15 de dezembro de 2023

Por que é tão importante realizar eventos em países produtores de café?

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Todos os anos, um número crescente de eventos ocorre na indústria global do café. Estes variam de feiras tradicionais a competições de alto nível até viagens para a origem – tornando o setor de cafés especiais ainda mais emocionante.

Muitos desses eventos, no entanto, são realizados em países e regiões do mercado de exportação, incluindo EUA, Europa e Austrália. Embora isso não signifique que esses eventos não sirvam a um propósito importante quando hospedados nesses lugares, muitas vezes pode significar que muitos profissionais do café na origem não podem participar e contribuir em um nível semelhante.

Isso leva a uma série de questões complexas ao longo da cadeia de fornecimento de café. A principal delas é a falta de compartilhamento de conhecimento nos países produtores. Além dessa, também há a preocupação de que as perspectivas e opiniões dos produtores não sejam reconhecidas na mesma medida que as de outros profissionais do setor.

Para resolver esses problemas, algumas empresas de café estão organizando seus próprios eventos para garantir que mais valor seja mantido na origem. Conversei com três pessoas que participaram do primeiro Ally Open Summit, realizado no Brasil nos dias 19 e 20 de setembro de 2023, para saber mais. Continue lendo para saber porque organizar eventos em países produtores é tão importante.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre por que os competidores do café devem fazer viagens para a origem.

Entrada do evento Ally open summit

Um número crescente de eventos mundiais de café

Agora, há uma gama cada vez maior de eventos no setor cafeeiro. Os profissionais da indústria têm a opção de participar de uma diversidade de festivais, exposições e competições, bem como viagens organizadas para fazendas de café.

Estas últimas ocorrem naturalmente nos países de origem dos grãos. E nelas, compradores, torrefadores e baristas podem visitar instalações agrícolas e entender mais sobre a produção de café. Embora as viagens possam ser uma maneira útil para os produtores se conectarem com outros profissionais do café, o networking e o compartilhamento de conhecimento geralmente ocorrem em ambientes muito menos formalizados.

Ricardo Pereira é o COO da Ally Coffee, que sedia o evento anual Champs Trip desde 2016. Essa é uma oportunidade para os campeões dos EUA e do mundo do café visitarem os países produtores. Este ano, ele explica que a Ally Coffee também organizou a inauguração do Ally Open Summit como parte da Champs Trip de 2023. “A Ally Coffee decidiu lançar o primeiro Ally Open Summit como uma evolução da nossa Champs Trip anual. A ideia era aproveitar a oportunidade de ter tantos profissionais incríveis de café de todo o mundo se juntando a nós”, diz.

Juntamente com várias figuras importantes da indústria cafeeira brasileira, Ricardo falou na cerimônia de abertura do evento em 19 de setembro, antes de se juntar ao painel: “Como agregar valor à produção de café” com produtores da Colômbia, El Salvador e Costa Rica. “É ótimo visitar fazendas, ver o processamento pós-colheita e conhecer produtores, mas também podemos ir além disso”, diz ele. “Se vamos convidar profissionais do café com diferentes origens e experiências, por que não criamos uma oportunidade para compartilhar conhecimento e causar um impacto mais significativo na origem?”

Clientes visitando fazenda que fornece seus grãos -- organizar viagens para a origem é uma forma de realizar eventos nos países produtores

Criando espaço para as perspectivas dos produtores

Com tantos eventos realizados nos países do mercado de exportação, muitos produtores e outros profissionais do café na origem perdem a oportunidade de participar deles. Isto é especialmente mais complicado para os pequenos agricultores, que podem ter menos recursos financeiros para viajar. Inevitavelmente, isso significa que as vozes e opiniões dos produtores podem ser deixadas de fora de conversas importantes. Mas sem suas perspectivas, é impossível entender alguns dos maiores problemas que a indústria global do café enfrenta hoje.

Diego Campos é o campeão mundial de baristas de 2021 e também abriu recentemente sua própria cafeteria na Colômbia. Ele participou do Ally Open Summit na Fazenda Minamihara, onde falou no painel “Como agregar valor à xícara” com vários outros competidores de campeonatos mundiais de café. “Organizar eventos na origem torna muito mais fácil para os produtores mostrar de onde vem o café. Baristas e torrefadores podem ver com seus olhos o que é preciso para cultivar café e entender mais sobre a produção de café”, diz.

Da mesma forma, os produtores também têm a oportunidade de aprender com traders, torrefadores, baristas e outros profissionais do café – o que lhes traz novos insights também. “É sempre importante que os produtores possam participar desses tipos de eventos, porque assim poderemos expandir nosso conhecimento”, diz Diego. “Por outro lado, mais pessoas podem compreender o trabalho que fazemos nas fazendas e como melhoramos a qualidade do café. Todo mundo tem ideias e conceitos diferentes sobre o café, então ajuda combiná-los e compartilhá-los.”

Eventos na origem

Por que o conhecimento precisa ser mais compartilhado?

Não é nenhum eufemismo dizer que a educação é uma das principais forças motrizes da indústria de cafés especiais. Com profissionais da indústria e consumidores cada vez mais informados, o setor continua a evoluir.

Os eventos também desempenham um papel fundamental na melhoria do acesso à educação sobre o café – com muitos incluindo painéis e palestras, workshops, cuppings e sessões de networking. Por sua vez, sediar mais eventos na origem significa que os profissionais do setor nesses países têm a chance de participar e se envolver de maneira mais acessível e significativa.

De acordo com Ricardo, conhecimento é poder. ”Como meu pai disse quando eu era mais jovem, se há uma coisa que as pessoas não podem tirar de você, é o conhecimento. Portanto, levar eventos de café aos produtores é muito importante. Como indústria, devemos entender as dificuldades que os produtores enfrentam, bem como encontrar maneiras de resolvê-las e criar oportunidades de compartilhamento de informações”, diz.

Por mais eventos em países produtores

Juntamente com o Ally Open Summit, um número pequeno, mas crescente, de eventos focados no produtor foi realizado na origem – visando colocar os cafeicultores na vanguarda de importantes discussões em todo o setor. Isso inclui o Producer Roaster Forum, que a Ally Coffee patrocina todos os anos.

“O Producer Roaster Forum é uma plataforma incrível que a Ally Coffee tem muito orgulho de ter patrocinado desde o primeiro evento”, diz Ricardo. “Capacitar os produtores e criar oportunidades de compartilhamento de conhecimento na origem é uma ferramenta poderosa para a indústria do café.”

Diego Campos, que também é dono da Finca Diamante na Colômbia, enfatiza que esses eventos permitem a comunicação bidirecional. “Dar feedback aos produtores é muito importante”, diz Diego Campos. “Não se trata apenas de pedir que eles tentem coisas diferentes, mas de construir um relacionamento e criar consistência”.

“Eventos como o Ally Open Summit nos permitem ver como a qualidade do café está no momento, bem como o que os consumidores estão pedindo e qual é o futuro do café”, acrescenta. “Precisamos ouvir a todos ao longo da cadeia de suprimentos, porque há muitos desafios únicos – o que torna a conexão da cadeia do café ainda mais importante.”

Abordagem eficaz de problemas na indústria do café

Além de oferecer a oportunidade de se conectar e interagir com outros profissionais do café, participar de eventos realizados na origem significa que os produtores têm mais uma plataforma para falar sobre as dificuldades que enfrentam em uma indústria em constante evolução.

“Encontrar maneiras de fornecer apoio real e criar novas oportunidades de aprendizagem para os produtores é essencial”, diz Ricardo. “Podemos perguntar a eles sobre os aspectos sociais e ambientais da cafeicultura e entender como podemos unir forças como uma indústria para investir no futuro sustentável do café. Por exemplo, a idade média dos produtores de café em todo o mundo está apenas aumentando. Então, como podemos motivar as gerações mais jovens a mostrar-lhes que o café tem um futuro que depende delas?”

Ele continua dizendo que vê atitudes mudando, particularmente no Brasil. “As pessoas mais jovens estão cada vez mais interessadas no café e mais envolvidas em seus negócios familiares”, continua ele. “Estamos vendo mais terceiras, quartas ou quintas gerações agora trabalhando no café e contando suas histórias.”

Debate durante o Ally Open Summit

Eventos como forma de garantir mais vantagens aos produtores

Muitas vezes há muita discussão sobre como podemos melhorar a sustentabilidade e a equidade ao longo da cadeia de suprimentos – que são pontos de discussão relevantes em muitos eventos de café. Essas conversas são certamente necessárias e importantes, mas podem excluir insights dos produtores quando realizadas em lugares como os EUA e a Europa. Além disso, os agricultores são geralmente os mais afetados por questões como as flutuações nos preços do café e o impacto das mudanças climáticas, o que significa que suas perspectivas são inestimáveis para enfrentar esses desafios.

“Há tanta coisa que podemos aprender como indústria”, explica Ricardo. “Quando estávamos conversando com Diego Campos para o nosso novo podcast Rooted in Coffee, ele disse algo que realmente me impressionou. Ele me disse que, quando os profissionais do café vão para a origem, às vezes tentam dizer aos produtores o que fazer, mas não querem compartilhar nenhum risco”.

“Mas a verdade é que podemos aprender muito mais com os produtores do que realmente podemos ensiná-los”, acrescenta. “Então, se pudermos criar oportunidades como o°Ally Open Summit , onde os produtores podem participar e compartilhar suas experiências e conhecimentos com outros agricultores, comerciantes, torrefadores, baristas, fabricantes de equipamentos e marcas de tecnologia, podemos reunir todas essas diferentes facetas da indústria em um só lugar.”

Reunir produtores para gerar valor

Diego Baraona é produtor no Los Pirineos, em El Salvador. Ele participou de dois painéis no primeiro Ally Open Summit, intitulado Como agregar valor à produção de café e Como agregar valor às vendas de café. Ele explica como a conexão com outros profissionais do café o ajuda a aprofundar seu conhecimento sobre o café. “Como produtor, é muito interessante interagir com os concorrentes porque eles são os embaixadores do café especial”, diz ele. “É uma mistura de diferentes experiências e perspectivas.”

Além disso, ele acrescenta que conhecer produtores de diferentes países também é inestimável. “Estou me sentindo inspirado porque compartilhei muito do meu próprio conhecimento, mas também recebi muitas informações”, ele diz. “É muito legal compartilhar conhecimento entre os países produtores porque somos todos diferentes. É interessante ver a grande escala de produção no Brasil, mas também experimentar como os produtores mantêm a qualidade e os processos consistentes. E como o custo de produção é menor no Brasil, isso me inspira a reduzir os custos e, ao mesmo tempo, focar mais na implementação de práticas de agricultura orgânica”, acrescenta.

Rodadas de cupping são como esta da imagem são comuns em eventos do setor de cafés especiais

Trazendo mais diversidade para os eventos na origem

Com o consumo de cafés especiais crescendo em alguns países produtores, há mais eventos nessas regiões. Por exemplo, de acordo com pesquisa da Specialty Coffee Association:

  • a participação no mercado de cafés especiais do brasil dobrou entre 2016 e 2018, de 6% para 12%;
  • em 2018, o valor estimado do mercado colombiano de cafés especiais foi de cerca de us$ 1,52 bilhão – e é provável ter crescido desde então;
  • acredita-se que o café especial represente entre 3% e 5% do consumo de café do méxico, com mais e mais cafeterias especiais abrindo em cidades maiores.

Dado esse crescimento, mais eventos estão sendo lançados em países produtores que se concentram na torrefação e no preparo. Um deles é o Torrando ideias, que foi realizado de 21 a 23 de setembro de 2023 em Patrocínio, Brasil. Além de workshops, apresentações e cuppings, houve vários painéis de discussão.

Barista atendendo os participantes de um evento realizado no local

“A Ally Coffee tem uma forte presença no Brasil, então ter muitas redes no país realmente nos ajudou a facilitar o primeiro Ally Open Summit”, conclui Ricardo. “Mas não pretendemos sediar apenas o Ally Open Summit no Brasil – estamos explorando realizá-lo em outros países produtores também.”

Por fim, se quisermos crescer como indústria, é necessário haver mais eventos inovadores realizados nos países produtores. Ao fazer isso, podemos ajudar a reter mais valor na origem – e criar uma cadeia de suprimentos mais equitativa e experiente.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre por que mais produtores não comercializam seu próprio café.

Créditos da foto: Ally Coffee

Tradução: Daniela Melfi.

PDG Brasil

Nota do editor: A Perfect Daily Grind participou do Ally Open Summit nos dias 19 e 20 de setembro e foi convidada para participar de um painel ao lado de outros profissionais do setor.

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