação Q foi criado para desenvolver um meio padronizado de avaliação do café verde a ser usado por profissionais do café em todo o mundo. Estima-se que existam atualmente mais de 7.000 Q graders certificados trabalhando no setor.
Semelhante a um sommelier na indústria do vinho, um Q grader é um profissional de cupping treinado e licenciado pelo CQI que pode avaliar cafés arábica usando o sistema de classificação da Specialty Coffee Association (SCA). O CQI também oferece um programa de classificação R para quem deseja ser um provador de robusta licenciado.
O novo protocolo da SCA
Como parte dos padrões e protocolos CQI e SCA, os Q grader avaliam os cafés da variedade arábica com base em vários atributos sensoriais. Estes podem ser encontrados no formulário de degustação da SCA, que foi recentemente atualizado para ser mais inclusivo e mitigar qualquer “intersubjetividade” ao avaliar o café.
O novo protocolo de cupping e as diretrizes são divididos em quatro estágios de avaliação separados. Os profissionais do café podem usá-los separada ou coletivamente:
- físico – avalia o teor de umidade, a aparência física e qualquer dano visual aos grãos;
- extrínseco – uma avaliação de fatores como “identidade”, certificação e origem;
- afetivo – uma avaliação da opinião do cupper sobre a qualidade do café, com base na escala de 100 pontos;
- descritivo – uma avaliação dos atributos de sabor e aroma de um café, sem implicações positivas ou negativas.
Usando a escala de 100 pontos da SCA, qualquer café que obtenha 80 ou mais pontos é classificado como “especialidade”. Os cafés da variedade arábica que recebem 87 pontos ou mais são geralmente considerados cafés especiais de alta qualidade.
Como conseguir a certificação Q grader?
Cecilia Sanada é Q grader e consultora de café. de acordo com ela, para conseguir a licença Q grader, é preciso concluir o curso de certificação CQI. “O programa de seis dias tem 19 exames diferentes, incluindo cupping, habilidade sensorial e testes de triangulação”, diz.
O curso é dividido em três dias de treinamento e três dias de testes. Todos os programas de Q grader ocorrem em instalações certificadas pela SCA e são conduzidos por instrutores qualificados.
“Os trainees também precisam identificar diferentes tipos de perfis de acidez, aroma e torrefação, além de mostrar conhecimento geral da classificação do café verde e da cadeia de suprimentos do café”, acrescenta Cecilia.
Por que precisamos de Q graders no setor de cafés especiais?
Sem o sistema de classificação Q, não haveria um sistema padronizado em toda a indústria para avaliar a qualidade, o sabor e o aroma do café verde. Os rigorosos procedimentos de treinamento e avaliação do CQI significam que os Q graders têm a capacidade de fazer avaliações objetivas sobre uma ampla gama de cafés – incluindo diferentes origens, variedades e métodos de processamento.
Spencer Turer é o vice-presidente da Coffee Enterprises, uma empresa de consultoria e testes laboratoriais de café dos EUA. Segundo ele, os Q graders desempenham um papel importante no controle de qualidade do café verde. “Uma linguagem comum compartilhada, para descrever a qualidade do café e os perfis sensoriais, é essencial para que compradores e vendedores de café verde possam alinhar melhor suas avaliações e descritores de perfil”, diz.
“Por sua vez, isso ajuda os vendedores a escolher os melhores cafés para certos clientes”, acrescenta. “Quando as partes interessadas do setor avaliam o café usando os mesmos protocolos e recursos, como o sistema de classificação Q, todos se beneficiam.” Além disso, o desenvolvimento de sistemas de análise sensorial e de qualidade mais formalizados e rigorosos significa que os profissionais licenciados podem aplicar suas habilidades em outras áreas da indústria do café com mais precisão e eficiência.
Pedro Lisboa é Chefe de Relações com o Café da Nude, fabricante e distribuidora de leite de aveia no Brasil. Ele explica como se tornar um Q grader licenciado o ajudou a desenvolver leites vegetais formulados por baristas. “Usei o protocolo do Q grader para entender melhor como os sabores e texturas do leite de vaca complementam diferentes cafés”, diz ele. “A partir daí, testamos diferentes leites vegetais para identificar atributos que não dominam os sabores complexos do café.”
Quando os Q graders precisam renovar suas certificações?
Cecilia diz que, para manter uma licença de longo prazo, os Q graders devem se certificar novamente a cada três anos. Isso é para garantir que todos os profissionais certificados fiquem por dentro de quaisquer alterações no programa do CQI, também para garantir que eles possam avaliar com precisão a qualidade do café e os atributos sensoriais.
Nossos paladares e sistemas olfativos são responsáveis por identificar sabores e aromas em todos os alimentos e bebidas, incluindo o café. No entanto, existem muitos fatores externos que afetam o desenvolvimento do nosso paladar. Incluindo:
- os tipos de comida e bebida (ou culinária) que comemos;
- nossa idade;
- origem e influências culturais.
Considerando tudo isso, a calibração regular do palato é essencial para que os Q graders avaliem corretamente a qualidade do café, bem como para identificar todo o espectro de sabores e aromas. “Calibrações formais e padronizadas são necessárias porque isso significa que as renovações de licenças podem ter verificação objetiva”, diz Spencer.
“O CQI oferece cursos liderados por instrutores certificados para renovar as licenças de Q grader, que incluem testes de cupping”, acrescenta. “Para renovar seus certificados por três anos, os Q graders devem passar em dois dos três testes.”
No entanto, Spencer explica que termos como “calibração” e “recalibração” não são os mais precisos para usar quando se fala de classificação Q e cupping. Ele me diz que o “alinhamento” reflete mais os protocolos envolvidos – especialmente ao desenvolver sistemas mais padronizados. Os Q graders que não passarem nos cursos de renovação de licença, devem fazer o curso CQI completo novamente.
Seria possível tornar o programa Q grader mais acessível?
O sistema de classificação Q veio para que os produtores pudessem entender mais sobre a qualidade do café. No entanto, é seguro dizer que nem todos os agricultores – e até mesmo os profissionais do café em geral – podem se dar ao luxo de fazer o curso. Dependendo da localização e do instrutor, o preço do programa CQI pode variar um pouco. Muitos profissionais do café, no entanto, podem pagar até US$2.000 pelo curso completo e pelos exames.
Além disso, alguns estagiários precisam viajar para as instalações certificadas pela SCA mais próximas para se certificar ou renovar sua licença – o que significa que os custos podem aumentar muito. “Em alguns casos, os empregadores consideram as despesas dos cursos de graduação Q como parte de seus programas de desenvolvimento educacional e profissional”, diz Spencer. “No entanto, muitos estagiários precisam arcar com os custos – incluindo de viagens – por conta própria.”
Mas Spencer acredita que existem maneiras de tornar o processo de certificação mais acessível e conveniente. “O curso poderia ser mais barato se os profissionais do café pudessem participar de outros eventos do setor”, diz ele. “Alguns exemplos de eventos locais e internacionais são o Coffee Roasters Guild Retreat, Specialty Coffee Expo, World of Coffee, Sintercafé, Café Show Seoul, World Coffee Producers Forum e Brazil International Coffee Week (SIC). Organizar cursos de Q grader nesses eventos pode oferecer oportunidades econômicas para instrutores e alunos que já estão presentes.”
Nem sempre é uma necessidade
Devemos reconhecer o importante papel que o programa Q grader desempenha no café especial. Sem ele, a padronização e a formalização da avaliação da qualidade dos cafés teria prejuízos. No entanto, Pedro ressalta que nem todos os profissionais do café precisam se qualificar como Q graders. “Eu não preciso da licença de Q grader para fazer o meu trabalho”, diz ele. – E considerando os custos, a recertificação nem sempre foi uma prioridade para mim.”
Compartilhar uma linguagem comum para avaliar objetivamente a qualidade do café e os atributos sensoriais, é essencial para o futuro do café especial. Por sua vez, os profissionais da indústria em toda a cadeia de suprimentos precisam de acesso a cursos como o programa Q grader.
Ao mesmo tempo – especialmente com a recertificação necessária a cada três anos – encontrar maneiras de tornar o programa mais acessível também é importante.
Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre cinco dicas importantes ao treinar para ser um Q grader.
Tradução: Daniela Melfi.
PDG Brasil
Quer ler mais artigos como este? Assine nossa newsletter!