13 de novembro de 2023

Por que há cada vez mais cafés colombianos no World Barista Championship?

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O World Barista Championship tem sido usado como plataforma para mostrar alguns dos cafés mais interessantes e únicos do mundo. Nos últimos anos, vimos cada vez mais concorrentes usarem variedades de arábica “esquecidas” – ou mesmo diferentes espécies de café – em suas rotinas.

Analisando especialmente esses cafés, uma das tendências que podemos notar é que muitos são provenientes da Colômbia. Embora o país certamente tenha uma reputação de produzir café de alta qualidade, parece que um número pequeno, mas crescente, de agricultores colombianos está vendendo variedades e espécies mais raras e menos conhecidas – que têm sido utilizadas por muitos concorrentes da WBC.

Além disso, muitas das geshas usadas nas WBC nos últimos anos também foram cultivadas na Colômbia. Então, por que os cafés colombianos se tornaram tão populares em competições? E é provável que essa tendência continue no futuro?

Para descobrir, conversei com Elias Bayter no Forest Coffee, Maria Alejandra Escobar Huertas no Café Granja La Esperanza e Daniele Ricci, vice-campeão do World Barista Championship de 2023. Continue lendo para saber o que eles têm a dizer.

Você também pode gostar do nosso artigo sobre se as competições de café estão se parando de usar a Gesha.

Mãos de um trabalhador colhendo cerejas de café

Quais são as veriedades de café cultivadas na Colômbia?

De acordo com a Organização Internacional do Café, a Colômbia é o terceiro maior produtor de café no mundo, além de ser o maior produtor de arábica. Estima-se que mais de 550.000 famílias de pequenos agricultores cultivem café em 17 regiões diferentes do país.

A Colômbia também é conhecida por produzir variedades de arábica de alta qualidade e bem equilibradas consistentemente. As temperaturas ideais de crescimento do país, as altas altitudes, o acesso abundante à água e o rico solo vulcânico resultam em condições ideais para o cultivo de excelentes cafés.

As variedades comuns de arábica cultivadas na Colômbia incluem:

  • Typica – uma das variedades de arábica mais importantes genética e culturalmente do mundo;
  • Bourbon – produz excelente qualidade de xícara quando cultivado em altitudes elevadas;
  • Caturra – mutação natural do Bourbon, com bom rendimento e potencial de qualidade da xícara;
  • Castillo – variedade arábica mais comum na Colômbia, desenvolvida por sua resistência à ferrugem.

Além de produzir variedades de alta qualidade, um número crescente de cafeicultores colombianos começou a usar métodos de processamento mais experimentais para melhorar ainda mais os perfis sensoriais.

Barista que usou cafés colombianos durante apresentação no WBC 2023

Porque há mais competidores usando cafés colombianos no WBC?

Em eventos de prestígio como o World Barista Championship, os profissionais do café usam algumas das variedades de arábica mais exclusivas e de maior pontuação há muito tempo para mostrar seus perfis de sabor únicos e desejáveis. No entanto, nos últimos anos, parece que mais e mais concorrentes escolheram cafés colombianos para suas rotinas.

Elias Bayter é co-proprietário da El Vergel Estates em Tolima, Colômbia. Ele também é sócio-gerente e diretor de processamento da Forest Coffee – uma exportadora de cafés especiais colombiana. Segundo ele, muitos concorrentes do WBC passaram a usar cafés colombianos porque a abordagem aos métodos de processamento evoluiu significativamente no país. “Além disso, há muita diversidade em termos de variedades, clima e topografia que nos fazem um dos principais produtores mundiais de cafés qualidade.”

Quando vimos cafés colombianos no palco do WBC?

Olhando para o World Barista Championship nos últimos anos, muitos concorrentes notáveis usaram cafés colombianos. Incluindo:

  • o barista italiano Daniele Ricci, que ficou em segundo lugar no WBC de 2023. Daniele usou uma mistura de Gesha e Caturra da Finca Milan;
  • o australiano Jack Simpson, que ficou em terceiro lugar no WBC de 2023. Jack usou Ombligon – uma variedade de arábica relativamente desconhecida – da Finca El Diviso;
  • o campeão barista dos EUA deste ano, Isaiah Cheese, que usou o Pink Bourbon proveniente da Finca Bella Vista;
  • o barista campeão mundial de 2022 Anthony Douglas, que usou Sidra também da Finca El Diviso;
  • o primeiro colombiano a vencer o WBC, o campeão de 2021, Diego Campos, usou Coffeea eugenioides – uma espécie de café “esquecida” da Finca Inmaculada, apontada como a nova queridinha do café especial;
  • vários outros concorrentes usaram eugenioides colombianos no WBC 2021, incluindo a vice-campeã Andrea Allen e o australiano Hugh Kelly, que ficou em terceiro.

Maria Alejandra Escobar Huertas é diretora de marketing do Café Granja La Esperanza – uma importante fazenda de café na Colômbia. Como Elias, ela também acredita que novas técnicas de processamento têm levado mais concorrentes da WBC a usar cafés colombianos. “Não só as novas variedades ajudam a aumentar a popularidade dos cafés colombianos, a inovação no processamento pós-colheita também é fundamental”, diz.

Os cafés colombianos de destaque atualmente são de quais variedades?

Embora a Colômbia já seja conhecida por produzir variedades de alta qualidade como Castillo, Typica, Bourbon e Caturra, um número aparentemente crescente de cafés mais exclusivos e de alta qualidade tem surgido recentemente no país. Juntamente com a Gesha – da qual a Colômbia está começando a cultivar cada vez mais, há outras variedades e espécies raras produzidas na Colômbia:

  • Sidra – desenvolvido usando variedades nativas de Etiópia e Bourbon;
  • Pink Bourbon – um híbrido entre o Bourbon Amarelo e o Bourbon Vermelho;
  • Ombligon;
  • Eugenioides;
  • Java – uma seleção de uma variedade etíope chamada Abysinia introduzida pela primeira vez na América Latina no início dos anos 90;
  • Pacamara – originada de um cruzamento entre Pacas e Maragogype, e conhecida pelo grande tamanho do grão;
  • Sudan Rume – variedade rara de Bourbon, notavelmente usada pelo campeão mundial de baristas de 2015, Sasa Sestic.

“Alguns produtores colombianos começam plantando Gesha e Pink Bourbon como novas variedades em suas fazendas”, diz Elias. “Há também muitas mutações naturais, que podem rapidamente se tornar parte das variedades promissoras porque são mais excepcionais.”

Daniele Ricci é barista do MAME Coffee em Zurique, Suíça. Ele conta que provou muitas variedades da Colômbia, e o padrão de qualidade é incrível. “Tive a oportunidade de experimentar Pink Bourbon, Sidra, Mokka, Sudan Rume e, claro, Gesha e Caturra – que usei na minha rotina da WBC de 2023.”

Produtores “famosos” de cafés

Além de variedades com excelente potencial de xícara e métodos de processamento inovadores, a Colômbia abriga algumas das fazendas de cafés especiais mais conhecidas mundo afora. Muitos concorrentes da WBC adquiriram cafés dessas propriedades, ajudando a estabelecer ainda mais sua reputação. “Um café de La Palma e El Tucan venceu o WBC de 2019, enquanto a Finca Las Nubes venceu em 2021 e El Diviso em 2022”, diz Daniele. “Também usei cafés da Cafè Granja La Esperanza em três competições nacionais e acho seus cafés incríveis.”

Elias diz que o trabalho árduo e a dedicação dos produtores de café colombianos os ajudaram a se tornarem mais reconhecidos na indústria internacional de cafés especiais. “Acho que essas fazendas são bem conhecidas porque se concentram no desenvolvimento de cafés de alta qualidade, usando métodos de processamento inovadores e cultivando novas variedades”, explica ele. “É muito trabalho duro, mas as competições são uma maneira de os agricultores mostrarem seus cafés.”

Cafés colombianos da Finca La Granja Esperanza em tanque para fermentação

Essa tendência deve continuar?

Com a inovação crescendo de forma acelerada no setor de cafés especiais da Colômbia, é seguro assumir que muitos competidores do WBC continuarão a usar cafés colombianos. “A Colômbia cultiva cafés excelentes, mesmo sem usar técnicas experimentais de processamento. Mas as novas técnicas emergentes também influenciam os competidores, como qualquer outra alteração de regras feita durante o ano da competição. Além disso, estimula os produtores a investirem em novas práticas de colheita e processamento”, diz Danielle.

Elias concorda, dizendo: “Acho que uma nova tendência que se tornará mais popular é que as fazendas desenvolvam suas próprias variedades plantando sementes da mesma árvore por cinco gerações. Isso é para torná-la uma mutação natural exclusiva da fazenda. Há muitos produtores na Colômbia que vêm aplicando os métodos de processamento de uma maneira realmente inovadora. Isso desde os menores até os maiores fazendeiros. Isso dá mais vantagem aos concorrentes da WBC que usam esses cafés.”

Com um foco tão proeminente na Colômbia, mais e mais eventos inovadores da indústria estão ocorrendo no país, como o PRF Colômbia, que aconteceu nos dias 14 e 15 de setembro de 2023 na Plaza Mayor em Medelim. Por sua vez, a reputação da Colômbia como um dos principais produtores de arábica de alta qualidade continuará a crescer.

Maria, por sua vez, diz que a Colômbia está começando a cultivar mais cafés “boutique” semelhantes ao Panamá e El Salvador. E isso solidifica ainda mais seu lugar como uma origem popular para os concorrentes da WBC. “Graças à rica história de produção de café do país – bem como às muitas regiões de cultivo – continuaremos a inovar e evoluir”, acrescenta..

Outros países que merecem destaque no WBC

Além da Colômbia, o Panamá tem sido um dos favoritos entre os competidores do WBC há um bom tempo. Produzindo alguns dos melhores Geshas do mundo, os cafés panamenhos são valorizados por seus perfis de sabor delicados e complexos. E,justamente por isso, têm um bom desempenho no palco da competição.

Mas existem países produtores que poderíamos ver mais no World Barista Championship? “Alguns países da América Central e do Sul, como Guatemala e Equador, produzem cafés de excelente qualidade”, diz Maria. Daniele, por sua vez, afirma: “O Brasil definitivamente provará que não produz apenas quantidade. E alguns países produtores da Ásia-Pacífico também podem se popularizar”.

Elias, produtor colombiano, proprietário da Finca la Granja Esperanza

A Colômbia certamente tem potencial para continuar sendo uma das favoritas entre os competidores do World Barista Championship – especialmente com tantas variedades novas de arábica e métodos de processamento emocionantes.

No entanto, ao mesmo tempo, também precisamos prestar atenção a outros países produtores na América Latina e outras regiões– e ver se eles também podem construir uma reputação semelhante à da Colômbia.

Gostou? Em seguida, leia nosso artigo sobre a linha final da PRF Colômbia.

Créditos das fotos: Specialty Coffee Association, Café Granja La Esperanza

Tradução: Daniela Melfi.

PDG Brasil

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