Qual o futuro do World AeroPress Championship?
As competições estão entre os eventos mais emocionantes e inovadores da indústria do café. Todos os anos esperamos ansiosamente para descobrir quem é coroado o novo campeão mundial ou quais variedades estão prestes a se tornar mais populares. Mas entre uma gama cada vez mais diversificada de competições de café de alto nível, o World AeroPress Championship (WAC) se destaca como um dos mais inclusivos e acessíveis.
Desde o seu humilde início em 2008, com apenas três concorrentes, até cerca de 120 eventos regionais e nacionais que ocorrem agora em mais de 60 países, o WAC mudou exponencialmente nos últimos 15 anos. Uma grande parte da evolução das competições de café é mantê-las frescas e atualizadas. Em outubro de 2023, os organizadores do WAC anunciaram um novo formato, baseado em pontos, para o campeonato nacional australiano deste ano, o que certamente mudará o futuro do evento.
O World AeroPress Championship de 2023 aconteceu no dia 1 de dezembro em Melbourne, Austrália. Para saber mais sobre a competição nos próximos anos, falei com o campeão mundial de AeroPress de 2019, Wendelien van Bunnik-Verver, e Tim Williams, CEO da WAC, para saber mais.
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Como o World AeroPress Championship começou?
O formato dos campeonatos de AeroPress é relativamente simples. A cada rodada, três concorrentes têm cinco minutos para preparar, extrair e servir três cafés idênticos usando uma AeroPress Clear ou original. Um grupo de três juízes então toma às cegas todos os cafés, antes de apontar para a sua bebida favorita. Essa abordagem descontraída e menos engessada por regras acabou trazendo mais popularidade ao Campeonato Mundial de AeroPress. As versões regionais e nacionais atraem milhares de participantes e visitantes todos os anos, mas como tudo começou?
Vamos voltar para 2008m três anos após o lançamento da AeroPress. Naquele ano, o norueguês Tim Wendleboe, campeão mundial de baristas de 2004, começou a distribuir esse método em seu país. Além disso, Tim Williams, o atual CEO da WAC e fundador da Fieldwork Coffee na Austrália, ironicamente observa que as instruções da AeroPress não resultavam em uma boa bebida se seguidas à risca.
Williams acrescenta que a ideia inicial da competição surgiu porque ninguém sabia realmente como usar a cafeteira para fazer café de alta qualidade. Assim, Tim Wendelboe, uma lenda na indústria, e Tim Varney, seu gerente de cafeteria na época, organizaram o primeiro campeonato nacional de AeroPress com a simples premissa de que “quem preparar a melhor xícara de café, ganha”. A primeira edição do torneio foi modesta, contando apenas com a participação de Tim Wendelboe, Tim Varney e o entusiasta local de café, Anders Valde. Tim Williams relembra: “Havia três competidores e talvez dez pessoas assistindo. Foi apenas uma tarde divertida.”
O Crescimento do campeonato
Após o primeiro campeonato AeroPress, uma segunda competição foi realizada na Noruega no ano seguinte. Além disso, outros países nórdicos começaram a sediar suas próprias versões do evento. “Eles aconteciam em feiras, com talvez 40 ou 50 pessoas assistindo. Eram eventos muito casuais que meio que aconteciam, não havia muita estrutura para eles. Certamente não era como se os países estivessem competindo uns contra os outros. O foco estava mais no indivíduo”, diz Tim.
Nos anos seguintes, o formato mais informal do World AeroPress Championship manteve-se fiel às suas raízes e assim ajudou a estabelecer vários precedentes importantes em competições de cafés especiais.
Além disso, o WAC foi uma das primeiras competições de café a ver as mulheres como vencedoras. A competidora dinamarquesa, Maria Hagemeister, foi anunciada como a campeã mundial de AeroPress de 2010, apenas dois anos após o nascimento da competição.Posteriormente, vimos outras mulheres vencerem o WAC. E isso ajudou a melhorar a inclusão e a representação em cafés especiais:
- a concorrente belga charlene de buysere, que venceu em 2012;
- paulina miczka, representando o reino unido, que venceu em 2017;
- a concorrente dos eua carolina ibarra garay em 2018;
- a barista holandesa wendelien van bunnik-verver, que venceu em 2019;
- rawirat techasitthanet (mais conhecido como jibbi little), que é o campeão mundial de aeropress de 2022.
Como o perfil dos competidores mudou?
O World AeroPress Championship evoluiu claramente nos últimos 15 anos, com cerca de 120 eliminatórias regionais e nacionais anuais ocorrendo, além das finais mundiais. Um fator que Tim e outros organizadores se esforçam para manter, no entanto, é o formato íntimo e descontraído da competição.
Wendelien van Bunnik-Verver é a fundadora da Happy Coffee Network, bem como a campeã holandesa de baristas de 2019. Ela competiu no World AeroPress Championship no mesmo ano. “Pensei em jogar minha AeroPress na mochila, subir na bicicleta e ir até lá, tomar uma cerveja, preparar uma xícara de café e me divertir”, ela disse. “Mesmo se eu tivesse sido expulsa na primeira rodada, eu ainda teria aproveitado o momento.”
Além de manter sua identidade divertida ao longo dos anos, o WAC também permaneceu acessível a uma ampla gama de concorrentes. Por exemplo, Tim explica que as taxas de inscrição para os campeonatos nacionais são limitadas – e equivalem a cerca de oito horas do salário de um barista local. WAC ainda cobre as taxas de viagem e acomodação do campeão nacional de AeroPress para participar das finais mundiais e fornece a todos os concorrentes o mesmo café. Tim diz que, devido à sua natureza mais acessível, “a competição continua a ter um grande número de inscrições em todo o mundo”.
Atualizações de regras do WAC
O formato do World AeroPress Championship permaneceu praticamente inalterado desde sua origem. Uma das mudanças de regras mais significativas, no entanto, aconteceu em 2021. Naquele ano, os organizadores diminuíram a dose que os concorrentes poderiam usar – reduziram de uma quantidade teoricamente ilimitada de café para 18 g. “Acho que foi um grande choque para muitas pessoas”, diz Wendelien.
Essencialmente, limitar a dose significa que há menos motivos para usar o popular método de infusão bypass, que Wendelien aproveitou em sua rotina vencedora de 2019. Ela lembra que conheceu essa técnica pouco antes de participar da competição. O bypass envolve o uso de uma dose mais alta e menos água para extrair um concentrado de café, que é então diluído com água a gosto. É um pouco semelhante à receita original da AeroPress de Alan Adler. “Acho que o bypass valeu a pena porque, se você usar uma dose realmente alta, poderá fazer coisas diferentes para enfatizar a acidez”, explica Wendelien – acrescentando que isso pode até aumentar as chances de ganhar.
“Tendo julgado seis ou sete campeonatos desde a minha vitória, sei como é difícil me destacar”, diz ela. “Você está provando o mesmo café, e às vezes todo mundo usa a mesma água, então as diferenças geralmente são muito pequenas.”
Em parte graças ao seu uso no World AeroPress Championship, o preparo por bypass ganhou muita força na indústria do café em geral. Wendelien, no entanto, acredita que reduzir a dose foi uma mudança de regra necessária. “Se você tiver uma receita semelhante que vença quatro vezes seguidas, as pessoas começarão inevitavelmente a reproduzir”, ela me diz. “Com a nova regra, isso meio que reacendeu a criatividade novamente, estabelecendo alguns limites.”
O que o futuro reserva
Olhando para o impacto do World AeroPress Championship, Tim acredita que ele “definitivamente inspirou muitas outras competições”. Também está claro que aspectos do WAC influenciaram a cultura mais ampla de cafés especiais. Um exemplo é o método de preparo invertido, que se tornou popular entre cafeterias e preparos caseiros após ser usado para a receita vencedora de 2009.
“Acho que há seis ou sete anos, não reconhecíamos a seriedade da competição. Era apenas um pouco de diversão. Se você se saiu bem na competição, ótimo. E se você não foi, bem, que pena. Um dia, alguém me chamou de lado e disse: ‘Isso faz sentido para você, porque você tem uma carreira no café, mas para o barista iniciante, colocar o AeroPress Champion em seu currículo se torna uma porta de entrada’”, diz Tim.
Novos produtos, novos formatos
Com os novos produtos AeroPress lançados recentemente – incluindo a cafeteira XL e a tampa Flow Control – é importante questionar como eles podem influenciar o futuro da concorrência. Por enquanto, os concorrentes do WAC não podem usar esses novos acessórios e cafeteiras, mas isso sempre pode mudar no futuro. “Sem revelar muito, o campeonato nacional australiano deste ano explorará algumas dessas oportunidades”, sugere Tim.
Embora ainda saibamos muito pouco sobre o novo formato baseado em pontos de várias rodadas, ele pode ter um grande impacto no World AeroPress Championship daqui para frente. Os concorrentes podem, no entanto, usar a nova AeroPress Clear. Isso poderia ajudá-los a observar mais facilmente como o café moído interage com a água durante a infusão. E assim, potencialmente, exercer mais controle sobre as variáveis de extração. Como resultado, eles podem ser capazes de preparar um café melhor e aumentar suas chances de ganhar – desde que sua receita seja regulada corretamente.
Parece que o WAC continuará sendo uma das competições mais divertidas, criativas e inclusivas do setor de cafés especiais. Por sua vez, cimentou seu lugar como um dos eventos mais emocionantes que acontecem todos os anos.
Mas quanto ao que mais o futuro reserva, teremos que esperar e ver o que acontece na Austrália em dezembro.
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Créditos das fotos Mavick Media, Shane Gallagher
Tradução: Daniela Melfi.
PDG Brasil
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